5 – Lindberg Hotel – Lindberg Hotel II
Claudio Romanichen é o cara. Lindberg Hotel é a banda. Se no primeiro registro, Lindberg Hotel I, o shoegaze e as guitarras espaciais encarnavam um My Bloody Valentine um pouco mais pop, Lindberh Hotel II fez das influências do músico um produto definitivo. Gravado 100% por Romanichen, o disco tem pegada lo-fi. Seu rock guitarreiro encontra a melhor forma em “Beatles Posters”, e na intensa “Spoiled Child”. O quinto lugar mostra mais uma vez que Curitiba, apesar de se fingir de boa moça, gosta mesmo é dos barulhos do mundo.
4 – Charme Chulo – Crucificados Pelo Sistema Bruto
Um disco duplo em 2014, como assim? Pois é. Em 20 faixas, Crucificados Pelo Sistema Bruto é um pequeno estudo sobre a indústria musical, realizado com humor, bem-vindas curitibanices e referências inusitadas como a Oktoberfest, os playboys da Batel e o motel My Garden. A grande sacada da banda foi criticar o “sistema bruto” sem aquele engajamento fajuto que quase sempre soa anacrônico. O Charme Chulo, ao contrário, ri de si mesmo, e reflete a condição de uma banda de rock que está há mais de uma década na estrada perante um mundo musical contaminado. O disco tem algumas das melhores músicas lançadas por essas terras em 2014, como “Palhaço de Rodeio”, um serta-rock irônico sobre um peão desiludido que invoca Gian & Giovani; e “Dia de Matar Porco”, que venera salsichas. Apesar de tudo e de todos, há graça na música de Curitiba.
3 – O Escambau – Novo Tentamento
O quarto disco da banda de Giovanni Caruso surpreendeu a muita gente por dois motivos: ousou ao costurar uma mistura de gêneros e influências – gospel, psicodelia, MPB, rock, brega, religiões, boemia, poesia – e tratou de resolver tudo isso com uma produção impecável (de Siri), que, por fim, valoriza tanto o instrumental do grupo quanto a peculiar voz de Maria Paraguaya. Por isso tudo, é como se Novo Tentamento fosse um disco de outro tempo, reencontrado agora. Não se parece em nada com o que o Escambau já fez; não se parece em nada com nenhum disco lançado no país neste ano. Não é uma “ópera rock profana” como a banda originalmente gostaria de concebê-lo. Mas tem algo de mítico sim, que evoca um possível encontro entre Pink Floyd em sua fase Ummagumma e eterna criança que é Arnaldo Baptista.
2 – ruído/mm – Rasura
É difícil mensurar, neste momento, os feitos do ruído/mm. Talvez só no futuro. A melhor banda de Curitiba colocou cérebros para pular no elegante introdução à cortina do sótão (2011). E agora parece nos desafiar, e perguntar: até onde você pode ir? E principalmente: aonde você quer chegar?
Produzido por Mark Kramer (Galaxie 500, Butthole Surfers e Urge Overkill), Rasura é uma pequena obra-prima que começa pela capa e pelo encarte, ambos extraordinários, arte dos designers Mário de Alencar e Jaime Silveira. E aí, talvez, esteja uma boa dica para se entender porque Rasura é um disco tão forte. A banda é coerente em todas as suas (inter)relações, e procura sempre se inspirar naquilo que lhe é mais importante: as pessoas, a natureza, o acaso.
Sobre a música, não há muito o que falar. Apenas que seu pós-rock ganhou contornos mais definidos e às vezes mais enxutos. E que “Penhascos, Desfiladeiros e Outros Sonhos de Fuga” pode ser a faixa perfeita para se ouvir tanto no espaço quanto na companhia de quem se sente saudade.
1 – Heavy Metal Drama – It Took You Too Long to Meet Heavy Metal Drama
Eles caminham por essa trilha há algum tempo. Rhony Guedes e Thomas Kossas (Rosie and Me), Francisco Conrado (Silver Salt) e Claudinha Bukowski (Copacabana Club), entretanto, nunca soaram tão naturais e despretensiosamente interessantes quanto no projeto Heavy Metal Drama.
O fator decisivo para a escolha da como o destaque de 2014 foi quase conceitual: a banda tem a coragem de se enfiar num nicho batido e desgastado, apesar de ainda jovem. O indie dançante e às vezes praieiro que propõem é menos óbvio do que aquele que se costuma ouvir por aí, principalmente em baladas de sexta e sábado. Há mais peso, ousadia e criatividade. É música que dá certo na pista, enfim, mas que não foi feita exclusivamente para elas. Não nasce em formato, por mais que possa se adequar a muitos.
“Overrated U”, que ganhou clipe, lembra os bons tempos do Kasabian. Já a levada sexy e o vocal preciso de “Tanned Blondie” sugere um Placebo menos afetado. Um baita registro, que comprova a capacidade de músicos da cidade de se reinventarem, mesmo em projetos paralelos. E de fazer tempestade quando sopra a brisa.