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[que fase]

CARREGANDO :)

Vivi aventuras musicais/ antropológicas nos últimos dias. Algumas, mais divertidas até do que imaginar o discurso de Carlinhos Brown no Oscar – que acontecerá caso a sétima trombeta do apocalipse realmente soe e a trilha sonora de Rio seja premiada.

Uma delas foi ir ao James Bar acompanhar a final da Batalha de Ipod. O evento, nunca tinha visto de perto, é uma discotecagem do século 21 – nada de vinil ou CDs, só aparelhinhos — em que a música ganha um caráter competitivo. É um jogo por equipes.

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Cada uma, alternadamente, escolhe três músicas. Os times que caírem no gosto do público, que se manifesta através de gritos, gestos, caretas e até palavrões de incentivo, avançam à próxima fase. É assim até a final. Para as equipes, vale apelar com utensílios, perucas, indumentárias duvidosas. E é um troço divertido, acredite, apesar da conclusão que chego no desenrolar desse texto.

Imagino que seja necessário pensar em algum set list previamente. “Vamos abrir com essa, depois vem aquela outra.” Mas é preciso uma boa dose de improviso e timing para, por exemplo, reverter uma situação de adversidade, em que a outra equipe mandou bem com alguma pérola escondida. Ou, no pior dos casos, tocou a mesma música do time pelo qual você dá o play. E aí, a que (a quem) recorrer? Rihanna e Lady Gaga, por supuesto.

Fiquei um bom tempo dentro do bar. Ouvi muita coisa. Muita coisa incrivelmente ruim, e fiquei mais perto de acreditar que o rock está se afastando cada vez mais do mainstream. Pois agora, se não está nas rádios nem na MTV, também não está em boa parte dos Ipods da “galera”.

Se não estou enganado, eram oito as equipes. Só se ouviu rock com uma delas, a Defenestrando, que botou pra rodar Blur e ousou demais com Los Hermanos. De resto, tudo aquilo que é plastificado, e se confunde entre si. Rolou até sertanejo, mas o pior mesmo é ter de escolher um clichê qualquer como Lady Gaga para tentar se sobressair. É recorrência pura, a prova da falta crônica de criatividade e de bom senso estético. Ausência de vontade de mudar, de ter uma postura confrontadora em relação ao que é imposto — um dia os jovens já foram assim.

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Entendo que em eventos como esse não é necessariamente o gosto musical que está em jogo, mas o repertório, o leque de possibilidades. A surpresa, enfim, que arrancaria um grito de quem estivesse indeciso sobre qual equipe apoiar.

Considerando que os integrantes dos times têm praticamente a mesma idade – são jovens de vinte e poucos anos –, chego à conclusão cataclísmica de que apenas 1/8 dessa turma tem jeito. No fim das contas, uma equipe chamada Glitter venceu a pendenga, não sei com que música. O rock, ao menos por aqui, está 7/8 morto.

Bumbum
Sobre a Gretchen no Wonka – realmente foram muitas as aventuras ultimamente! – escrevi esse texto aqui descrevendo essa noite incomum. Alguns me retornaram, dizendo que estava quente mesmo, que não conseguiram ver a “diva” de perto. Via facebook, alguém perguntou quem seria o próximo a fazer a transição do “brega/pária artístico para o descolado e alternativo”. Torço para que seja o Odair José – já pensou cantar “Cade Você” a toda voz em uma James Sessions? — mas sinceramente acho que o caso Gretchen é isolado e não se constitui em um hype só porque ela rebolou em um espaço normalmente alternativo da cidade. Se “Conga, Conga, Conga” fosse ouvida na Woods, por exemplo, o bafafá seria o mesmo.