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Diretora brasileira fala sobre “Chão” que estreia em Berlim.

O documentário “Chão”, de Camila Freitas teve estreia mundial na 69ª edição do Festival de Berlim.

O filme –  sobre o Movimento dos trabalhadores rurais sem terra (MST) – foi exibido na  Fórum, mostra dedicada ao cinema de vanguarda e experimental.

“Chão”  mostra a luta dos sem terra, através de uma comunidade de trabalhadores de Goiás, que em 2015 ocuparam parte do terreno de uma fábrica de cana-de-açúcar e exigiram  uma redistribuição da terra.  Documenta o dia a dia destes sem terra e lhes acompanha no seu trabalho no campo, seu ativismo político e sua esperança sobre um futuro melhor.

Na entrevista que deu a Gazeta do Povo, a diretora  – que foi aluna do Berlinale Talents –  disse que a seleção para Berlim traz uma sensação muito recompensadora de completude de um ciclo.

“Faz muito sentido voltar para cá um ano depois de ter participado do Doc Station em 2018, no início da etapa de edição de “Chão”.  É muito legal sentir que o festival sustentou a aposta da Berlinale Talents ao convidar o filme depois de pronto”, disse Freitas discorrendo  sobre o viés político do documentário.

“Do ponto de vista político, acredito que a estreia no festival é muito positiva.  Vivemos um momento de ascensão vertiginosa do conservadorismo no Brasil, em que o presidente da Republica afirma que combater todo o ativismo, criminalizar os movimentos por terra e moradia e acabar com a reforma agrária estão entre suas principais metas.  Em um momento em que a perseguição e criminalização a movimentos populares se intensificam no Brasil, o espaço de reflexão artística e política que se abre com a estreia do filme na Berlinale ganha um peso ainda maior.

Sobre sua motivação para ter realizado “Chão”, a cineasta disse que a  questão agrária sempre a fascinou em sua complexidade e urgência.

“Eu já tinha tido uma experiência de imersão com o movimento em 2001, junto a outros colegas do curso de cinema da UnB, em que frequentamos e filmamos por três meses um acampamento dos sem terra em Brasília.  Acabamos não concluindo o filme, e sempre tive vontade de voltar a ter contato com o movimento, o que não aconteceu antes de 2014”, explicou acrescentando que

a ideia do filme veio quando o MST ocupou um latifúndio de um político proeminente em Goiás, 12 anos depois de ter filmado o seu  primeiro curta no mesmo espaço.

“A partir de relatos de camponeses que haviam sido pressionados a vender suas terras e deixar o campo, “Passarim”  (2002) olhava para a transformação daquela paisagem em latifúndio. O filme acabou constituindo um documento importante para o movimento, o que nos reconectou e iniciou a parceria que deu origem ao “Chão”, detalhou.

Quanto ao resultado que espera do público da Berlinale,  Freitas acha que é difícil prever.

“É a primeira exibição para uma audiência internacional que não tem, naturalmente, a mesma vivência que o público brasileiro possui com o tema central do filme. Por outro lado, a Forum sempre se esforçou em dar espaço a vozes e narrativas fora do mainstream, a cineastas estreantes ou de países com menos exposição midiática, e também é um espaço em que cineastas mulheres historicamente tiveram mais espaço e igualdade.  Espero que o público possa se enriquecer com as reflexões artísticas e políticas que nos movem nesse filme”, declarou a jovem cineasta.

 

Filme chinês é retirado da Mostra Oficial

Com estreia mundial prevista para o dia 15.02 em Berlim,   “One Second”, do cineasta chinês Zhang Yimou, foi excluído  da programação.  Segundo release enviado  pela organização, a retirada se deveu a problemas técnicos de pós-produção.  Mas comentários dizem  que o  filme não será exibido devido à censura das autoridades chinesas.

“One Second” – que concorria ao Urso de Ouro – se passa durante a Revolução Cultural (1966-1976) período de grandes transformações sociais e políticas na China.

O anúncio informa que, no lugar de “One Second  será exibido “Hero”,  realizado pelo cineasta em 2005.

O  cineasta já tinha conquistado um Urso de Ouro no festival com “Sorgo Vermelho” em 1988.

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