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Diversas marcas brasileiras já ganharam relevância mundial, entre elas Havaianas, Granado, Mormaii, Tramontina (que na Argentina virou sinônimo de faca de serra), Embraer e muitas outras.
Mas, quais elementos são fundamentais para que uma marca brasileira no cenário mundial? Para responder essa pergunta, convidei o especialista em marketing Betinho Cesar, fundador da OAK Marketing e Cônsul da Turquia no Brasil, com 15 anos de experiência trabalhando com marcas locais e globais.
Confira a entrevista na íntegra:
Diego Godoy: Marcas como Havaianas, Granado, Mormaii, Tramontina e Embraer são lembradas internacionalmente. Na sua opinião, quais são as grandes marcas do Brasil?
Betinho César: Todas as marcas mencionadas são indiscutivelmente marcas brasileiras que alcançaram o patamar de globais. Gosto da história e do posicionamento de cada uma delas, mas para mim, a grande marca brasileira hoje é a Arezzo & Co.
Fico diariamente impressionado com a constância e capacidade de realização que o Alexandre Birman, CEO da companhia, tem sobre essa empresa e suas marcas e o quanto isso se reflete em crescimento global sustentável.
A Arezzo & Co. ocupa o primeiro lugar no pódio, na minha opinião, pela virtude de conseguir se mostrar brasileira, cool, mas sem ser caricata. Se eu fosse resumir esse comentário em uma frase, diria que a Arezzo tem bossa, ao invés de ter samba. O samba é aquela lembrança popular, clichê do Brasil. A bossa nova é a música brasileira que toca nos melhores hotéis e restaurantes do mundo de forma quase imperceptível, não porque não agrade, mas porque já é parte do contexto, parte da atmosfera.
Quando uma mulher passa por uma loja da Schutz na Quinta Avenida de Nova York com a campanha da Marina Ruy Barbosa, entra na loja porque gosta do produto, da comunicação, do olhar up-to-date com a moda e não porque é uma marca brasileira. Para mim, esse é o caminho a ser percorrido por qualquer marca brasileira que queira se tornar global.
Diego Godoy: Ao que devemos o sucesso de marcas assim? Estratégia de comercial de expansão internacional unida a um marketing nacional ou o produto/serviço por si só se torna objeto de desejo e cruza fronteiras?
Betinho César: Objeto de desejo, definitivamente. O que se resume em produto. Como alguém que vive marketing dia e noite, digo que até dá pra vingar um produto bom com publicidade ruim, mas o contrário não é verdadeiro. De nada adianta a boa publicidade de um produto ruim, não se sustenta.
Quando algo é bom de verdade, é bom aqui, na Turquia, onde for. Só depois é que vem, como fatores secundários necessários para organização de qualquer tipo de negócio, a precificação adequada, o posicionamento digital regionalizado e a escolha bem pensada de pontos de venda. Sem produto, sem objeto de desejo, nem adianta começar.
Diego Godoy: O que o Brasil pode exportar de melhor na era digital com metaverso, inteligência artificial etc?
Betinho César: Criatividade. Brasileiro sabe driblar bem a vida. Encontra um problema e resolve com ginga. Bate na trave e tenta de novo, com outro olhar. Isso é inerente a nossa cultura, é o fator chave de nosso sucesso. A indústria publicitária brasileira não à toa é considerada uma das melhores do mundo. Profissionais com quem comecei a carreira estão hoje liderando agências globais em Nova York e no Oriente Médio. Nossa criatividade vale muito e pode ser aplicada a muitas outras áreas, além da publicidade. Inclusive ela merece ser usada para outros fins, principalmente através do empreendedorismo.
De dinheiro e fundos de investimento, o mundo tá cheio, mas é a criatividade para novos produtos e serviços que paga a conta e faz a economia girar.
Diego Godoy: Com essa visão fica muito claro que a resposta é "Pessoas". A força de Alexandre Birman na Arezzo & Co. e de outros líderes comandando seus times e empresas, assim como a citada criatividade do brasileiro são oriundas e dependentes do talento, da visão e da persistência de pessoas certas nos lugares certos.
*Diego Godoy é headhunter na MUUDA.work. Trabalhou em empresas multinacionais do segmento de serviços profissionais como PwC, Michael Page e Walt Disney Company. Também é fundador do Projeto Um Por Cento, reconhecido como iniciativa oficial pelo ACNUR e que trabalha na recolocação de refugiados no mercado de trabalho do Brasil. Foi eleito LinkedIn Top Voice em 2021 e um dos profissionais de RH mais influentes do Brasil em 2022 pelo RH Summit.