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Fomos a Recife: Tibério Azul e o Rec-Beat  2012
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Passei o carnaval em Recife, alternando momentos de música, graviola e sustos – tamanha a criatividade daquele povo para as fantasias da festa, que é levada muito a sério.

Acompanhei de perto o festival Rec-Beat, que acontece ininterruptamente há 17 anos. O evento de quatro dias é gratuito, conhecido por divulgar novas bandas da cena local, e também por dar espaço a quem é de fora e tem potencial.

Luiza Maia

Neste ano, por exemplo, tocaram o espanhol El Guincho, uma verdadeira festa viva, Silver Apples, norte-americano precursor da música eletrônica, e Criolo. Tudo isso acontece no epicentro de uma festa gigante que leva mais de um milhão de pessoas às ruas – o Carnaval Multicultural de Recife.

O palco do Rec-Beat é montado à beira do Rio Capibaribe, em um lugar chamado Cais da Alfândega. Curioso é ver a maré subir entre um show e outro. Impressionante é ver a estrutura montada pela prefeitura e o cuidado do povo com tudo aquilo.

Acompanhei diversos shows do Rec-Beat, mas dou destaque à apresentação de Tibério Azul – a cobertura continua nos próximos dias, com comentários sobre os outros artistas.

O recifense tocou na noite de sábado, na qual também estavam Stank (projeto formado pelo multi-instrumentista Yuri Queiroga e pelo DJ Dolores, que manipula tablets e telefones com guitarras e beats dançantes), Gang do Eletro (grupo paraense referência no tecnobrega) e Siba (veterano da cena pernambucana, que estava lançando Avante, seu último disco de estúdio, produzido pelo “arroz de palco” Fernando Catatau)– veja a lista dos outros shows lá embaixo.

Tibério Azul surgiu tal qual um repente nordestino. Como quem não quer nada, enxeriu Bandarra, seu primeiro disco solo, em diversas listas de melhores do ano de 2011. Ele tem cara de DJ da MTV, e é ex-membro da banda pernambucana Mula Manca & A Fabulosa Figura, que está em hiato. Com um punhado de canções na manga e a contínua colaboração de seus amigos do grupo de nome curioso, ele lançou Bandarra, o dito disco.

O álbum tem várias peculiaridades que o lançaram a um patamar de destaque, mesmo aqui no sul, distante de todo aquele sotaque musicado, daquelas cores e daquele carnaval. Tibério Azul tem um regionalismo velado, muito presente no acordeom que o acompanha. Velado porque, ao mesmo tempo que não foge de suas raízes, consegue avançar nessa sonoridade, apresentando nuances de jazz, principalmente devido às ótimas performances do baixista e do baterista.


A mistura é incrementada por uma prosa poética original, que brinca com jogo de palavras, (“Vamos ficar sol/ ‘sóis’ o dia inteiro”); filosofia cotidiana “Viver é deixar viver” e rimas auto-referenciais (“Quando Maria caiu no meu coração/ não tinha espuma era de barro batido/ não tinha palha de coqueiro para amenizar o sol/ era vermelho e só vermelho o coração”). O resultado é um disco realmente especial.

O show de Tibério foi o segundo da noite. Pontualmente às 21 horas, lá estava o loiro, com seu violão, acompanhado por Yuri Queiroga (guitarra), Thiago Fournier (baixo acústico), Lucas Araújo (bateria) e André Julião (acordeom). O lugar não estava completamente cheio, e pouca gente parecia de fato saber quem estava no palco.

Tibério tocou todas as dez faixas de Bandarra, e ainda emendou dois covers: um de Mutantes e outro de Raul Seixas. O show foi competente, mas, sem o piano presente no disco, pecou nos arranjos. Mais tarde, me encontrei com Tibério e ele me concedeu a entrevista abaixo, em que explica, magistralmente, o significado de Bandarra:

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Seu começo na música
“Na verdade, lembro de como comecei com a arte. Não existe uma data muito certa, mas acho que tinha de sete para oito anos. Minha mãe chegou em casa, estava chovendo, era aquela chuva que caía de lado. Eu estava na varanda, no cantinho, e quis proteger um caderno em que anotava algumas coisas, palavras, letras. Ela disse ‘meu filho, venha para a sala, você tá se molhando aí’. Eu lembro que disse ‘mãe, não vou. Tenho inspiração aqui’. Eu estava aprendendo a escrever. Desde que existo como gente…”

Desde quando você existe como gente?
“… haha, há 32 anos. Desde quando existo como gente lembro que escrevo. Com 15 anos, meu padrasto faleceu. Ele tocava violão em casa. Resolvi pegar, mas era um violão para canhoto. Comecei a fazer um nheco-nheco e achei divertido. Quando toquei em um violão normal, vi que era mesmo bacana. Por essa época, resolvi desviar meu lado artístico para a canção.”

A Mula Manca & A Fabulosa Figura acabou mesmo?
“Decidimos parar. Mas o Bandarra tem a participação de todos da banda. Se voltarmos um dia, vai ser para fazer outra coisa.”

O disco foi muito bem recebido…
“… isso é por causa das pessoas que estão ao meu redor. As letras, por exemplo: é fato que trabalho bastante nelas, mas me divirto fazendo isso. Muitas letras surgiram para canções de amigos. É nesse ponto que eu tenho mais paciência. Tenho uma letra que demorei dois meses para fazer. Cada dia colocava uma palavra diferente. E, sobre o disco, foi assim: a partir do momento em que me propus a fazer o álbum, passei a convidar muita gente [no disco há participações de Lula Queiroga e China]. Já me disseram: ‘seu maior talento é agregar.’ Então tentei dar o máximo de liberdade. Os metais, por exemplo, só ouvi na hora da gravação. Com o piano foi quase o mesmo, deixei tudo muito livre. A melhor forma é você abrir o coração e abraçar tudo o que vier.”

Que quer dizer Bandarra?
“Um amigo me presenteou com um livro do Manoel de Barros. Comecei a ler e me encantei. Aliás, três poetas me nortearam para esse disco: Manoel de Barros, Cora Coralina e Fernando Pessoa. Eles são muito naturistas e comecei a entrar nisso. Ah, Bandarra. Na poesia de Manoel, encontrei: ‘bandarra é cavalho velho, solto no pasto, às moscas’. Me deu um estalo e falei ‘é isso!’. Liberdade, pra mim, é isso.

Por que Azul?
“Sabia que minha cor favorita é bege? Tenho uma teoria das cores particular. Penso que uma cor pode servir de conexão. Principalmente quando alguém diz ‘não gosto de tal cor’ e eu pergunto ‘por que não’?

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Rec-Beat
Dia 18/02
Stank (PE)
Tibério Azul (PE)
Gang do Eletro (PA)
Siba (PE)
El Guincho (Espanha)

Dia 19/02
Quanta Ladeira (PE)
Embuás (PE)
Sany Pitbull (RJ)
Silver Apples (EUA)

Dia 20/02
Tony Tornado (SP)
Systema Solar (Colômbia)
Fadas Magrinhas (PE)
Giullari Del Diavolo (Itália)
Rumbanda (PE)
Joy Frempong (Suiça)
Agridoce (SP)
Lirinha (PE)
Bixiga 70 (SP)

Dia 21/02
Lucas e Orquestra dos Prazeres (PE)
Cibelle (SP)
Yusa (Cuba)
Dona Onete (PA)
Criolo (SP)

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