| Foto:

Eles são como aquela tia que nos visita vez em quando, para a qual dizemos, por pura educação, “ah, venha mais vezes”. São iguais a um time simpático, embora sem projeção, que ostenta uma estrela — prateada — na camisa. Podem ser comparados, talvez, a um filme que você nem gosta tanto. Mas que faz questão de rever por causa de uma cena ou outra, que te tira do chão.

CARREGANDO :)

O grupo inglês Elbow teve um azar danado ao dar as caras em 1990, justo na época em que o britpop estourava. Em seus cinco discos, entretanto, compilou algumas obras primas que o credenciaram a ocupar, em um futuro próximo, o posto que é Radiohead – isso se a banda de Thom Yorke não estivesse sempre à frente do tempo.

Na Inglaterra, todos os seus discos figuraram no TOP 20 na época de seus lançamentos, e sete dos singles estiveram entre as quarenta músicas mais ouvidas na terra da rainha. Com o álbum The Seldom Seen Kid (2008), a banda deu mais um passo para sair do pseudoanonimato, já que venceu o prêmio Mercury.

Publicidade

Com Build a Rocket Boys!, álbum recém-lançado no Brasil pela Universal Music, o grupo do rechonchudo vocalista Guy Garvey demonstra maturidade para ser a bola da vez – apesar de o Elbow e seu indie-art-rock estarem à sombra de outros grupos de Manchester, maior cidade perto de Ramsbottom, onde a banda teve origem.

A mensagem essencial de Build a Rocket Boys! parece ser um lamento tristonho sobre a passagem rápida do tempo. O Elbow de hoje quase soa envelhecido ou anacrônico. Mas, se colocarmos na balança a boa combinação entre simplicidade e sinceridade, característica da banda desde seu ótimo debute Asleep in the Back (2001), entendemos um pouco mais esse novo momento do quinteto inglês.

O Pista 1 conversou por telefone com Richard Jupp, baterista da banda, que estava na sua casa, numa cidadezinha ao lado de Manchester. E ele logo se saiu com essa frase quase paradoxal,que confirma que a água que os músicos de lá bebem é mesmo diferente.

“Não importa o quão grande sua banda seja. Sempre tem uma maior em Manchester”, disse ele. Parte da história dessa região, onde todos os integrantes do grupo viveram sua infância e adolescência, é o cerne do novo disco.

Publicidade

“Para compor, ficamos na ilha de Mull por algumas semanas e relembramos do passado. Toco bateria desde os seis anos e conheci os outros caras na escola. Foi incrível olhar para trás com a ajuda da música”, conta Jupp.

Talvez por isso o novo disco seja extremamente melancólico e poético. A ideia inicial para o álbum, diz Jupp, começou com “Jesus is a Rochdale Girl”, peça minimalista com um quê de Brian Eno baseada em um poema que Garvey escreveu, ora, sobre seu primeiro amor.

“Para ser honesto, é mais fácil escrever sobre coisas tristes. A música pop está cheia de artificialismos baratos que não duram”, cutuca o baterista.

A segunda faixa, “Lippy Kids”, confirma o posicionamento reflexivo da banda. A música já virou um pequeno hino, e é daquelas que crescem a cada audição. Mas alto lá porque nem só de introspecção vive o Elbow.

Publicidade

Em boa parte do tempo que passaram compondo o novo disco, o grupo viu as manifestações e protestos que tomaram conta de várias cidades da Inglaterra. Recapitulando: os confrontos encabeçados por jovens ingleses começaram com a morte de Mark Duggan, um rapaz negro de 29 anos, pai de quatro filhos, assassinado pela polícia sob circunstâncias obscuras em Tottenham, norte de Londres. Houve saques, vandalismo e confrontos nas ruas – não só em Londres, mas em outras cidades da Inglaterra — por cerca de três semanas.
Para alguém sensível como Garvey, isso foi um prato cheio para novas inspirações.

“Vimos o que estava acontecendo com quem saiu às ruas. E isso foi um pouco triste, mas não necessariamente ruim. Acho que daqui a algum tempo as pessoas vão olhar para trás e pensar: essas pessoas fizeram algo a mais. E melhor”, disserta Jupp, com clareza impressionante e sotaque desafiador.

E por mais que você não vá correndo baixar Build a Rocket Boys!, provavelmente irá ouvir pelo menos uma música do Elbow nos próximos meses. Pois o grupo foi o escolhido pela rede de tevê britânica BBC para gravar o tema de transmissão das Olimpíadas de Londres, que começa no dia 27 de julho. God Save Elbow.

“O sucesso [com o prêmio Mercury] me fez viver em uma casa melhor, talvez. O prêmio foi incrível. Mas não mudou muito. O Elbow é assim. Já fizemos isso. O sucesso é diferente para nós. O encaramos como uma responsbilidade para continuar a fazer música.”

Publicidade

“Tenho muito respeito pelo Radiohead porque eles são uma banda de massa mesmo não fazendo algo puramente comercial.”

“Sim, nós fizemos uma cerveja lager com o nome da banda. Há em um pub perto de Manchester. Vendeu bem, até. Não sei se tem mais. Vou lá hoje e verei isso.”

“Manchester é uma cidade miseravelmente boa e rude. Nos últimos anos vemos as ruas cheias, há muitas pessoas fazendo muitas coisas. São cerca de 150 clubes aqui, então nunca falta lugar para tocar, embora não toquemos muito. Lembro de um tempo bom em que costumávamos ver shows de Oasis e James, por exemplo.”