“Greta”, primeiro longa-metragem de Armando Praça, começa bem sua carreira. Selecionado para a 69ª edição do Festival de Berlim, teve sua première mundial na prestigiada mostra Panorama com casa cheia.
O filme segue Pedro (Marco Nanini), um enfermeiro homossexual de 70 anos que precisa liberar uma vaga no hospital onde trabalha para sua melhor amiga Daniela (Denise Weiberg). Para conseguir internar a amiga travesti no hospital lotado, ele esconde em sua casa Jean (Demick Lopes), um jovem que acaba de ser hospitalizado e algemado por ter cometido um crime.
Quando os dois se envolvem amorosamente, começam a repensar suas escolhas de vida e o futuro.
Ambientado em Fortaleza, o filme é livremente inspirado na peça “Greta Garbo Quem Diria Acabou no Irajá”, do dramaturgo Fernando Melo.
“Greta” concorre no festival ao prêmio de audiência e da crítica internacional (FIPRESCI).
Praça conversou com a Gazeta do Povo sobre sua motivação para fazer “Greta” e o que significa para ele e para o filme a estreia na Berlinale.
O que representa a seleção de Greta para o Festival de Berlim?
Uma das razões que nos leva a fazer um filme, penso que a todos nós diretores, é a possibilidade de dividir uma história e um ponto de vista sobre determinado assunto com o maior número possível de pessoas. A seleção do filme para um festival dessa magnitude é não somente o reconhecimento do trabalho, mas também a possibilidade de mostrá-lo numa plataforma que dará visibilidade e fará com que o filme chegue a mais lugares e, sobretudo, seja visto por mais pessoas.
O que o levou a se inspirar na peça de Fernando Melo para realizar Greta?
A peça de Fernando Melo, originalmente intitulada “Greta Garbo, Quem Diria Acabou no Irajá”, foi lançada no início da década de 1970. Naquele momento histórico as personagens retratadas no texto só podiam ser abordadas através do sarcasmo, da caricatura e do estereótipo. Quando conheci o texto em 2008, a montagem a qual eu assisti ainda abordava os personagens e suas histórias dessa forma, mas ainda assim percebi o quanto o enredo era atual e bonito e também o quanto aquela forma de olhar para os personagens havia ficado anacrônica.
Foi essa a principal motivação?
Sim. Isso me provocou o desejo de atualizar aquela história através de uma nova abordagem dos personagens, abandonando a comédia, mas não o humor, e abraçando o drama, ou seja, mudando o gênero do texto original. Isso me parecia um desafio interessante como roteirista e diretor.
Qual resultado espera do público da conceituada Panorama que está celebrando sua 40ª edição?
Para mim a grande expectativa é poder redescobrir o filme através do olhar do público. Ele ainda não foi visto por muitas pessoas que não estivessem envolvidas no seu processo de criação, então acredito que exibi-lo para um público cinéfilo e tão diverso culturalmente, atento as questões sociais e linguagem cinematográfica certamente me fará viver essa experiência.
Mostra oficial
A aposta hoje na mostra competitiva para um provável Urso de Ouro é “L’Adieu à la Nuit”, de André Téchiné. Estrelado pela diva Catherine Deneuve, conta a história de uma criadora de cavalos que se vê diante de um dilema moral ao ver seu neto envolvido com crimes políticos.
A história segue Muriel (Deneuve) que, ao receber a visita do seu neto que vem vê-la, antes de partir para o Canadá, descobre que ele tem segredos obscuros.
Téchine, de 76 anos, veterano crítico da Revista “Cahiers du Cinema” retorna à Berlinale onde esteve na competitiva oficial em 2007 com “As Testemunhas”.