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Exclusivo: Festival Next Big Thing e as bandas que você irá ouvir em breve
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Boa nova: o Pista 1 põe suas manguinhas para fora do país pela primeira vez. Mateus Ribeirete, estudante de Letras e apaixonado por música, neste momento bate o queixo em Londres. Entre um boneco de neve e uma Guiness, ele está acompanhando o Next Big Thing, um festival que tem como principal objetivo revelar bandas novas.

O evento é promovido pela HMV – loja inglesa de entretenimento baseada em “His Master’s Voice”, famoso quadro de Francis Barraud em que um cachorro escuta gramofone.

O Next Big Thing acontece de 2 a 12 de fevereiro ao mesmo tempo e em diferentes casas noturnas. O ingresso? Dez libras esterlinas por noite – cerca de R$ 27. Além de Londres, também há apresentações em Manchester, Birmingham e Edimburgo.
“São onze dias seguidos de atrações, e eu pude presenciar algumas delas – começando pela primeira data, 2 de fevereiro”, escreve Mateus.

Divulgação/ HMV

Em seus relatos, ele conta sobre o shows das bandas, faz entrevistas com os músicos e dá mais detalhes dos locais das apresentações.

Ainda não sabemos o que há na água do Reino Unido para que surjam tantas boas bandas de forma tão intensa. Então, talvez os grupos sobre os quais você irá ler aqui, estejam chegando no seu Ipod daqui a algum tempo. Aproveite e se antecipe.


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HMV, 02/02
Bandas: Folks, Admiral Fallow e We Are Augustines

A primeira noite que acompanho acontece no Borderline, clube escondido num beco curtinho em frente à livraria Foyles. De dia, com uma van estacionada na entrada, você nem o vê. O lugar não é grande; tem mais ou menos o tamanho do James Bar sem o piso superior. Ainda assim, lá já tocaram Blur, Pearl Jam e R.E.M. À esquerda do palco existe um balcão de cinco lugares que parece premiar aqueles ali estabelecidos, dando-lhes função de jurados.

Entro. Um segurança com sotaque do leste europeu diz que não posso levar a câmera. “Mas estou cobrindo o evento”, replico, e ouço que, com a máquina, nada feito. Tudo bem. Quando a primeira banda começa, às 19h50, a casa ainda não está cheia. Aos poucos ela passa a ser dominada por gente de 30, 40 e até 50 anos, interessada sobre o futuro da música da Inglaterra. Várias cabeças calvas (e câmeras!) aparecem por lá, notáveis como as tantas Red Stripe espalhadas — a cerveja jamaicana patrocinou o evento e foi requisitada.

Sem alarde, o Folks sobe ao palco e começa a tocar. Eles acabam de lançar I See Cathedrals, seu primeiro álbum, e andaram abrindo shows de Noel Gallagher e Miles Kane. Entre os seis integrantes está um guitarrista que é a cara do Johnny Marr. O vocalista se mexe como Liam Gallagher. A banda não esconde que vem de Manchester. “O que mais nos influencia é John Coltrane, Beach Boys e Radiohead”, me conta o tecladista Will Akroyd, que, com seu lenço cuidadosamente amarrado como gravata, parece um integrante do Kasabian.

O som deles logo lembra os irmãos Gallagher, e também o Stereophonics: bandas de vocais rasgados, postura rockstar e vontade de fazer hits. Quando recorrem às baladas, o nível não é o mesmo. O maior sucesso do Folks fica no rock clássico mesmo, catalisado em “Skull and Bones”, “Four and Twenty Blackbirds” e nos momentos instrumentais bem sincronizados.

Depois do show, Akroyd me conta dois fatos curiosos: o agente do grupo ia com Noel Gallagher na Haçienda — famoso clube de Manchester da década de 80 e berço da Acid House. Alem disso, ele (Akroyd) sonha em ver de perto o circuito de Interlagos, em São Paulo. A recepção do publico é boa. Infelizmente o show acaba prejudicado pelo horário, pois o Borderline só enche mesmo quando a segunda banda prepara seus instrumentos.

