O Caderno G deste domingo (15) publicou uma matária sobre os 20 anos do disco Going Blank Again, da banda britância Ride — leia aqui. Abaixo, a íntegra da entrevista com Andy Bell — o ex-Oasis avisa que a Beady Eye volta ao Brasil em 2013 — e Mark Gardener, que recebeu um convite para tocar por aqui.
Vocês celebraram o 20º aniversário do disco Nowhere em um pub chamado Rusty Bicycle, bebendo e conversando. Como foi comemorado o aniversário de 20 anos de Going Blank Again?
Andy Bell — Eu nem tinha me ligado que era aniversário de GBA naquela noite até o pessoal avisar. Nós só saímos para tomar umas e conversar sobre várias coisas. Acho que nós fomos comer algo com curry na Cowley Road [movimentada rua de Oxford].
Mark Gardener — Não foi bem uma celebração, para ser honesto. Nós nos encontramos, como fazemos todos os anos, para ver como estão os negócios do Ride. Bebemos alguns drinks e fomos a um ótimo restaurante indiano. É sempre um prazer reencontrar os caras.
Como era a cena musical de Oxford no final dos anos 80?
A.B — Não tinha muita coisa acontecendo. A Shake Appeal era uma espécie de Stooges, e virou a Swervedriver. Os Wild Poppies foram aquela banda neo-zelandesa que se mudaram para Oxford para “acontecer” – o que foi ridículo, mas que nos deu motivos para boas gargalhadas e fez com que nos tornássemos amigos. Existia uma pequena cena de bandas indies com os mesmos integrantes – The Circles, Here Comes Everybody, Talulah Gosh, The Anyways… todos eles eram nossos amigos também, mas tudo isso era muito ‘local’. Ninguém tinha interesse em sair de Oxford até o Ride surgir.
M.G — Bem, muitas bandas se encontravam no New Inn, na Crowley Road. Havia um lugar chamado Co Op Hall que se tornou point. Tinha também o Zodiac, na Crowley Road. Todos esses lugares recebiam bandas da época, que começavam a tocar. Havia alguma coisa acontecendo com as bandas, mas, naquela época, não era muito uma cena musical. Havia os que despontavam, como Talulah Gosh, The Anyways e Shake Appeal, que virou a Swervedriver. Eu gostava dessas bandas e assistir ao show deles me animava ainda mais a fazer com que o Ride subisse logo no palco.
Ride foi uma das principais bandas da cena shoegaze. Hoje, como você descreveria os shows daquela época? Era mesmo tudo barulhento e “distante”?
A.B — Tivemos muita influência do Sonic Youth, MBV, Loop, Spacemen Three, House of Love. E também de outras bandas, principalmente o The Who – nós fazíamos cover de ‘I Can See For Miles’. Tudo isso acabou criando um estilo híbrido, talvez. Os shows ao vivo eram uma espécie de ‘agressão sonora’: o volume era importantíssimo.
M.G — Eram shows altos e animados. Os espaços eram pequenos e apertados. Foi uma época sensacional e maluca para mim.
Pensando agora, você está contente com a carreira do Ride? Ou talvez a banda poderia ter aparecido mais, ter chegado perto do mainstream?
A.B — Não. A história do Ride foi curta e doce. Autodestrutiva e perfeita.
M.G — Sou muito contente com a carreira do Ride. Fizemos música do nosso próprio jeito, vivemos no auge da vida e não havia como acontecer isso se fizéssemos música para o mainstream. Nós só fizemos o nosso negócio.
Vocês eram muito ambiciosos?
A.B — Extremamente. Eu via o Ride como um grupo pop, na linha dos Beatles. Nunca entendi porque nós não continuamos a crescer depois de ‘Leave Them All Behind’, mas isso acabou se tornando nossa meta.
M.G — Sim. Sempre fui ambicioso e sempre procurei por aventuras em minha vida.
