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Pélico apresenta no Teatro Paiol nesta sexta-feira (13), as músicas de Que Isso Fique Entre Nós, seu segundo e elogiado disco de estúdio. Mais sobre o artista e o show, você lê aqui.

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Abaixo, a entrevista completa com o paulista, que faz uma participação especial no novo disco de Tom Zé. Pélico, que é brega e não sabia, fala de seu momento de retiro em Buenos Aires, seu processo criativo e conta, entre outras coisas, que sempre quis tocar Guns N’ Roses. “Era um guitarrista medíocre e não conseguia tirar os riffs do Slash.”

Onde você está?
No estúdio em que eu trabalho, em São Paulo. Faço trilhas publicitárias, jingles e tal.

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Seu primeiro disco foi O Último Dia de um Homem sem Juízo, de 2008. Ele teve pouca repercussão, e ficou mais conhecido pelo boca a boca. O que pensa sobre ele hoje, quatro anos depois?
Bom, eu comecei a tocar profissionalmente em 2006. Quando lancei o disco, tinha uma pequena assessoria de imprensa, pequena mesmo. A divulgação acabou sendo no boca a boca mesmo. Eu tocava, fazia shows e falava do disco. Vendia até. Mandei ele para alguns blogueiros, mas foi tudo nessa coisa meio operária, na raça mesmo. O legal agora é que, com o disco novo, as pessoas estão redescobrindo O Ultimo Dia de Um Homem sem Juízo.

O álbum mais recente, Que Isso Fique Entre Nós, é “menos rock”, incorpora outros instrumentos e oferece arranjos bem trabalhados.Por que essa mudança? Foi pensado?
Quando terminei O Último Dia… estava muito envolvido com a estética do rock. E eu ainda gosto de toda aquela história. Mas realmente pensei: pra onde eu vou agora? Já tinha começado a compor as músicas do novo disco, e as canções pediam uma outra roupagem. Acho que foi sim uma opção, um processo racional. Tive que responder à pergunta ‘pra onde eu quero ir?’. As músicas pediam um outro caminho que não era mais o rock, a guitarra. Em Que Isso Fique Entre Nós há guitarras, mas elas são limpas. Tem um outro baterista também, Richard Ribeiro, que substituiu Marcelo Effori(Loco Sosa), do Los Pirata. E eu estava cansado de tudo aquilo. Frequento muitos shows a aqui em São Paulo e um dia falei para o meu produtor com o produtor: “tô meio cansado dessas guitarras barulhentas.” Pô, já são dez anos de influência ‘strokiana’, chega. Eu até poderia tentar pegar essas novas músicas e forçar um arranjo rock, mas estava de saco cheio mesmo. Mas posso voltar a usar guitarras numa boa, é só um momento.

O disco tem 16 músicas. Não é muito? Você ainda crê no álbum como um suporte eficiente?
Pois é, e O Último Dia… tem 15. Esse tem 16. E isso é uma coisa que não tinha parado pra pensar. Meu processo criativo é meio estranho. Assim que termino uma canção, vou e gravo. Mas tem coisas paradas pelo caminho. E isso é bom porque já faço uma seleção. Mas mostrei todas as 16 para o produtor (Jesus Sanchez), e ele disse: vamos gravar tudo. Mas várias pessoas me falaram que 16 era muito. Eu não tenho uma opinião formada sobre isso. Mas para o próximo disco, não sei se vou gravar tanto. Talvez seja um EP (risos). Mas acho que o disco, com 16 músicas, conta uma história. E isso é importante.

Qual a história dessas músicas?
As músicas do Que Isso Fique Entre Nós têm cerca de um ano. E muitas delas eu compus num período mais curto, em Buenos Aires. Não conhecia a cidade e me tranquei em um apartamento por 40 dias para compor. Pensei comigo ‘não vou falar pra ninguém, vai que eu volto de mãos abanando’. Mas me dei bem com esse isolamento. Tinha até a ideia de viajar pro Chile, Uruguai, mas pensei, ‘pô, tô compondo todo dia’.

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Esse ‘retiro portenho’ influenciou nas composições?
Já tinha algumas coisas prontas, então acho que essa viagem influenciou uns 70%. Os passeios pela cidade ajudaram muito, todo o clima e tal. Buenos Aires tem uma coisa meio paulista. Precisei disso pra me desligar e concentrar.

