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O périplo para chegar ao Teatro Guaíra e assistir ao show de Chico Buarque ontem começou na Rua XV, no Bar Mignon. Fui atendido por um garçom que disse “ih…” quando perguntei há quanto tempo ele trabalhava ali, naquele espaço que existe desde 1925. Isso aconteceu do lado de dentro, claro, porque fora, com o sol que ainda dava as caras às 19h30, era impossível se achar um só lugar vazio.

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Havia o barulho dos canecos de chope, o balé das bandejas circulando, e a multidão ensacolada que aguardava a apresentação das 160 crianças no Palácio Avenida.

A essa altura, eu tinha meia hora para chegar ao Guaíra, tempo mais do que suficiente não fossem os tantos curitibanos que tinham saído de casa naquela quinta-feira. Na Rua XV, até tentei. Cheguei perto da esquina com a Marechal Floriano, vislumbrando uma empreitada turbinada.

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Mas a passagem estreitava a cada passo, pessoas iam e vinham, esbarravam-se, máquinas fotográficas saltavam dos bolsos. Não teve jeito. Fiz meia volta ao som de “Trenzinho do Caipira”, e ouvi um longo “ohhh”. Era o exato momento em que a Galeria de Luz dava o ar da graça, acendendo seus arcos enfeitados por milhares de lâmpadas coloridas. Começava o desfile, com malabaristas e bailarinos, enquanto a história de Natal era narrada pela voz de Luiz Melo. Crianças sobre o cangote dos pais olhavam embasbacadas.
Subi uma quadra da Dr. Muricy, correndo na rua – porque na calçada não cabia –, e segui em direção ao Paço da Liberdade.

“Cortar caminho, pensei”. Tinha pouco mais de 20 minutos para estar no Teatro. “Chico, espera aí porque o Natal em Curitiba tá que tá”, pensava. “O Polo Norte é aqui!” Desatento e apressado, quase fui atropelado, “opa”, pela Bicicletada, que saía ali em frente da Catedral. “Será isso Curitiba?”, pensei com meus chicletes.

Já no Paço, uma luz azul emoldurava as janelas. A multidão se estendia, para os lados, para as ruas laterais da Praça Generoso Marques – “para o jardim não, jamais!” Fui até onde pude, pedi licença até ouvir um “xi, não vai mais”. Era culpa do Natal de Neve, espetáculo que relembra o ano de 1975, última data que nevou na cidade fria. No céu, além da neve artificial, viam-se objetos coloridos e barulhentos que voavam alto. “É só cincão”.

Já pensando em como iria achar minha poltrona no escuro, voltei novamente. Desci a Amintas de Barros, pela rua, indo mais rápidos que os carros – quem vai ao centro de carro num dia desses? E, de novo: na Praça Santos Andrade, luzes, pessoas, coisinhas brilhando no céu, música natalina. O Auto de Natal da Família Horn mistura teatro, música e folclore. Mas não era o mais popular entre todos os que vi nestes 20 minutos que já me valeram todo dezembro.

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Cheguei ao Guaíra em cima da hora, ainda ouvindo o burburinho que vinha do centro da cidade que, enfim, sai da toca, apesar de concentrar todas as ações em uma só região e tornar a locomoção, por ali, mais desafiadora do que a entrega de presentes pelo Papai Noel.

Não perdi “O Velho Francisco”, música que abriu o show de Chico Buarque, às 21h16. Tampouco a vibração de uma Curitiba que vive quando lhe dão oportunidades. Ainda que isolada em si mesma.