Além da justa mistura entre vocais doces, guitarras barulhentas e bateria inquieta, a banda também é reconhecida por ter ótimas letras. “Wake up/ see the sun/ what it’s done is done”, (“No Fazed”), por exemplo, é simples e genial, quase um haikai. Vocês leem muito?
A.B — Hehe, obrigado. Sim, leio muito, e sempre tive influência dos livros que estava lendo no momento em que compunha.
M.G — Sim, líamos muito e ainda lemos.
Avançando no tempo: como você vê a atual cena musical da Inglaterra?
A.B — Na verdade não sei se as bandas que gosto vêm do Reino Unido, dos Estados Unidos ou Europa ou de onde seja. Acho tudo que quero de música ‘online’, na maioria das vezes procurando nos perfis das pessoas que compram as mesmas coisas que eu pra ver o que mais elas compraram. Gosto muito do que acredito ser as “american guitar bands”.
M.G — Não sei muito sobre isso, pois estou realmente ocupado com meu trabalho de mixagem e produção. Então, me concentro na música em que estou trabalhando no momento. Acho que há um punhado de artistas interessantes surgindo.
O shoegaze acabou?
A.B — Não. Aparentemente há uma cena propícia para o gênero – é o que eu ouço, enfim. Atualmente há inúmeras bandas que se autoentitulam shoegazers. E isso nunca aconteceu nos anos 90!
M.G – Não pelo que vejo e escuto. Acho que é mais popular do que nunca, embora não tenha a exata certeza do que o shoegaze significa hoje em dia.
Por que a banda acabou?
AB — Porque Mark deixou a banda e o resto de nós sentiu que seria errado continuar sem ele.
M.G — Nós não estávamos mais caminhando na mesma direção e com as mesma forças. Aquele não era mais um ambiente saudável.
Que legado Ride deixou para as bandas posteriores?
A.B — A beleza está nos olhos de quem vê, então não tenho certeza. Naquela época, senti que não deixamos sequer uma onda, uma continuação. Mas, assim que o tempo passou, acho que talvez tenhamos influenciado outros músicos em alguma extensão.
M.G— Bem, muitas bandas parecem ser influenciadas pelo Ride. Então acho que talvez seja melhor perguntar a essas bandas sobre o legado do Ride e porque elas são influenciadas por nós.
Poderia apontar alguma das bandas que você está ouvindo hoje em dia?
A.B — Coisas recentes incluem Black Angels, Metronomy, Django Django, Tame Impala, The Field, Peaking Lights, Cults, The Moons, Hippy Mafia, Azealia Banks, Joanna Newsom, Death In Vegas, Paul Weller.
M.G — O ultimo disco que comprei foi o mais recente do Bon Iver, que acho um grande disco. Outros são os discos de bandas com as quais estou trabalhando.
Como é trabalhar com Liam Gallagher? Você tem outros projetos além da Beady Eye?
A.B — Gosto de trabalhar com uma coisa de cada vez, então não tenho outros projetos no momento. Liam é um ótimo cara para se trabalhar, ele é muito talentoso como cantor e compositor — e é muito bom no violão, embora muitas pessoas não percebam isso…
Do que você sente mais falta no Ride?
A.B — Tenho muitas boas e más lembranças daquele tempo. Foi realmente um período incrível em minha vida. Não tenho desejo de voltar àquela época, mas foi uma grande experiência.
M.G — Sinto falta de ter 20 anos e ser um cara que faz shows com uma banda como o Ride. Mas não muita falta. Estou feliz “Here and Now” [música do disco NOwhere].
Tem planos de vir ao Brasil?
A.B – A Beady Eye estará de volta ao Brasil em 2013.
M.G — Acabei de receber um convite de um empresário, então talvez logo eu vá para aí. Gostaria muito.
O Ride planeja algum tipo de reencontro, um show, talvez?
A.B — Não há nada planejado.
M.G — Tenho shows solo planejados neste ano na Austrália e Nova Zelândia, e acabei de terminar uma turnê pela costa oeste dos Estados Unidos. Mas não há nenhuma reunião planejada.
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