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O Mendigo Bonito de Curitiba poderia ser nome de peça de teatro. Quem sabe até vire, caso o esquizofrênico Rafael Nunes (esse é o nome dele) consiga elaborar uma ou duas frases em uma ordem pré-estabelecida.

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Se o treinarem bem, poderia também aparecer na propaganda televisiva de um dos candidatos à prefeitura da cidade, enrolado em seu cobertor de cachorro, mas exalando beleza ariana. O problema é que, se isso acontecesse, no dia seguinte ninguém mais lembraria quem realmente é Rafael Nunes. E o que ele causou em uma quarta-feira qualquer de outubro.

O rapaz de olhos azuis viveu hoje o seu Show de Truman particular. Brincamos com ele. Gozamos dele. Fizeram dele até um ex-prefeito derrotado. Fizemos dele um meme, sem ele saber. O testamos. Rafael Nunes aparecerá na tevê hoje à noite e dará declarações desconexas e sem sentido. Por que, provavelmente, a pergunta não será “quem é você”, mas “você é tão bonito, o que você está fazendo nas ruas?”

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Seu cobertor estampa neste momento o site de um dos maiores jornais do país. E ele, de luvinha na mão, só quer ser ele mesmo: fumar pedras e viver ali pelo São Francisco, Centro. Pelos bares da vida.
Rafael Nunes tentou matar seus pais. Foi o que disse sua irmã, via Facebook, esse monstro imenso de tentáculos infinitos.

Rafael Nunes fuma crack. É violento e “não fala coisa com coisa”. Rafael Nunes – agora gritam aqui na redação que ele está no Uol, na Folha, no Globo! — se transformou em piada sem querer, assim como muitas outras coisas que duram um ou dois dias, como a música do Michel Teló ou o vômito do Justin Bieber.

O problema é que o estopim da graça pela qual passou Rafael Nunes é o reflexo de um problema social. Some-se a isso o poder incrível de disseminação das redes sociais, que nestes casos servem como uma venda sedutora e bem grossa, e temos este show sádico, nossa diversão para uma quarta-feira de 23 graus. A sensação é a de que vivemos na superfície de tudo, nadando o mais rápido possível.

Já há quem duvide que o mendigo é um mendigo. “Como, se ele tem olhos azuis?”. Então, a partir de um momento, não se sabe, ou não interessa mais a história de alguém que perambula pelas ruas, usa uma luva estranha, anda com um cobertor fedido e que, como assim?, é bonito.

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Deve também, no Facebook, existir uma competição secreta para ver quem cria, mais rápido, claro, o melhor slogan, ou a melhor montagem. Uma rede de barbearia da cidade disse que ele ficou assim (bonito!) depois que passou por lá. “HAHAHAHAHA”.

É cada vez mais impressionante a capacidade do ser humano em fazer o que não precisa ser feito. Boa sorte nesse mundo estranho, Rafael. Os esquizofrênicos somos nós.