Foi neste espaço, há alguns meses, que você ouviu e conheceu o Veenstra, o ótimo projeto musical de Lorenzo Molossi. O baterista da banda Dunas criou uma trilogia musical surpreendentemente consistente para alguém que gravou tudo sozinho, em casa. Pois saiba que há mais joio nesse trigo moderno chamado internet. É que o caso se repete agora, com Davi Dornellas e seu Glowe, empolgante EP de seis faixas lançado virtualmente em fevereiro.
Nascido em Florianópolis, o rapaz de 21 anos mora em Curitiba há sete anos. Está no 4º ano de Licenciatura em Música na Faculdade de Artes do Paraná. Diz que alguma coisa mudou depois de ouvir In Rainbows, do Radiohead; os discos solo de Thom Yorke; e as novas peripécias guitarrísticas de John Frusciante, uma de suas principais influências. Aí resolveu brincar. Também em casa – na lonjura do Tingui — gravou guitarras, teclados, baixo. Mostrou o resultado a amigos: elogios mil.
Pois saiba que o frescor de Glowe está no encontro de uma guitarra semivirtuosa com batidas eletrônicas discretas e elegantes. É uma espécie de synth pop progressivo. Há profundidade, traduzida em riffs tortuosos como os ouvidos em “Forgotten And Sunken in the Lake Blue House”, uma viagem de 9 minutos e 32 segundos que abre o EP de seis faixas.
Em “Fake Interaction”, um cowbell pinga de maneira intermitente em uma camada sonora densa, que poderia facilmente virar uma ambient music xoxa, não fossem alguns loops bem-vindos e um solo de guitarra com um timbre doce e fantasmagórico.
“Bullshit” entrega sua verve roqueira — David ouve Portishead e Björk, e ao mesmo tempo é guitarrista da banda Movie Star Trash, convidada do último Psycho Carnival.
Ousado, o EP viaja aos anos 1980 e presta uma homenagem a Joy Division em “Disorder (Curti’s Dream)”. “É uma releitura de algo que me influenciou muito na adolescência”, diz Davi.
O toque brasileiro, mesmo que em forma de surf music, está em “A Praia”, única faixa com título em português.
Outra faceta interessante da coisa toda: para divulgar seu trabalho, Davi procurou o coletivo Atlas, site cuja função é catapultar bandas e projetos bacanas. Outro detalhe, quase paradoxal, é sua relação com redes sociais. “Não, não tenho Facebook”, revelou o músico. “Toma muito tempo. Se tivesse, não teria conseguido gravar o EP.” Novos tempos, e há gente por aí sabendo como aproveitá-los.
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