Qual uma pequena veia, aberta de repente, o Galpão Thá Cultural foi inaugurado no último sábado, no Centro de Curitiba. A ideia da construtora foi fazer de um antigo estacionamento e de um futuro prédio residencial chamado Arts uma galeria cultural provisória entre as Ruas Presidente Faria e Riachuelo.
Por cinco meses, até o início da construção do edifício, o espaço irá receber semanalmente shows, oficinas, palestras e outras atrações. E também terá comércio fixo – a filial do Brooklyn Coffee Shop foi improvisada ali, bem como a de um diferenciado salão de cabeleireiros, o Lolitas. No sábado, a Itiban, sinônimo de quadrinhos em Curitiba, também dava as caras. É, enfim, uma mini Disneylândia das araucárias no deserto em que vinha se transformando o Centro da cidade, mesmo depois da “revitalização” de algumas ruas, assim mesmo, com aspas.
Pois foi curioso passar em frente às lanchonetes xing-ling, ver meretrizes de cabelo lavado esperando o próximo cliente, se deparar com o vazio da novíssima Rua São Francisco, ou da própria Riachuelo, antes de confrontar uma moça de saiote vermelho, que perguntou meu nome e sobrenome e vagarosamente registrou tudo num iPad.
Isso foi ainda na entrada do pátio, sob as ruínas de um antigo casarão que, considerado unidade de interesse de preservação (UIP), será preservado mesmo que do chão brote um edifício cheio desses malabarismos arquitetônicos modernosos. Aliás, me cochicharam que uma das ideias é criar um vão imenso no futuro prédio, com o objetivo de construir uma área de lazer comum que tente, de alguma forma, reproduzir o que se espera criar com o zunzunzum do espaço cultural momentâneo. A ver.
Depois de me fichar, a moça, que não deve bater bem das ideias, perguntou se eu queria comprar um dos apartamentos. Logo eu, que encurto o mês para esticar os vinténs. Mas logo presumi que era questão de educação, ou orientação superior, agir assim com todos que entravam.
Já dentro da galeria – da Riachuelo em direção à Presidente Faria, onde se vê a lateral da Universidade Federal do Paraná, é quase uma leve descida – a confirmação de que era mesmo um mundinho à parte, que veio pra ficar enquanto pode. O brechó vintage Colete & Corselet, os hambúrgueres generosos do Brooklyn, que iam e vinham, fumegantes, a versão reduzida da Paleteria, badalada loja de picolés mexicanos, e a possibilidade de brincar com a tecnologia 4G por 20 minutos: tudo se oferecia aos passantes.
Há um palco também, e foi lá que vi pela primeira vez o Fagner Zadra, ator da websérie Como se Fala em Curitiba. Não demorou muito para sair em busca de uma cerveja (275 ml a R$ 6, a revitalização tem o seu preço). O mais engraçado durante sua apresentação foi reparar no tique nervoso do sujeito.
A atração musical do dia foi a Banda Gentileza, que mesmo com o público limitado e diversificado – talvez por isso mesmo — construiu um show divertido. O destaque foi a participação do convidado Hudson Müller, que fez seu trompete ser ouvido das salas de Direito da UFPR ao Paço da Liberdade.
A programação da mais nova galeria da cidade segue pelos próximos meses. Peças de teatro, shows e outras iniciativas estão na agenda – veja abaixo o que acontece no próximo sábado, dia 20.
Sabe-se que a degradação do Centro de Curitiba, assim como o de médias e grandes cidades do país, é uma pedra no sapato de todos. Só na capital, são 28 os imóveis subutilizados na região central. Em tendência contrária ao esvaziamento dessas áreas, entretanto, Curitiba viu a população do Centro aumentar 14% nos últimos dez anos. A iniciativa da Thá vem em boa hora, portanto.
O espaço é privado sim, e em cinco meses o acesso será exclusivo a moradores. Mas uma coisa leva a outra. E proporcionar o encontro produtivo de pessoas em um local em que antes só entrava carro já é algo a se ter em conta. Mesmo que pra isso você precise falar baixo para não atrapalhar o stand-up comedy furada; ou pensar três vezes antes de comprar uma cerveja – e titubear sobre a improvável possibilidade de você sair de lá com as chaves de um futuro apartamento.
Sábado, dia 20
11h – Xis Foto
Artistas irão fotografar os visitantes, que poderão adquirir as fotos.
O conceito remete aos antigos fotógrafos Lambe-Lambe.
15h – Gente Boa da Melhor Qualidade
A banda toca música brasileira dos anos 30, 40 e 50, e composições de artistas como Paulinho da Viola.
Atrações fixas durante a semana:
Brooklyn Coffee Shop
Cardápio simplificado, porém eclético, inspirado em especialidades americanas.
Espaço conectividade Claro
Oportunidade para os visitantes conhecerem novas tecnologias e utilizarem o sinal 4G da Claro.
Lolitas Salon Coiffure
Cortes, colorações, hair-up e maquiagem.
Colete & Corselet
Brechó vintage
Paleteria
Sorvetes artesanais à moda mexicana.
Amaury Lúcio
Bijouterias finas.
Onde?
O Galpão Thá Cultural fica na Rua Riachuelo 110 e abre de terça a domingo, das 11 às 18 horas.