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* O Pista 1 está de férias. Voltamos com nossa programação normal no dia 18/9.

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Kevin Parker nasceu em Sydney, mas cresceu em Perth, a metrópole mais isolada do mundo. Eis aí um prato cheio para metáforas à sua carreira musical. Ao redor de Perth, há cidades bem menores e um vasto deserto: Adelaide, Melbourne, Brisbane, Camberra e Sydney, todas se situam no outro extremo, como se a capital da Austrália Ocidental tivesse decidido virar a cara em direção ao Oceano Índico e crescer sozinha, sem depender de ninguém. Tal qual o sujeito que compõe e grava tudo no próprio quarto, elevando introspecção a tema de expressão, ironicamente.

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Tame Impala e seu elogiado Innerspeaker, uma metrópole sônica, são mérito total de Parker, que criou tudo desacompanhado e executa as composições auxiliado por amigos. Com dois deles, inclusive, forma o Pond, tocando bateria. No show da última quarta-feira (15) no Cine Joia, em São Paulo, o grupo se apresentou pela primeira vez a público aberto no Brasil, depois de show fechado para o canal Multishow. Antes do impala antílope e depois do Chevrolet Impala, a banda chegou ao país sem ter muita ideia do que esperar, e possivelmente se surpreendeu com a reação positiva do público.

Se fosse necessário atravessar um deserto para chegar ao Tame Impala, Audac seria um baita meio de locomoção. A banda curitibana se destaca pela voz sutil de Alyssa Aquino, acompanhada pelo baixo “à Peter Hook” proporcionado por Debbie. Interessante notar a evolução do grupo sugerida por “Distress”, faixa menos sintetizada e bem presencial. Embora sejam claras as influências de shoegaze e dream pop, há um toque meio triphop — como se o Portishead tocasse com equipamento do Chapterhouse. O local já relativamente cheio aprovou Audac, ciente da escolha apropriada para abrir um show de introspecção cósmica. Fica a expectativa para futuros lançamentos.

Toda essa aura de solidão se reflete num público tão variado quanto estaticamente tranquilo. Aguarda-se Tame Impala sem empurrões por espaço, como se “Solitude is Bliss” fosse, de fato, lema vital de muitos dos espectadores. A banda entra no horário combinado ao abrir justamente com essa ode ao isolamento, e logo percebe-se como o ambiente favorece a proposta do som. Se encaixado num festival, Tame Impala perderia muita força; porém o porte do Cine Joia – lá cabem 1.500 pessoas – auxilia bastante a performance de Kevin Parker.

Não demora muito para alguns pularem freneticamente, enquanto outros se imergem em universos próprios. A voz de Parker parece melhor que no dia anterior, a julgar pela televisão. Formam-se aleatórias e espontâneas rodas de pogo, na metade do curto show de uma hora. Em meio ao repertório baseado no Innerspeaker, surgem “Elephant” e “Apocalypse Dreams”, de Lonerism, disco a ser lançado em outubro. A timidez geral se vai, e os mais animados são erguidos como pesados troféus, para riso de alguns integrantes, discretamente empolgados.

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A performance podia ser mais solta, dissoluta sem abandonar seu objetivo. Ainda assim, é um ótimo show, que convence fãs assíduos e meros curiosos. Os vinis de Innerspeaker, vendidos R$ 50, acabam rapidinho, à medida que outros se batem para guardar o bonito pôster do evento em bolsas ou mochilas. Na saída, é possível enxergar vários sorrisos, distribuídos em elogios extasiados. Depois disso, já é quinta-feira e, bom, cada um volta a Perth de sua cabeça.

* O Pista 1 está de férias. Voltamos com nossa programação normal no dia 18/9.