Com um pequeno delay, a inveterada Thaisa Meraki conta como foi o terceiro dia de Sasquatch! Festival, evento que aconteceu nos arredores de Seattle entre 24 e 27 de maio. Sobre o primeiro dia (Japandroids, Built to Spill e Youth Lagoon) você lê aqui. O segundo dia teve Devendra Banhart, Rodrigo Amarante e Sigur Rós.
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O terceiro dia de Sasquatch! Festival foi aberto com um show em que consegui ficar 5 minutos, o do Tallest Man on Earth. Ainda busco explicações para minha intolerância com o sueco sentado num banquinho, tocando violão, uma vez que o loirinho de regata branca já tocou algumas vezes no meu iPod.
A única justificativa era que eu precisava de algo mais agitado. Fiquei com dor de garganta e resfriada depois de acampar dois dias num lugar em que a temperatura oscila dos 28 graus, quando o sol aparece, para 9 quando ele vai embora; e porque bebia cerveja ao invés de suco de laranja ao acordar (deixei meu isopor aos cuidados dos meninos californianos e eles encheram de bebida alcoólica estupidamente gelada e deliciosos sanduíches de geleia de manteiga de amendoim). Voltei pra Media Area a fim de me aconchegar, sentar, comer um pretzel, tomar um isotônico, alguns remédios, trocar ideia com fotógrafos e jornalistas norte-americanos e guardar energias para dançar e correr de um palco pro outro.
Assim que voltei para o main stage, uma hora depois, dei de cara com uma festa riponga de 13 músicos. Era Edward Sharpe and The Magnetic Zeros. Além do palco lotado, duas crianças de óculos escuros e aparentando ter, no máximo, 9 anos, tocavam pandeiro, sem saber muito porque estavam ali. Era engraçado. O vocalista Alex Ebert tirou os sapatos e se juntou à já descalça Jade Castrinos, que usava um vestido longo e hippie.
Os dois se abraçavam, pulavam e rodavam o tempo todo. Quando conseguiram se desgrudar, ele colocou os sapatos de novo e se aproximou do público. Alex ficou a música toda segurando a mão de um rapaz na plateia. No meio do show, os primeiros acordes do hit “Home” fez o público vibrar: Marcus Mumford, do Mumford and Sons, entrou de surpresa pra cantar. Sua banda faria o último show daquele dia.
Ao final da música, Alex Ebert disse que estava ali para ouvir histórias. Com o microfone em mãos, se aproximou do público e foi escolhendo, aleatoriamente, algumas pessoas para falar. Uma menina disse que era sua primeira vez no festival, estava encantada com tudo e amava a banda. A segunda disse que acabou de voltar depois de meses na Índia e que ficou 12 horas dançando no dia anterior. A terceira disse que não podia estar em show e lugar melhores e que eles eram ótimos. Alex interrompeu a menina e disse: “Não, você é ótima! Aliás, Sasquatch, vocês são ótimos. Muito obrigado!” E assim terminou a festa no palco que receberia Elvis Costello em alguns minutos.
O veterano estava elegantíssimo. Terno riscado, gravata preta, camisa de estampa colorida, óculos de armação grossa e chapéu Panamá. Ele gritava e se alongava nos vocais, mas não desafinava. Suava, mas não perdia a elegância. Nem ele, nem sua banda, que estava afinadíssima. Até a vocalista do Wild Belle com seu rock influenciado pelo reggae e funk e o início do pôr-do-sol deram o ar da graça para completar o espetáculo.
Com o final do show e a palhinha da Natalie, resolvi deixar de conhecer nove bandas que se apresentariam nas duas próximas horas nos cinco palcos do festival; e também de conferir o show de uma hora da Wild Belle. Fica pra próxima.
O vento aumentava e a fome também. Debilitada pelo resfriado, escolhi a comida menos junk: macarrão ao estilo tailandês: frango, legumes e molho apimentado. As outras opções eram: hamburguer angus, nachos com chili e pastas mexicanas, batatas fritas e pizza.
Aí voltei pra Media Area.
Quando estava preparada para enfrentar a noite, Mumford e Sons já tinham tocado duas músicas e achei melhor ficar lá no topo da montanha para apreciar as estrelas e ficar mais pertinho na hora de ir embora para o acampamento. Não poderia ter escolhido um lugar melhor. Dali pude ver toda a explosão de luzes e acordes do grupo e a multidão que pulava lá em baixo e a que me cercava, sentada. Confesso que no hit “I Will Wait” ninguém conseguiu se manter sentado, muito menos eu, que naquela altura já contava com uma febre tomando conta de mim. No Sasquatch! é sempre assim: não importa em que palco nem em que lugar da plateia você está: sempre vai escutar e ver muito bem. Não importa a temperatura nem seu estado físico, a vontade é só uma: aproveitar até o último segundo.
Tanto é que deixei pra dormir mais tarde ao me deparar com o show do Primus no palco Bigfoot, quando estava a caminho da saída. Dois bonecos astronautas infláveis balançavam ao lado da tela que emitia imagens em 3D enquanto a banda tocava músicas instrumentais, sem dó de nós, mortais que acompanhavam aquela viagem psicodélica de pertinho sem a ajuda de nenhuma substância alucinógena.
Uma caixa enorme de papelão deixada nos cantos direitos e esquerdos da plateia por alguém da banda estava repleta de excelentes óculos 3D à disposição do público. Cada pessoa que estava ali pegava um, colocava os óculos e ficava em silêncio, apreciando. Sem confusão, sem filas, sem pedidos para devolverem os óculos depois. Thumbs up pro melhor souvenir do festival.
Volto logo pra contar sobre o último dia do Sasquatch! e fazer uma listinha final. Será que alguma apresentação do último dia bateu o inacreditável Sigur Rós? Stay tuned!