Havia uma curiosidade sobre quem iria acompanhar a primeira investida do bloco Garibaldis e Sacis em um bairro de Curitiba. O povo que vai ao Largo nos pré-carnavais de sempre se espremeria no Circular Sul para festar no Sítio Cercado? Os moradores do bairro sairiam atrás do trio, como se aquela festa toda, na longa e cimentada Rua São José dos Pinhais, fosse algo natural?
O pré-carnaval do último sábado teve cara de um evento experimental. Além do próprio bloco, animado como sempre, não havia aquele mar de gente na frente do trio. Atrás, ninguém. Estima-se que o público total tenha ficado em menos de 2 mil pessoas, quatro vezes menos do que a média do que foi registrado nos pré-carnavais no Largo da Ordem em 2013. Ao menos ninguém ficou espremido. Como a avenida é larga e há muitos botecos, residências e lojas de todo o tipo, muitos foliões de primeira viagem ficaram na calçada, só vendo a banda passar.
Há quem não tenha gostado. O comerciante Fábio de Paula achou tudo aquilo muito estranho. “Por mim pode ser a primeira e a última vez”, esbravejou. Há quem tenha se divertido e lembrado de outros carnavais. “Está ótimo. É bom para dar uma animada na região”, me disse Olga da Silva, que levou o neto de 9 anos para a rua. E, principalmente, há quem tenha aproveitado a ocasião momesca para dar um up nas vendas. Foi o caso de Bonfim José dos Santos, que defumou o bloco inteiro e, em uma hora de desfile, já tinha vendido 50 espetinhos.
O mais interessante – e talvez prova de que a coisa possa funcionar melhor em outros anos — foi a atenção dispensada por moradores de sobrados ali da rua, que saiam às sacadas com uma cervejinha na mão para cantar “Cabeleira do Zezé.” Foi realmente bonito de ver e, como lembrou Marcel Cruz, um dos integrantes do Garibaldis e Sacis, a situação remeteu aos carnavais de antigamente em Curitiba, em que foliões de ocasião celebravam o carnaval de suas sacadas na Rua XV.
Outra surpresa foi ver Gladimir Nascimento, novo secretário de comunicação, em cima do trio elétrico. Se protegendo do sol com um panamá e tomando suco de uva, ele desceu para dar entrevistas e falou sobre o carnaval oficial da cidade. “Este desfile de 2013 será muito feio. Muito fraco, muito pobre. Mas será o último carnaval pobre de Curitiba. Nossa ideia é trabalhar o ano inteiro para o carnaval, não dependendo mais dos recursos públicos, e sim despendendo inteligência e ajudando as escolas a se profissionalizar, a serem lucrativas e atuarem todo o ano. Assim, naturalmente o desfile será melhor.”
O secretário, que já cobriu muitos carnavais em sua época de rádio, diz que a Fundação Cultural de Curitiba pegou o processo do carnaval em andamento, por isso houve todo o imbróglio em torno da verba para as escolas. “Não tínhamos prazo suficiente para salvar os desfiles”, justificou Gladimir, que, ali no Sítio Cercado, disse ter visto “surpresa no rosto das pessoas, que não estão acostumadas a receber esse tipo de atenção.”
Jornalista, Gladiimir também jogou um balde de água fria no assunto que é o preferido de pitaqueiros de plantão no mês de fevereiro: Curitiba tem carnaval? “A imprensa passou 30 anos discutindo se a cidade tinha carnaval. Mas, enquanto nós jornalistas nos perdíamos nessa discussão que não tem resposta, o carnaval se impôs sozinho. E nós não vimos. Quando nos demos conta, tinha um bloco gigantesco no largo. Esta pauta está vencida”, bradou Gladimir, retomando o suco de uva e voltando rumo ao bloco dando passos até que convincentes.