O primeiro contato que tive com a Cinema Mudo foi em 2010. Eu era um dos jurados do concurso Garagem de Talentos, promovido pela Gazetinha — hoje Gaz+ em parceria com a Fnac. Entre grupos cujos integrantes tinham cabelos coloridos e música vazia, e outros de pouca intimidade com o que pensavam em fazer, a banda se destacou e venceu a peleja.
Desde aquela época, era visível que o ritmo da Cinema Mudo é outro, em quase tudo. Eles fazem poucos shows, por exemplo – “por exigência das casas, precisávamos tocar muitos covers, o que não é exatamente o que gostamos de fazer” – e até palpitam sobre a função de escriba nesses tempos corridos. “Nos agrada bastante saber que há pessoas que buscam fazer um jornalismo cultural mais ‘informado’ do que apenas postar uns links.”
Então, em meio a seu próprio modus operandi, a banda curitibana formada por JP Branco, Fernando Moreira, Diego Donaisky, Marco Erzinger e Jones Monteiro lançou, na semana passada, o clipe para “Após a Calmaria.”
Contemplativa, a faixa é uma das mais antigas já compostas pelo grupo, ainda no sótão de um dos músicos – de novo, a ideia de um timing próprio. O clipe surge quase um ano depois do lançamento do EP Doses Homeopáticas. E dá sinais do que vem em breve. “Entramos em estúdio este ano, planejando gravar um EP com cinco faixas.”
Abaixo, três perguntas à banda. E o clipe de “Após a Calmaria”, gravado ao vivo no estúdio Casa do Rock, em Curitiba:
Por que revisitar uma música antiga e oferecer um clipe a ela? “Após a Calmaria” significa muito para a Cinema Mudo?
“Após a Calmaria” foi, desde seu início, uma música que todo o grupo gostou bastante, e sempre esteve em quase todos os shows. Ela surgiu na mesmo época das músicas do nosso primeiro EP, mas acabamos deixando de fora. Por isso, durante a pré-produção daquele EP, gravamos ela em casa, com programas e recursos caseiros (a bateria desta versão era toda gravada em midi). Desde então, a gente sempre ouviu a pergunta “por que ‘Após a Calmaria’ nunca foi gravada em estúdio?”. Então decidimos gravá-la ao vivo tanto para registrar uma canção que gostamos tanto quanto para mostrar que a banda não está morta. Isso sem gastar muito dinheiro.
O ritmo da Cinema Mudo é ponderado. A banda faz poucos shows, por exemplo. É uma atitude maquinada ou isso é circunstância do acaso?
Eu diria que é um pouco dos dois. Uns anos atrás, nós tocávamos todo mês em Curitiba. Mas, por exigência das casas, precisávamos tocar muitos covers, o que não é exatamente o que gostamos de fazer. Então decidimos reduzir o ritmo dos shows e focar nas músicas próprias. Passamos a fazer menos shows para que o público “sentisse falta” deles e comparecesse por vontade própria, e não somente por camaradagem. Entretanto, não “maquinamos” sumir tanto quanto sumimos nos últimos tempos. O problema é que as casas em que gostamos de tocar estão aceitando cada vez menos shows de “não-covers” e, quando aceitam, é com uma má vontade que desanima a gente e empata a nossa agenda na cidade. Tentamos fazer alguns eventos/shows em lugares alternativos, que não são bares, mas ainda não rolou nada. Queremos também fazer shows em outras cidades. Mas não temos booker/empresário/produtor, e nós cinco temos muitas outras atividades além da banda que impedem que dediquemos tempo para buscar shows em outros lugares.
Sobre o próximo registro de estúdio, o que podem adiantar?
Entramos em estúdio este ano, planejando gravar apenas um EP com cinco faixas — não temos recursos financeiros para mais que isso. Também estamos gravando um clipe “de verdade” para uma destas músicas (que provavelmente é a coisa mais pesada que a gente já fez, e a que mais me empolgou desde o início da banda). Já no começo das gravações, ficamos muito animados com o resultado. Aí surgiu a ideia de lançar este clipe que estamos gravando antes do EP. Se a recepção do público e da mídia for boa, tentaremos transformar este EP em um álbum full-length. Temos material para um álbum completo, mas não temos dinheiro. Então, se tudo correr bem, lançaremos um crowdfunding para financiar o que falta para gravar o resto do disco e soltaremos uns dois clipes no meio tempo. No momento, estamos gravando as vozes destas cinco músicas e começamos a gravação do clipe na semana que vem.
Julgamento do Marco Civil da Internet e PL da IA colocam inovação em tecnologia em risco
Militares acusados de suposto golpe se movem no STF para tentar escapar de Moraes e da PF
Uma inelegibilidade bastante desproporcional
Quando a nostalgia vence a lacração: a volta do “pele-vermelha” à liga do futebol americano