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O Sasquatch! Festival continua lá em Washington. Thaisa se belisca três vezes para ter certeza de que realmente está nesse lugar “mágico” onde, anteontem, aconteceram os shows de Devendra Banhart com seu parça Rodrigo Amarante, The XX e Sigur Rós:

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“Eu não acredito que estou aqui.” Essa foi a frase mais dita e pensada por mim neste segundo dia de festival. Demorei um pouco para dormir na barraca (estava frio demais) e acordei às 9h23 com sol e muitos canadenses, vizinhos de barraca, falando ao meu redor. Os de trás vieram do centro do Canadá e viajaram 22 horas de carro para chegar ao festival; os da frente viajaram só… 17 horas. Todos eles estão no Sasquatch! pela primeira vez. São empolgados e prestativos. Quando comentei que estava saindo para comprar mais comida e cerveja, eles, imediatamente, me ofereceram o que tinham. Na verdade me obrigaram a aceitar a comida e a Dieu du Ciel (vocês deveriam provar essa cerveja!). Quando disse que ia enfrentar a fila do chuveiro e do banheiro, me desejaram boa sorte com a fila (o banheiro químico é de graça, mas o banho quentinho custa 3 dólares).

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Tudo aqui funciona perfeitamente bem. Há filas enormes, sim, mas elas acabam rápido, ainda mais quando as pessoas ao redor querem muito fazer high-five, dançar e conversar. E nós sempre temos água para lavar a mão depois do banheiro e também para tomar banho, toda manhã. Sem nenhum incidente, acidente ou confusão, vamos ao que interessa: os shows sensacionais da segunda noite.

Quem abriu a tarde foi o simpático Devendra Banhart, que, ao checar o som, chegava bem perto da plateia e mandava beijos. Na banda do simpático texano que cresceu na Venezuela tínhamos, orgulhosamente, dois brasileiros: na guitarra, flauta, backing vocal e teclado, Rodrigo Amarante com sua enorme barba e gigantesco sorriso. Em um momento antes de começar a apresentação, Devendra tirou o meio brasileiro/meio americano Fabrizio Moretti da bateria (também conhecido como o baterista dos Strokes) para testar o som.

Devendra deu um afetuoso abraço em Amarante. Tudo aprovado, ready to go! O magricela e tatuado Devendra, de xadrez e chapéu à lá Woody, do Toy Story, dançou diversas vezes, rebolou e interpretou músicas perfeitas para quem está com o coração partido. Tocou as clássicas “Carmensita” (em espanhol), “Never Seen Such Good Things” (a microfonia deu seu ar da graça nesta hora, Devendra fingiu que não viu nada, tampou os ouvidos, continuou a cantar e esperou o ruido ir embora), fez as garotas espernearem em “Baby”, e deixou o microfone totalmente livre para Amarante cantar “Rosa”, composição de Banhart em conjunto com o barbudo. No final da canção, disse: “Rodrigo Amarante, my family, my man!”.

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Finda a apresentação, fui conferir Porcelain Raft no palco ao lado. O show do italiano Marco Remiddi radicado em New York teve distorções,distorções e mais distorções. Apesar de haver pouquíssimos ouvintes, e o álbum Strange Weekend ter infinitas distorções a menos, foi um belo show para uma banda que conheci uma semana antes do festival. Foram tantas distorções que o próprio Remiddi esqueceu os pedais ligados e voltou correndo ao palco quase 1 minuto depois do fim da apresentação para desligá-los.

Aí corri para o palco principal para me jogar no The XX. O show foi bem parecido com o que eu vi em Barcelona em maio do ano passado, durante o Primavera Sound. A diferença é que desta vez eles estão com um álbum novo, o elogiadíssimo Coexist. Ou seja, o show daqui foi ainda mais extasiante.

“E ai, Sasquatch! Tudo bem? Costumamos tocar em muitos festivais, mas esse é o mais bonito do mundo!”, bradou o simpático Oliver Sim, que durante o show todo — sensacional, diga-se de passagem — falava com o público enquanto sua companheira de guitarra e vocais balançava a cabeça concordando. Romy Madley-Croft só deixou de lado seu jeitão ríspido quando Oliver foi buscar uma long neck antes da última música. Ela segurou o microfone e disse:
“A última vez em que estivemos aqui vimos Massive Attack do topo da montanha, estávamos sonhando em voltar.”

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Tame Impala e seus instrumentos quase não conseguiram sair da Espanha e tiveram o show atrasado em mais de uma hora. So sad, porque a apresentação deles acabou ficando para o mesmo horário do Sigur Rós. Advinha quem eu escolhi ver?

Quando Jónsi e seus dez músicos entraram no palco repleto de lâmpadas espalhadas estrategicamente, o mundo girou devagarinho. A partir da primeira música, eu não consegui entender mais o que estava acontecendo. A frase “eu não acredito no que estou ouvindo e vendo” passou diversas vezes em letras garrafais na minha cabeça.

O que mais posso dizer de uma banda de post-rock que inventou uma língua [vonlenska] para compor suas letras? Quem estava por ali foi presenteado com canções do novo álbum Kveikur, que será lançado daqui algumas semanas. Um telão atrás da banda reproduzia pingos dourados de chuva e outras imagens em LED. Quando “Hoppipola” começou, as imagens deram lugar para o lindo e bucólico clipe da canção. Sabe aqueles momentos mágicos em que você não explica, só sente? “Eu ainda não acredito nisso” era a única coisa que eu conseguia pensar.

Sigur Rós fez o show do século, seja pelos efeitos sonoros, seja pelas luzes no palco acompanhando os acordes, seja por Jónsi assoprando as cordas de seu violino, seja pela paixão dos integrantes pelo que f azem. E a vida seguiu em plano-sequência.

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No próximo dia temos um line-up mais fraquinho: Edward Sharpe, The Tallest Man on Earth, Elvis Costello e Mumford & Sons vão salvar meu dia. I”ll be right back. Stay tuned!