Algumas letras e músicas são intimistas e até tristes. Entretanto, você consegue retratar situações não tão agradáveis com leveza e até bom-humor. Qual o segredo?
Isso faz parte da minha personalidade. Sou otimista sim, (risos). Quando comecei a pensar no disco, já achava que o papo estava pesado, porque retratei parte de um período que vivi. Até meus amigos falaram “tá tudo bem? quer tomar uma cerveja?”. O primeiro disco também tem uma certa ironia. Eu gosto de falar sobre coisas que… que realmente aconteceram comigo. E muitas dessas coisas não foram legais, então falo de uma forma leve, buscando um certo equilíbrio em tudo e procurando não jogar tudo ainda mais no fundo do poço. Eu jogo a melancolia debaixo do tapete. Não gosto de deixar as coisas tão explícitas.

Você tem algo de brega, e isso é bom hoje, tá na moda. Mas na sua música também há um frescor indie. Quais foram suas principais influências, o que você mais ouviu na vida?
O brega, pois é. É uma coisa que eu nem sabia que tinha. Nunca ouvi nada do gênero, na verdade. Fui ouvir depois que começaram a falar. E ouvi muito os clássicos, Odair José, Márcio Greyk. A Patrícia Palumbo [jornalista do Estado de S. Paulo e apresentadora da rádio Eldorado] foi a primeira que disse isso eu botei reparo. Pensei ‘vou procurar saber quais são as minhas influências’. Porque eu venho da escola Beatles-Mutantes-Tom Zé. Mas talvez essa coisa do brega venha de outra forma… o disco que mais me marcou recentemente foi E o Método Tufo de Experiência, do Cidadão Instigado. Quando ouvi, enlouqueci. É uma maravilha. Isso mexeu muito comigo e é uma influência recente. Mas nunca ouvi brega intencionalmente. Lembro também quando eu era moleque. Minha mãe é costureira e ficava trabalhando em casa ouvindo o programa do Zé Bettio. Tocava Guilherme Arantes, Roberto Carlos – que sempre ouvi muito, aliás. Talvez tenha sido isso: ouvi quando era muito criança, era referência casual e aí aflorou de alguma forma com a ajuda do disco do Cidadão Instigado.

Como foi seu começo na música?
Fiz aulas, mas de forma pingada. Um pouco de guitarra, violão, canto, piano. Se somar tudo não dá um ano (risos). Montei uma bandinha com 13, 14. Anos. Era bobagem, tocávamos o que tocava no rádio. Nirvana. A gente ouvia muito Nirvana, tocávamos o Bleach inteiro. Pearl Jam também. Eu queria tocar Guns N’ Roses, mas era um guitarrista medíocre e não conseguia tirar os riffs do Slash. Mas eu já escrevia e a molecada não estava muito afim de compor. Aí acabou. Ah, depois tive uma banda cover de Iron Maiden. Até ser mandado embora.

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Qual a formação da sua banda hoje?
Jesus Sanchez (baixo), Toni Berkmann (sanfona e piano), Régis Damasceno (guitarra) e Richard Ribeiro (bateria). Normalmente são esses. No show de Curitiba, o Toni não vai e será substituído por outro pianista. Legal também é tocar com o Régis, o cara do Método Tufo…

Você se considera parte de alguma cena da música brasileira atual? Onde o Pélico se encaixa?
Me considero, sim. Acho que estou vivendo a mesma época que outros caras que estão fazendo algo legal. É difícil pensar na coisa da cena. Há literalmente um movimento, porque o troço movimenta muito mesmo. Mas tenho muita afinidade com o Rafael Castro, a Tulipa Ruiz, Felipe Cato, Thiago Petit. Somos amigos. E também com a Banda Gentileza (PR) e a Apanhador Só (RS). Existem muitas diferenças entre nós, mas muita vontade de fazer algo. Acho que essa ajuda mútua é uma grande marca da nossa geração, é uma coisa interessante e peculiar.

Você faz uma participação no novo disco do Tom Zé. Como foi isso?
Pois é. Fiquei sabendo que o Tom Zé estava querendo ouvir discos da galera mais nova e tal, para escolher algumas participações especiais. Eu mandei o disco, mas só por mandar. E rolou. Já gravei a música, e foi inacreditável. Me identifiquei muito e ele sacou que eu poderia contribuir. Músicos incríveis conseguem juntar técnica e intuição. O Tom Zé é um deles.

Quem mais participa do disco?
Ele também escolheu Rodrigo Amarante, Mallu Magalhães e Emicida.

Como vai será o repertório do show em Curitiba?
Vou focar mais no segundo disco, mas há três músicas do primeiro.

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Você conhece o Paiol?
Não. Mas já vi fotos e fiquei de cara com o lugar…