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“Espero tua (re) volta”, de Eliza Capai, selecionado para a 69ª edição do Festival de Berlim teve sua première mundial neste sábado (09) em sessão de gala na Geração 14 Plus, mostra destinada aos jovens e concorre ao prêmio Glashütte de melhor documentário.  A seleção  não é coisa pouca: das 2.500 inscrições recebidas, foram selecionados 62 filmes.

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Seu novo filme é um documentário sobre o episódio ocorrido em 2015 quando várias escolas em São Paulo foram programadas para serem fechadas como resultado do agravamento da crise sócio-política. Os estudantes ocuparam prédios públicos em um ato sem precedentes.

Capai mostra o desenvolvimento dos protestos de muitas vozes, utilizando trechos de notícias, entrevistas e gravações feitas com câmeras de celular de ativistas.

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A cineasta é autora de “Tão Longe é Aqui” (2013), que discute a situação feminina a partir de uma viagem pela África, e que foi o melhor filme da mostra Novos Rumos do Festival do Rio.

Seu segundo filme “O Jabuti e a Anta” (2016)m  reflete, através de personagens ribeirinhas e indígenas, sobre as gigantes hidrelétricas amazônicas.

O release de divulgação de “Espero tua (re) volta”, escrito pela organização do festival  destaca  que “o trabalho altamente político de Capai torna-se mais relevante a cada dia que passa”.

A talentosa diretora conversou com  a Gazeta do Povo sobre a seleção para a  Berlim  e a motivação para fazer o filme.

 

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Qual a motivação para documentar a ocupação das escolas em São Paulo em 2015?

“A primeira motivação foi entender como aqueles meninos –  crescidos nas periferias e guetos, com um ensino de  pouca qualidade, em escolas que em geral pouco motivam o pensamento crítico e a organização enquanto grupos sociais de luta – haviam conseguido protagonizar um movimento tão expressivo, que culminou com mais de 200 escolas ocupadas e a revogação da  reorganização escolar. Quem são eles? Como isto aconteceu? Como eles estão hoje? Estas foram algumas das perguntas iniciais”.

 

Como foi o trabalho de pesquisa?

“Após me debruçar nas pesquisas, surgiram dois outros pontos importantes: um se refere a como as lutas secundaristas muitas vezes se perdem dentro das escolas, já que a cada três anos se inicia uma nova geração de estudantes.  Olhando isto, tive vontade de deixar um registro de como foi feita a luta, quais foram os passos dela, de onde vierem as ideias, quais foram os problemas que surgiram no caminho, quais as consequências, positivas e negativas, para os jovens envolvidos.  Isto foi possível graças ao importante material de arquivo de documentaristas que acompanharam e adentraram nas ocupações de 2015.

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Ao mesmo tempo, tive vontade de investigar e provocar sobre o que significam as lutas sociais para as sociedades e como isto não é, em geral, debatido em nossas escolas e sociedade de forma mais ampla.  O objetivo é levar a um público mais amplo –  aquele que acompanha as lutas estudantis –  novos olhares sobre o tema, o provocando e levando-o a refletir”. 

 

– O que representa para você e para  o filme essa seleção em Berlim?

“Ter sido selecionada foi uma enorme alegria.  O filme foi pensado para comunicar com um público jovem, então esta estreia com uma plateia e júri adolescentes é tê-lo,  logo de saída,  chegando ao seu público alvo.   Lançar um filme com este nome, com protagonistas que ocupam suas escolas e fecham avenidas como estratégias de luta por uma melhor escola pública – e neste momento em que vivemos no país de criminalização dos ativismos por grandes setores da sociedade – é um grande desafio.  E para mim, é uma emoção exibir o documentário, que reflete, a partir do movimento estudantil, sobre a guinada brasileira à direita, em uma cidade com a história de Berlim.  Será minha primeira vez como realizadora em um festival deste porte e estou super feliz! E para o filme, estrear na Berlinale é receber este carimbo de saída”.

 

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A Geração  tem um público jovem e muito engajado e o tema de “Espero tua (re) volta” tem um apelo grande Qual resultado espera ter desse público?

Estou muito aberta e curiosa para ver a reação deles, escutá-los, saber onde o filme ecoa neles, o que eles entendem destas histórias todas que contamos, que experiências de luta estudantil existem na Alemanha…Depois de tanto tempo criando esta história – dirigindo, montando, roteirizando – abri-la para o mundo é um momento muito mágico.  É o momento em que tento parar de controlar as coisas, e viro também espectadora – do filme e dos espectadores.