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Houve um pequeno festerê quando a banda Explosions in the Sky confirmou presença no Sónar 2013, que subiu mesmo no telhado e cancelou a edição deste ano. Seria um outro presente aos fãs de post-rock, que já haviam se embasbacado com a apresentação do Mogwai no festival do ano passado.

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Pouco tempo depois, porém, a banda do Texas confirmou dois shows em São Paulo. Os ingressos para as apresentações no Sesc Belenzinho, dias 22 e 23 de maio, acabaram em algumas horas. Via Queremos, a banda também toca no Circo Voador, no Rio de Janeiro, dia 26.

Uma das grandes do gênero, a Explosions, “triste e triunfante”, conquista ouvidos exigentes pelo equilíbrio entre conceito e prática. Suas músicas são narrativas, histórias com começo, meio, explosões, e fim. E também mini-sinfonias catárticas, que revelam guitarras exuberantes e uma química monstruosa, só compreendida ao ler a entrevista a seguir.

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“É difícil acreditar que já se passaram 14 anos de um relacionamento extremamente estável e feliz”, conta o guitarrista Mark Smith, que respondeu às perguntas por email de sua casa em Austin, Texas. O músico ainda falou sobre Sepultura, o maquinado método de composição da banda, o objetivo da música que fazem e revelou a história sensacional que deu início ao quinteto, que tem seis discos — o último é Take Care, Take Care, Take Care (2011) — e faz suas primeiras apresentações no Brasil em breve:

Onde vocês estão agora e o que andam ouvindo ultimamente?
Estamos em Austin [Texas] pela primeira vez em muito tempo. Nos últimos meses ficamos ‘espalhados’ por várias partes do país visitando pessoas e amigos diferentes. Vamos nos encontrar em breve para começar os ensaios para os shows. Então, não tenho visto os outros caras da banda recentemente. Não posso dizer o que anda tocando por lá. Mas eu tenho ouvido os novos álbum do My Blood Valentine e da Eluvium, e os dois últimos discos de uma banda aqui de Austin chamada Pure X, além de outras coisas como William Basinski, Merchandise e Andy Stott. E sempre escuto a uma quantidade absurda de álbuns e EPs da Burial.

Quais as expectativas para os primeiros shows no Brasil?
Ouvimos de uma porção de bandas que o melhor show de suas vidas foi no Brasil. E também ficamos sabendo que nossos shows em São Paulo esgotaram em algumas horas. Isso é impressionante. Não há expectativas, só entusiasmo.

A apresentação vai ser baseada no ultimo disco? O que podem falar sobre o repertório?
Tentamos tocar músicas de todas as nossas ‘eras’ em nossas shows. Não sei ainda como será o set list, mas deve incluir músicas de todos os discos com exceção do primeiro. Há algumas músicas que precisamos tocar em todas as apresentações porque as pessoas ficam bravas se não as tocamos…

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De maneira geral, como as pessoas reagem às suas músicas nos shows? Por que ouvir Explosions in the Sky é sempre uma experiência, mesmo nos fones de ouvido. Além disso, o que inspira vocês?
Outras músicas sempre foram, com certeza, uma grande fonte de inspiração. Tentamos inspirar as pessoas com nossa música da mesma maneira que fomos inspirados por nossos artistas favoritos. O mesmo acontece com filmes – assistimos e tentamos encaixar alguns dos sentimentos e imagens que vemos. Ainda mais que isso, é a nossa vida pessoal que nos inspira: amigos, família, amores e desamores, memórias, paisagens e até mesmo pequenos detalhes de nossa vida cotidiana. Acho que sempre estamos motivados a criar a música que queremos ouvir.

Há outras bandas que são referências no post-rock, como Mogwai, God is An Astronaut, Godspeed You Black Emperor!. O que faz a Explosions in the Sky ser diferente?
Mogwai e Godspeed surgiram um pouco antes de nós, e são bandas extraordinárias. Nós as ouvimos e as idolatramos ainda hoje. Nunca pensamos muito no post-rock como um gênero ou como nós nos encaixamos nesse gênero. Com certeza posso entender porque pessoas agrupam algumas bandas instrumentais que têm mudanças grandes e dinâmicas em suas músicas, mas apenas tentamos fazer da nossa maneira. Nos concentramos mesmo na composição das nossas músicas, que têm muitas partes diferentes, melodias, e queremos sempre que elas atinjam um inesperado lugar emocional.

