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HMV: bolo, Invaders, Arcane Roots e “the brunette on the corner”
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No quarto dia de cobertura do HMV’s Next Big Thing, Aaron Bruno e sua Awolnation dão os canos. Em uma casa de shows que parece o Beco, em Porto Alegre, Invaders representa o que seria o som favorito de um robô melancólico e Arcane Roots faz o intrépito Mateus colocar a mãos nos ouvidos para não ouvir os gritos de adolescentes atarantadas. E ainda tem a morena, digna de nota.

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HMV, 10/02.
Bandas: Invaders e Arcane Roots

Aaron Bruno é um cara que sabe de música. Na década passada ele foi responsável por Hometown Hero e Under the Influence of Giants. Ele também soube migrar para o eletrônico, uma área a que tantos têm recorrido. O que o norte-americano com certeza não sabia, entretanto, é que ele ficaria doente e teria que cancelar a apresentação da Awolnation no HMV’s Next Big Thing.

Devido a ordens médicas, Aaron Bruno não pode cumprir com a performance, que deverá ser remarcada para o fim de maio. O que parecia um problema, porém, acabou se tornando… um problemaço. Refém de sua atração principal, a amaldiçoada data de hoje contou somente com o pop industrial-chorão do Invaders e o rock adolescente do Arcane Roots. Dei azar.

Divulgação
Aaron Bruno deu bolo: “ordens médicas”.

Saio de North Greenwich, estação lotada por ser anexa à Arena O2, onde começou a série de três shows (esgotados) do Snow Patrol, e quando chego à Garage, pertinho da estação de Highbury and Islington – quase ao lado do estádio do Arsenal -, escuto uma frase repetida em modo automático pelos seguranças: “Awolnation cancelou…”, num tom de “você ainda vai querer entrar?” O local, por sua vez, se revela bem interessante.

À esquerda há um bar, fechado, intimo, em que mesas com no máximo três pessoas dividem conversas como se estivessem – e talvez estivessem – compartilhando segredos. Bancos estofados preenchem os quatro cantos de uma salinha pequena. Ao fundo tem-se o bar, e atrás dele notam-se alguns pôsteres musicais. Os únicos álbuns que consigo ver são o primeiro do Arctic Monkeys e o último do Green Day.

Se ao invés de virar a esquerda você escolher seguir reto, logo dá de cara com uma pista grande, entre o palco e outro bar. The Garage parece muito, e muito mesmo, com o Beco, de Porto Alegre. Entre os dois espaços há um balcão de guarda-volumes, e atrás dele se vê uma funcionária jovem, morena, bonita num nível desconfortável – o que é completamente irrelevante para o texto e para a música em geral, mas que precisava ser registrado em algum lugar.

Chego um pouco antes de o Invaders começar. Meio desanimado e sem grandes expectativas para a noite, afinal a Awolnation era o grande peixe. O quarteto do palco é australiano, vem direto de Sidney e optou recentemente por se fixar no Reino Unido. O show entretém; o vocalista imediatamente lembra Brian Molko, do Placebo, quando não parte para dancinhas esquisitas que garantiriam um diploma autenticado por Jarvis Cocker.

* No vídeo abaixo, a Town Hall Steps, banda que deu origem à Invaders, toca “Hummingbirds”, música presente no EP lançado ano passado.

Grande parte do som é baseado no teclado. A guitarra tem seus momentos de destaque, principalmente com uns pedais bacanas, mas fica clara a influência de um som industrial na concepção da banda. A impressão que dá é que os integrantes passaram a adolescência cultuando The Cure, já se viciaram em Kraftwerk e têm o costume de dormir com a discografia do Nine Inch Nails próxima ao travesseiro. Existe ali uma mistura bem sucedida de goticismo infanto-juvenil com melancolia robotizada.

Essa parte industrial não é bem o que mais me atrai, mas, ainda assim, o show agrada. Eles lançaram um EP há seis meses, e a apresentação despertou curiosidade para ouvir novas composições – algumas delas já apresentadas ao público, inclusive. Os remanescentes da Garage parecem aprovar. Neste momento a casa não está nem cheia e nem vazia — panorama que se arrastaria até o fim da noite.

Com a despedida do Invaders, resta ao Arcane Roots o cargo de headliner da noite. Começo a estranhar quando um grupo de cinco ou seis garotas passa a gritar de forma estridente na beira do palco. Só é possível notar vozes femininas, de meninas que parecem ter quinze ou dezesseis anos. A banda entra e os gritos afloram, seguidos por rapazes que ironizam a situação com berros ainda mais agudos.

O Arcane Roots, pois, é uma banda para adolescentes; nos moldes de My Chemical Romance ou Fall Out Boy. Melódico, grudento, choroso, com vocais gemidos e guturais forçados. O trio, que se mexe fervorosamente no palco, não poupa métodos para angariar mais e mais gritinhos. Todos têm técnica, claro. Baterista, guitarrista e baixista são músicos ágeis, com certeza; mas isso pouco reduz a fraqueza do grupo, no sentido de falta de referências e recursos.

Se algumas músicas atá não seriam a pior das escolhas para tocar na rádio durante um passeio de carro em família, a maior parte do álbum Left Fire, lançado ano passado, é só mais uma vitamina de fórmulas batidas. O Arcane Roots não acrescenta nada novo, exceto para uma parcela de consumo bastante efêmero da adolescência. Nada contra a efemeridade, também – o pop não é ruim por ser descartável. Acontece que nada ali é muito aproveitável mesmo: não são sons que trazem sensações e tampouco te fazem assoviar despreocupadamente.

Sendo assim, as 12 libras necessárias para comprar o disco e uma camiseta – bonita, por sinal – acabariam sendo mais bem gastos em Relentless, o energético que parece patrocinar a noite por puro sadismo.

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