No último domingo, a banda Sabonetes renasceu como Esperanza. Surgiu também um disco novo, produzido por Kassin, com músicas inéditas e uma nova sonoridade, que mistura o que o quarteto já tinha (um pop radiofônico) com pitadas tanto de rock 90 à pura canção brasileira.
Em matéria publicada na Gazeta do Povo de hoje, você lê sobre a história dessa mudança. Abaixo, a entrevista completa com o guitarrista e vocalista Wonder Bettin. “A cada dia que passa entendo que a essência somos nós mesmos.”
Por que o nome mudou?
Bom, o nome Sabonetes surgiu meio que às pressas. Precisávamos de um nome pra tocar na Vinhada [tradicional festa do curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Paraná] lá em 2004. E foi ótimo como aconteceu. Mas já havia um tempo em que tinha alguma discrepância rolando. Tínhamos a noção disso. Quando o novo disco ficou pronto, sentimos que era outra coisa. Na tentativa de uma capa para o álbum, até escrevemos Sabonetes. Mas não rolou, não era aquilo. Aí surgiu Esperanza, que é o nome de uma música. Um nome bom para o momento que estamos vivendo.
O momento representa o fim de uma fase e o começo de outra?
Pode ser. Mudar é inevitável, e aconteceria isso mesmo se não tivéssemos mudado de nome. Afinal de contas, não tínhamos músicas inéditas desde 2010. É uma nova etapa.
Por que Esperanza?
O Artur [Roman, vocalista e guitarrista] teve um sonho com essa palavra, em espanhol mesmo. Nós tínhamos uma música por fazer, que existia desde a metade do ano passado. A música estava sem letra. Demos para nosso amigo Pedro Metz letrar [vocalista da banda gaúcha Pública], e encaixou bem com o nome Esperanza. Aí virou o nome do disco, que virou o nome da banda.
Como foi o “retiro” antes da produção do disco, e no que ele ajudou?
Estávamos ansiosos para lançar coisas novas, então decidimos por um processo para catalisar isso. Aconteceu em fevereiro de 2012. Fomos para uma chácara [na região metropolitana de Curitiba] onde passamos 10 dias. De vez em quando um amigo ia nos visitar, e passávamos a maior parte do tempo ensaiando e compondo. Líamos, fazíamos almoço e tocávamos. Ali surgiu o embrião do álbum. Sete ou oito músicas aconteceram dessa forma.
Depois houve um contato com uma gravadora?
Sim, queríamos gravar logo e a Arsenal Music [de Rick Bonadio] demonstrou interesse. Mas não rolou um acordo. Decidimos gravar por conta e chamamos o Kassin para produzir. Ele se empolgou, ouviu o que já tínhamos gravado de forma caseira, e falou “tá muito pronto.” Mas aí não tínhamos dinheiro para pagar o cara, e fomos adiando. No meio disso tudo, surgiu outra conversa com outra gravadora que tinha visto um show nosso no Rio de Janeiro.
Que gravadora?
A Sony.
E não rolou também?
Não. Eles estavam passando por algumas mudanças internas, e iríamos ter que adiar a gravação. Nós estávamos com músicas prontas há meses, queríamos gravar o mais rápido possível.
Hoje em dia, recusar uma gravadora não é algo tão maluco assim…
É, existe um saudosismo, talvez, de quem já viveu a época das gravadoras. Mas hoje, não sei dizer as vantagens em estar em um selo se não houver investimento, grana.
E aí pintou o projeto no Catarse?
Sim. Financiamos o disco com a grana do público. Arrecadamos R$ 50 mil em um mês. De certa forma foi o respaldo do nosso público, que nos deu total liberdade. Pensamos “poxa, não temos chefe. Vamos fazer o que queremos.”
O que mais ouviram nesse período de composição e gravação?
Putz, muita coisa. Eu tive uma fase Wilco muito forte no fim do ano passado. Os quatro sempre ouviram muito Beatles. O Artur está ouvindo muito Clube da Esquina. Misturamos isso com coisas novas. O disco tem um pouquinho disso tudo.
O que há de Sabonetes na Esperanza?
A cada dia que passa entendo que a essência somos nós mesmos. Há músicas que remetem ao Sabonetes, como “Assalto”. E isso não é absurdo só porque mudamos de nome.
Pois é. A Sabonetes teve uma rejeição inicial, mas virou uma marca. E por causa de seu som, obviamente, fez grande sucesso entre o público adolescente. Para o disco novo, para a “banda nova”, pensaram em algo nesse sentido? De manter essa característica ou mudá-la?
Acho que não. Ainda nem éramos Sabonetes quando começamos a achar a nossa sonoridade. E tudo isso é um processo natural. Estamos quatro anos mais velhos. Nosso público também está. Acho que toda banda passa por isso.
Até agora, como está sendo a resposta do público?
Anunciamos a troca de nome no domingo [7]. Até a disponibilização do disco online, na madrugada, convivemos com o pior índice de rejeição da história da banda. Quando o disco foi lançado, o jogo começou a virar. Eles compreenderam essa troca, esse momento, que estamos vivendo há dois meses.
A rejeição do nome, antes de ouvir o disco, demonstra uma relação interessante, de fã mesmo.
Sim, um apego. Mas o principal é que nós temos muita confiança no que estamos fazendo agora.
Sobre a produção do Kassin. O que ele conseguiu imprimir no álbum?
Bom, foi ideia dele, por exemplo, gravar o disco ao vivo. E isso mudou a nossa vida. Chegávamos bem ensaiados, um olhando no olho do outro. Se alguém errava, parávamos e começávamos do começo. Se tinha barulho de alguma coisa, ficava assim mesmo. É meio como colocar as pessoas dentro da sala de gravação. No estúdio, ele é um cara muito experiente, que percebe muito as coisas. Parece que ele vive em outra frequência. O Kassin também resgatou uma música que ia ficar de fora, chamada “Sossegar”. E tem uma história engraçada. Gravamos ela uma vez, como teste. Aí, no dia seguinte, dissemos: vamos gravar pra valer. Foi um take, dois, três. E ele disse: vai o do ensaio mesmo.
A música “Sem Porquê” já tem clipe à vista?
Sim, está em processo de finalização. Vai ser em animação 3D e 2D. Um trabalho da Asteroide Filmes [Curitiba] em parceria com o estúdio Le Cube, da Argentina.
E como está a relação de vocês com Curitiba?
Adoro Curitiba. Sempre passamos alguns dias do mês por aqui. Para o trabalho é fantástico. Estou muito ansioso para o show do dia 2. Ansioso em poder mostrar um novo trabalho depois de quase quatro anos.
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