Nunca pensei que fosse dividir uma mesa do restaurante do Passeio Público com moças sapecas, especialmente com a Tânia, minha mais nova amiga que jamais verei novamente, e a Ludmila, sua sobrinha de beleza embasbacante que espero encontrar de novo. O mesmo restaurante que fica (ou ficava) às pombas durante a semana. O que tem 260 lugares e, no sábado, clamava pelo dobro de mesas e cadeiras.
Uma frase também nunca antes proferida por essas terras: a regata de pedalinhos foi um estrondo. O curitibano deixou a desconfiança e a carranquice em casa e entrou no clima: uma dupla desfilava óculos e touca de natação; outra atacou de pirata no lago do Passeio. Na disputa náutica, foi nítida a vantagem natural de senhoras aposentadas e de casais de namorados. Aquelas porque tem anos de experiência no barquinho. Estes porque são acostumados a dar suas pernadas nos barcos-cisne do Parque Barigui. Eram pombinhos em sintonia, certamente — já imaginou uma DR no meio da peleja?
No paddock, enquanto o Sebastião trazia as cervejas para a mesa que seria dividida com a Tânia e a Ludmila (ah, a Ludmila), uma multidão se ajeitava para tirar fotos e torcer para seus marinheiros de primeira viagem. “Celebridades” também circularam pelo Passeio naquela tarde de sábado – Jasson Goulart não quis narrar uma das baterias, para tristeza dos desportistas que gostam de um improviso; e Gustavo Fruet deu suas mordidas em um cachorro quente com duas vinas, para a alegria de assessores e partidários.
A Vinada, aliás. Foram 14 mil cachorros-quentes vendidos. Relatos confiáveis dizem que uma fila gigantesca se formou ao redor das barracas, para desespero das gralhas e dos pavões, acostumados com o sossego do Passeio – que durou vinte anos e acabou no último sábado — e com a voz monocórdica das meretrizes de plantão.
Foram na “filada” cultural?, debochavam nas redes sociais. O que aconteceu chama-se demanda repreendida – Freud explicaria com muito mais propriedade. Mas, com mais eventos assim, há menos ansiedade, menos tensão, e mais proveito.
Lembro do Passeio Público lotado aos domingos, na década de 80. Ainda havia o Parque Alvorada ao lado – o espaço virou um estacionamento, depois uma cancha de futebol e, se bobear, já, já se transforma em Madero. A grande concentração era em torno do parquinho, na área central, com seus carrosséis e fotógrafos lambe-lambe.
No sábado, foi diferente. Os dois eventos fizeram com que os neofrequentadores, imbuídos de um inesperado espírito desbravador, circulassem por todo o Passeio Público e, satisfeitos, esticassem toalhinhas xadrezes no chão para aproveitar o sol de outono. Isso – e dividir a mesa com desconhecidos — é o exemplo acabado do já tão batido e polêmico “ocupar,” motivação inicial da coisa toda.
Sobre Ludmila, a única informação é de que ela mora em Itu, a cidade onde tudo é grande. Até, com o perdão da pieguice, o tamanho da beleza de suas mulheres.