| Foto:

A empreitada solo de Marcelo Camelo poderia ter sido uma experiência musical melancólica e sépia, ainda que sublime.

CARREGANDO :)

Mas na noite de sábado o Canal da Música viu, mais do que um cancioneiro, um virtuoso instrumentista, alguém à vontade consigo mesmo e aparentemente de bem com todos.

Se as músicas que escolheu foram talvez as mais tristonhas, o show não. A forma como encarou a apresentação e a plateia revelaram um artista liberto e com total domínio sobre sua obra, já consegue cantar “Doce Solidão” quase que com um sorriso maroto no rosto.

Publicidade

Embalado por uma garrafa de vinho tinto, que tomava a generosos goles, Camelo pediu mais de uma vez para que o auditório lotado “fizesse barulho” com ele. Talvez nem fosse o momento para isso, já que o show é delicado, quase frágil, e o melhor mesmo era ficar em silêncio.

Momento emblemático foi quando o músico se levantou durante a execução de “Cara Valente”. Possivelmente isso não estava no script, já que o cabo do violão se soltou e tudo silenciou. Tudo não, porque a plateia continuava cantando até que o instrumento voltasse a ser plugado. Enquanto isso, Camelo dançava, à vontade: as coisas até poderiam dar errado, mas seria por um breve momento, bem sabia ele.

E o repertório foi certeiro também. O show começou com duas músicas “inéditas”, e valorizou muito o repertório dos Los Hermanos. A versão de “Fez-se Mar”, por exemplo, foi inspiradora e “A Outra”, com uma cadência toda própria, foi um dos pontos altos.

Também houve dois elementos que deram colorido ao show. O suíço Thomas Rohrer e sua rabeca criaram uma gostosa estranheza. Foi o toque de azedume que coube bem em toda aquela doçura.

Publicidade

Por falar em doçura, Mallu Magalhães surgiu duas vezes no palco do Canal da Música. Parecia mais tímida do que o normal, mas dividiu o vocal com Camelo e cochichou em seu ouvido: o segredo juvenil para esse momento particular do carioca, já dono de um legado na música brasileira.