O caso Strauss-Kahn suscita algumas das mesmas perguntas que surgem em qualquer escândalo em que política e sexo se encontram. Será que o acusado abusou do poder adotando um comportamento de alto risco, e será que o poder o fez se sentir invencível e acima da lei?
O primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, o ex-presidente norte-americano Bill Clinton, o ex-governador de Nova York Eliot Spitzer e o postulante a candidato presidencial dos EUA Newt Gingrich são somente alguns dos poderosos que enfrentaram esse tipo de caso, embora nenhum tenha respondido a acusações de crime violento.
“O poder é afrodisíaco, como bem se sabe, e também sabemos que o poder de uma certa forma com frequência é tomado como poder de outras formas”, disse James Walston, professor de política italiana da Universidade Americana de Roma. “Por isso alguém que é o chefe do FMI pode pensar que consegue se safar de qualquer coisa. Certamente Berlusconi parece pensar assim também”, acrescentou.
Berlusconi, de 74 anos, figura proeminente na centro-direita italiana, enfrenta quatro julgamentos simultâneos por corrupção, fraude fiscal e por fazer sexo com uma prostituta menor de idade, além de usar o cargo para acobertar o fato. A acusação sexual se seguiu a anos de boatos sobre sua leviandade sexual.
Strauss-Kahn não é novato neste cenário. Em 2008, ele foi investigado pelo FMI pelo possível abuso de poder por um breve romance com uma economista do Fundo que era sua subordinada. O caso era consensual e ele foi inocentado, mas se desculpou publicamente por “um sério erro de julgamento”.
A França, como a Itália, é por tradição bastante tolerante com casos extra-conjugais, ao contrário dos Estados Unidos. A filha bastarda do ex-presidente francês François Mitterand compareceu a seu enterro, por exemplo. Mas, desta vez, políticos franceses e o público ficaram chocados. As acusações “caíram como um raio”, nas palavras da líder do Partido Socialista, ao qual Strauss-Kahn pertencia.