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The Shorts, e/ou e Dunas: a pluralidade constrói a cena

três discos, três pegadas, três momentos. tenho pensado que a criação de uma cena, por assim dizer, não significa necessariamente pessoas agindo de forma parecida ou criando músicas sob os efeitos das mesmas influências. se por um lado a diversidade de estilos da música feita em Curitiba reflete nossos tempos difusos e “nichados”, por outro contribui para a construção de uma base sólida de formação plural, em que não é “errado” ou menos conveniente lançar um EP gravado ao vivo e sem cortes ou fazer um show de lançamento de outro numa “casa na Rua Paula Gomes.”

começamos com a The Shorts. o EP “Serendipity” é o primeiro trabalho de estúdio da banda, formada em 2014 por Natasha Durski(vocal), Taís D’Albuquerque (guitarra), Daniel Kaplan (guitarra), Babi Age (bateria) e Andreza Michel (baixo e backing vocal) — Andreza e Babi fazem parte da Uh La La!, grupo dos mais pungentes da terrinha. o disco foi produzido por Ruth Varella (Brasil/USA), gravado por Virgílio Milléo (PR) e mixado e masterizado por Chuck Hipolitho (SP).

vi um show da banda no 92 Graus, tempos atrás. um dos primeiros da banda. foi brutal e sexy. teve cover de Talking Heads. e as músicas próprias, ao vivo, sugerem um Garbage com mais peso e velocidade. não é nada original, mas é essa a bem-vinda aposta da banda: aliar potência e suavidade, colocar melodia no barulho. destaque é o baixo de Andreza, pulsante e incontrolável no baixo da Uh La La!. ela agora pisa no freio e dá elegância às suas intervenções (ouça “Happy Lies”, você vai concordar comigo). o disco será lançado no dia 15, com show no 351:

+++Coisarada #4

The Shorts – lançamento do EP “Serendipity”

+ Anacrônica

DJ Juliana Girardi

Expo Pedrinho Pacheco (Peter)

Dia 15, às 22 horas. 351 (Trajano Reis, 351). R$10 até 00h; após, R$15. Com o CD:

R$15 até 00h; após,R$20.

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outra estreia: o trio e/ou. Luciano Faccini, Luque Dias e Yasmine Matusita se conheceram em 2009, enquanto cursavam produção sonora na UFPR. formaram a banda em 2012, depois de tocar “em bares, nas ruas, na casa de amigos e no palco da Capela Santa Maria.” lançaram há pouco o EP “Mientras”, de quatro faixas, gravado de forma independente – você pode baixar no site da banda, aqui.

o EP é curioso. a primeira faixa, “Mientras”, é uma milonga ritualística. cantada em espanhol, tem flautas e assovios em meio à distorções de guitarra – como se a força da natureza de repente quisesse dar um chega pra lá em todo esse caos urbano. “All Over”, em inglês, apresenta intervenções sonoras cotidianas (louças, talheres) e uma melodia tristonha à Leonard Cohen. “Todas as coisas ainda estão bagunçadas.”

e/ou (Foto: Tamiris Spinelli)

“Samba de Dodô” é um samba-lamento. a dualidade continua porque uma percussão artesanal dialoga com guitarras barulhentas. “Desabitado”, que cujo clipe você vê abaixo, fecha o disco e abrasileira a interessante proposta da banda, de dialogar com o presente buscando referências regionais e tipicamente brasileiras no passado. o show de lançamento do EP acontece no dia 16 de agosto:

+++e/ou

Sala da casa da Rua Paula Gomes, 529.

Abertura da casa: 18 horas; início do show: 19 horas

Ingressos à venda no Solaris – Discos, Livros e Cultura (R. Claudino dos Santos, 48 – Largo da Ordem). R$ 10 e R$ 15 (entrada + EP)

* A banda também toca no dia 29 de agosto, na Praça Genoroso Marques, junto ao Sesc Paço da Liberdade; e 12 de setembro, no DamaDame – Espaço Plural (Rua Ten. João Gomes da Silva, 148).

 

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para fechar a trinca, Dunas. a banda de Francisco Bley, Guilherme Nunes, Gabriel França e Lorenzo Molossi (o Veenstra), vive de criar momentos e compartilhá-los. se em 2013 eles lançaram um EP pop e quase ingênuo, agora caminham sobre nuvens. “Quarenta e Cinco Minutos” é, de certa forma, a continuação de “Ad Astra”, lançado em março deste ano. o disco também foi gravado ao vivo e sem cortes, o que exige uma sintonia quase transcendental entre os músicos. “Há alguns meses embarcamos sem muito refletir em uma viagem sensorial, cujas histórias traduzimos em música. O primeiro ato, Ad Astra, se mostrou como uma intensa abertura ao universo, um pulo ao desconhecido. O segundo ato acompanha um espectador que, ao assistir o primeiro ato em um auditório sideral, descobre sobre si tudo o que custava a ver. Ame.”, é o que diz a apresentação do trabalho.

a Dunas ousa ao oferecer música não somente como experiência estética à qual cabe  julgamento (visão meio positivista da arte), mas como forma de relacionamento interpessoal e, principalmente, como uma possibilidade escapista. o disco é a criação de um universo próprio, em que sons espontâneos – tosses ou efeitos indecifráveis – são nossos aliados apesar da superficial estranheza que causam.

(Foto: Jacqueline Kobiyama)

(Foto: Jacqueline Kobiyama)

as dez faixas do disco têm nomes etéreos como “Tudo Atua Perante a Fileira do Vazio” e “Os Cernes Meus e Teus Colidem.” não é possível classificar o álbum em tags que denotam gêneros ou subgêneros musicais, porque isso seria reduzir o resultado de uma experiência profunda em apenas palavras. o que importa na Dunas, e para a Dunas, é o todo, o conjunto de vivências sonoras, explícitas ou não, que acabam por nos levar a um mundo desconhecido ou esquecido, um lugar, enfim, em que a “expressão do afeto” ainda insiste em nos atravessar.

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