Sobre as músicas longas – elas são quase como pequenas sinfonias. Qual o método de composição de vocês?
Antigamente nós nos metiamos em uma sala, alguém começava a tocar um riff, todo mundo se juntava tentando fazer alguma coisa baseada naquele riff, e aí víamos se tinha funcionado e para onde poderíamos ir a partir daquilo. De certa maneira, ainda fazemos isso, mas usamos computadores para ficar mais fácil. O que estamos fazendo recentemente (especialmente em algumas trilhas sonoras) é ir até a casa de Munaf [guitarrista], que tem um computador na sala de estar, para um de nós gravar um riff; depois, alguém vai até lá e grava algo mais em cima disso (começamos a fazer assim nas gravações do disco The Rescue). Essa maneira nos permite tentar algumas coisas que são mais difíceis quando tocamos ao vivo – usar samples e efeitos, por exemplo. Além disso, podemos criar as músicas de forma mais paciente e com um, dois ou três membros da banda. Também gravamos coisas em nossas próprias casas e enviamos muitos e-mails uns aos outros com essas gravações.

Como o Explosions in the Sky começou?
Foi há muito tempo, em março de 1999. Michael, Munaf e eu crescemos na mesma cidade no oeste do Texas [Midland] e já éramos amigos. Nos mudamos para Austin e queríamos começar a tocar. Um dia fomos a uma loja de música e vimos um flyer pendurado na parede que dizia: “Procura-se: banda de rock triste e triunfante.”. Ligamos para o número e no dia seguinte nos encontramos com Chris [baterista]. Comemos pizza juntos e falamos sobre filmes, música e aconteceu imediatamente. Algum tempo depois já começamos a tocar. Acho que escrevemos boa parte de uma música naquele primeiro dia, e criamos outras que seriam usadas em outras faixas na sequência. É um sentimento de extrema sorte, e ainda sentimos isso hoje – é difícil acreditar que já se passaram 14 anos de um relacionamento extremamente estável e feliz.

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Conhecem bandas brasileiras?
Para ser honesto, a primeira banda brasileira que vem a minha cabeça é Sepultura. Meio que fez minha cabeça quando eu estava no colégio. Ainda bem que agora podemos conhecer mais bandas, já que estamos indo para aí…

No Brasil há um selo de post-rock chamado Sinewave, que abraça um punhado de bandas. Você acha que o gênero pode ser tocado em qualquer lugar do mundo, ou requer algum tipo de exclusividade (Sigur Rós vem da gelada Islândia, Mogwai da não menos fria Escócia)?
Texas é insanamente quente, então não acho que a teoria do ‘lugar frio’ funcione muito bem (risos). Acho a ambientação de uma pessoa tem total impacto na música que ela toca, mas também acho que alguém de qualquer lugar pode tocar qualquer tipo de música.

Como vocês consomem música? Compram CDs, ouvem pela internet, compram LPs?
Já faz muito tempo que não compro CDs, mas todos nós gostamos de gastar algum dinheiro com LPs e MP3s. Sei que o Michael gosta muito do Spotify – por alguma razão eu sempre me esqueço disso e de todas as redes sociais musicais, e acabo não usando. Eu quase sempre compro MP3 primeiro, e depois, se eu realmente gosto daquilo, compro em LP também. Minha esposa e eu compramos um toca-discos antigo e legal (Magnavox, da década de 50, acho), e ouvimos ali os discos, que soam muito bem.

Pergunta difícil: qual o objetivo da música do Explosions in the Sky?
Sempre dizemos que é transportar o ouvinte… mudar o mundo pessoal daquela pessoa pelo tempo que ela está ouvindo nossa música ou vendo nosso show.

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