Às 20h50, os escoceses do Admiral Fallow começam a tocar seu folk incrementado. Os integrantes, todos com cara de “eu não sabia socializar, mas fazia poesia”, agradam de imediato o publico do Borderline. Ao fim da primeira musica, um rapaz já levemente embriagado berra “next big thing!!!” e todos riem, inclusive a banda. Os momentos de introspecção e seriedade do show, profundo na calmaria ilustrada pela flauta de Sarah Hayes, são quebrados por boas interações com a plateia. “Coloquem seus e-mails na lista para receber downloads”, grita o vocalista Louis Abbot. “Nem que seja um falso, por favor”, e todos riem novamente.

O timbre de Abbot remete à voz de Gary Lightbody, do Snow Patrol. Nos momentos em que Sarah também canta, até lembra “Set the Fire to the Third Bar”, que os norte-irlandeses lançaram com Martha Wainwright. A banda, no entanto, pouco parece com os autores de “Open Your Eyes”: é inevitável compará-los com Mumford and Sons. Seu álbum de estréia, Boots My Face, foi lançado em 2010 e relançado ano passado. “Squealing Pigs”, último single, não passou batido pelo publico, que também murmurou “Old Baloons”.

Pergunto à simpática flautista sobre o quão “grandes” eles gostariam de ser, e ela diz que “isso não é preocupante. Enquanto gostarmos de tocar e tiver gente ouvindo está ótimo”. A apresentação termina sem instrumentos, num coral afinado e em meio ao silencio absoluto de todos ali presentes – os escoceses já estão em casa. O Admiral Fallow deixou ótima impressão em Londres: quem viu o show certamente criou expectativa para o segundo disco.

Direto de Nova York, o trio We Are Augustines é a banda mais esperada da noite. “Eu vi esses caras ano passado e adorei. Tinha que ver de novo”, me explica o londrino Frank, que vai tentando arranjar lugar no já lotado Borderline. Rise Ye Sunken Ships, único álbum deles, foi muitíssimo bem recebido – e não por acaso. O disco, lançado ano passado, é criativo e dinâmico, por vezes sórdido, refletindo o mau momento dos integrantes no momento da gravação — como o suicídio do irmão de Billy McCarthy, vocalista e compositor.

A recepção do Borderline parece ser a de quem cumprimenta um velho conhecido: todos cantando a grande maioria do repertorio e batendo palmas apaixonadamente. Por sua vez, a postura do grupo me surpreende: o trio parece direcionado aos estádios. A voz forte e firme se faz sempre presente, acompanhada de notas altas da guitarra e um bumbo típico de hinos e músicas épicas. O We Are Augustines vai se distanciando da zona Glasvegas de gritos melancólicos e se aproximando com imponência de um Foo Fighters, enquanto os fãs deliram.

Curiosamente, a alternância de sensações do disco não parece a mesma do palco: a impressão é de que a performance busca o épico sem parar, tornando o show um pouco saturado. Os Augustines criam sobre si a necessidade de emocionar qualquer movimento. Se não tivesse escutado o Rise Ye Sunken Ships, não teria me interessado tanto. Não que os londrinos concordem, muito pelo contrario. O We Are Augustines foi aclamado do inicio ao fim, sem intervalos. Não será nenhuma surpresa encontrá-los em trilhas sonoras da televisão num futuro próximo.

Com o final já ciscando a meia-noite — e com ela o fechamento dos metrôs –, as pessoas não tardam a deixar o local. Alguns minutos depois, já na estação de Tottenham Court Road, ninguém parece se importar com o anúncio gigante do álbum de Lana Del Rey, e seu melhor-disco-que-ainda-nem-saiu da historia. Essa noite, apenas uma das opções do primeiro dia de HMV’s Next Big Thing, concedeu ao publico aquilo que ele nunca deixou de procurar: boas músicas, cerveja e uma volta tranquila para casa.

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