LONDRES – Doze mortos, pelo menos 50 feridos e muitos outros desaparecidos em Londres nesta quarta-feira (14), depois que as chamas tomaram conta de um prédio de apartamentos no oeste de Londres, onde há muito tempo os moradores já vinham alertando sobre o risco potencial de um incêndio catastrófico. Uma nuvem grossa de fumaça podia ser vista a quilômetros de distância, enquanto testemunhas relatavam como pessoas haviam pulado desesperadas de janelas perto do topo do prédio de 24 andares. Centenas de outros moradores, muitos acordados pelas chamas à 1h da manhã local, foram forçados a fugir por escadas escuras e tomadas pela fumaça. O prédio, que está localizado em um bolsão pobre de um dos bairros mais ricos de Londres, foi engolido em poucos minutos, disseram as testemunhas da tragédia.
“Era como um filme de terror, fumaça de todos os lados”, disse o residente Adeeb, que desceu 9 lances de escadas em muletas com sua esposa e três filhos. Adeeb, que se recusou um dar seu sobrenome, contou que não havia alarmes no edifício, e que ele só soube do fogo quando sua filha o acordou. “Ela disse: eu posso ver fogo. Abrimos a porta e vimos a fumaça”, descreve o sírio, que vive na Grã-Bretanha há 16 anos. Uma das suas filhas de Adeeb foi hospitalizada.
Doze mortes foram confirmadas. Os serviços de ambulância de Londres disseram ter levado 50 pessoas para cinco hospitais da área, 20 estão em estado crítico. Pelo menos 40 caminhões de incêndio foram usados, com 200 bombeiros envolvidos no esforço inútil de conter o incêndio. Muitos bombeiros se arriscaram no prédio para ajudar os sobreviventes, mesmo em meio a preocupações de que a estrutura entre em colapso. Bombeiros escalaram até o 20º andar para resgatar os moradores e levá-los para baixo da escada do prédio, as buscas continuam.
O incêndio, que se acreditou ter começado em um dos andares inferiores, durou quase nove horas. “Este é um incidente sem precedentes”, disse Cotton. “Nos meus 29 anos de bombeiro, nunca mais vi nada desta escala”. Acredita-se que ainda há pessoas presas no prédio, que abrigava cerca de 500 pessoas.
Cenas angustiantes
Testemunhas relataram cenas angustiantes enquanto os moradores presos nos andares superiores inclinavam-se nas janelas, piscando luzes do telefone celular e chamando freneticamente ajuda. Uma mulher jogou seu bebê por uma janela enquanto fogo e fumaça a cercavam. “Espero que nos braços de alguém”, relata James Wood, designer de 32 anos, que também descreve ter visto uma criança de uns 5 anos não se salvar.
Mohamad Jamalvatan, um estudante de engenharia biomédica de 22 anos, estava vendo um filme num centro comercial próximo de Westfield com sua irmã quando sua mãe ligou para dizer o prédio onde moram estava em chamas. Mais tarde, ele estava de volta e viu uma cena de terror se desenrolar. “Assim que cheguei, alguém apontou e disse ‘alguém está pulando, alguém está pulando’. Do 16º ou 17º andar, vimos um corpo descer.” Tudo aconteceu muito rápido. “Quando eu cheguei, havia 10 apartamentos em chamas. Depois disso, todo o edifício estava queimando. Foi assim”, ele disse, estalando os dedos.
Os residentes disseram ter ouvido o fraco som de alarmes de fumaça de unidades individuais, mas não ficou claro se o prédio tem um sistema de alarme integrado. Muitos disseram que foram poucos minutos para fugir antes que o prédio se tornasse um inferno.
O edifício, a Torre Grefnell, está localizado em uma das áreas mais elegantes de Londres, onde vivem celebridades, políticos e estrangeiros ricos. Está a uma curta caminhada do Palácio de Kensington. Mas a área também inclui bolsões de pobreza, especialmente em um conjunto de arranha-céus que marcam um ponto de entrada ocidental não oficial para o centro de Londres. As autoridades disseram que não conheciam a causa do incêndio e que isso seria investigado.
Alertas ignorados
Mas os moradores do prédio, construído em 1974 e usado como habitação pública, alertaram há muito sobre possíveis riscos de incêndio, apesar de uma grande reforma no ano passado.
“É nossa convicção de que um fogo grave em um bloco de torre ou local similar de alta densidade é a razão mais provável de que aqueles que exercitam o poder no KCTMO serão descobertos e levados à justiça!” Uma organização de residentes, o Grenfell Action Group, escreveu em uma publicação no blog no ano passado. KCTMO, que representa Kensington e Chelsea Tenant Management Organization, é o grupo que administra moradias públicas em nome do Royal Borough of Kensington e Chelsea, a oeste da área de Londres, onde o incêndio começou.
Na manhã de quarta-feira, o site do Grenfell Action Group foi atualizado, com uma publicação no fogo. “Todos os nossos avisos caíram em surdos, e nós previamos que uma catástrofe como esta era inevitável e apenas uma questão de tempo”, dizia a publicação.
Os moradores disseram que foram instruídos pela administração antes da tragédia para ficar em seus apartamentos em caso de incêndio e esperar que os serviços de emergência chegassem. Eles disseram que foram informados que suas unidades eram à prova de fogo durante pelo menos uma hora. A empresa de gestão ainda não comentou a tragédia.
Nick Paget-Brown, que lidera o conselho do bairro, disse à Sky News que visitou o prédio em maio passado depois que foi reaberto após a renovação. Ele disse que centenas de pessoas provavelmente estavam no prédio no momento do incêndio. “Eu realmente não estou em nenhuma posição para responder qualquer dúvida sobre a estrutura”, disse ele. “Claramente, há muito mais trabalho a fazer para realmente evacuar o edifício e estabelecer o quão seguro é”.
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