Acaba o show e, mesmo antes do agradecimento final de Alexandre Kumpinski, vocalista da banda Apanhador Só, uma garota sai em controlado desespero à caça de um set list que estava ali, estirado no chão do Teatro Paiol. “Posso pegar?”, pergunta ela. “Claro”, afirma Kumpinski, balançando a cabeça afirmativamente.
Além de agitadas e levemente perigosas, as “Maria-set-list”, como definiu um amigo, são sinais emblemáticos do sucesso de uma banda. Pois só depois de determinado tempo de estrada alguns grupos proporcionam essa vontade nos outros: a de levar para casa um registro, um pedaço da história do show.
Em sua segunda apresentação no Teatro Paiol, em Curitiba – o espaço ficou lotado mesmo com a chuva e o frio da noite de sábado — os gaúchos do Apanhador Só fizeram um show redondo, justo, na medida, que comprovou seu lugar indiscutível na nova cena do rock brasileiro.
A inquestionável “Um Rei e o Zé” foi a primeira. Na sequência, as outras músicas do disco homônimo, lançado em 2010. E a criatividade se faz nos detalhes. Como a banda vem tocando as mesmas músicas desde o lançamento do álbum, no show, quase sempre elas começavam ou terminavam de forma diferente, proporcionando novas sensações aos ouvidos de quem já conhecia e cantava todas de cor.
Presentes foram a ótima “Torcicolo”, pedida por alguns fãs, e a hipnose criada com “Salão de Festas”, lado B do EP Paraquedas, lançado na ocasião.
Há que se falar de 1) o inventivo guitarrista Felipe Zancanaro, um show à parte. Mesmo em músicas mais calmas, em que a canção prevalece, sua guitarra pesada se sobressai de forma interessante.
E 2) da fria em que se meteu – e se livrou – o baterista André Zinelli, que substitui o virtuose Martin Estevez. O show do Paiol foi apenas a segunda apresentação do músico com a banda. E tudo correu bem.
Detalhe interessante é a postura de Alexandre Kumpinski no palco. O vocalista parecia até inseguro, tímido. Nos momentos de afinação dos instrumentos, por exemplo, em que o silêncio predominava, parecia não saber muito o que fazer. Mas o seu jeito contido, que contrasta com sua guitarra verde-grama-molhada, acaba sendo um ingrediente a mais se pensarmos no quarteto como um todo.
Alexandre também driblou uma corda marota que arrebentou na penúltima música, e deu prosseguimento ao show se virando como podia.
O projeto de financiamento coletivo do segundo disco entra logo no ar. E a expectativa é das maiores.
Zebra no Zebra
Mais tarde, no Espaço Cult, aconteceu a primeira edição do Zebra Stage, evento da recém-criada produtora curitibana Zebra Music. A atração principal, depois de Cassim e Rosie and Me, era Madrid, novo projeto da ex-Bonde do Rolê Marina Vello e do ex-Cansei de Ser Sexy (CSS) Adriano Cintra. Mas deu zebra.
Às 23 horas, Nevermind rolava no som ambiente da casa, fazendo com que a turma nascida nos anos 80 relembrasse da sua adolescência. Aí surgiu um cheiro de queimado e o CD começou a pipocar. Era um sinal de que algo não ia bem.
O show do Cassim foi o melhor da noite. Cassiano Fagundes voltou com tudo, montou uma banda competentíssima e faz um rock sem firulas, utilizando muito bem alguns efeitos na voz e na guitarra.
O Espaço Cult estava mais cheio quando a segunda atração subiu ao palco. De acordo com a programação, era para ser Rosie and Me, mas quem estava lá era a Madrid. Segundo consta, a alteração foi “um pedido da dupla”.
O show foi monótono e visivelmente descompromissado. Adriano Cintra faz mais ou menos o que fazia no Cansei de Ser Sexy e Marina Vello tem uma postura incomodamente agressiva no palco – vale lembrar que os dois saíram de seus projetos originais de forma nada amigável.
Em alguns momentos, o som, um folk rock com mais peso e com piano, poderia incrivelmente ser confundido com Evanescence por alguém que tivesse tomado umas a mais. Ainda houve sérios problemas técnicos, o que comprometeu o que já estava meio sem salvação.
Passava de 2 horas da manhã quando a Rosie and Me subiu ao palco. E o show foi mais um desabafo do que qualquer outra coisa. Rosanne Machado é reconhecidamente uma pessoa pacata, serena. Mas, no palco, soltou os cachorros.
“Queria agradecer de novo o Madrid por ter ferrado a nossa noite”, disse a vocalista.
A inversão da ordem de apresentação contribuiu para o clima de revolta. E também a postura da Madrid, que passou o som por muito tempo – prejudicando a passagem de som dos outros grupos — e não autorizou que a Rosie and Me utilizasse a bateria “oficial” do show. “Sério, pessoal. Tá difícil aqui. É uma sacanagem isso. Só vamos terminar esse show por causa de vocês que estão aí”, continuou Rosanne.
A proposta de trazer shows em que bandas locais se apresentem ao lado das atrações nacionais de mais nome é muito válida. Mas a atenção tem que ser igualmente dividida entre os grupos, não importa de onde eles sejam.
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