Um problema das opiniões é que elas são grátis. Não custa nada dar uma ideia sobre política ou economia. Se o autor da opinião estiver errado, se os fatos provarem que ele estava flagrantemente errado, redondamente errado, delirantemente errado, não há garantia de que seu equívoco lhe trará prejuízo. Pelo contrário, o autor pode continuar disparando palpites sobre os rumos do país.
Vejam o caso do ex-ministro Bresser-Pereira, que liderou o manifesto “Projeto Brasil Nação”, um documento lançado na semana passada contra a política econômica de Temer. Em setembro de 2011, quando Dilma deu uma rasteira no tripé econômico criado por FHC (o regime de metas de inflação, câmbio flutuante e metas de superávit), Bresser-Pereira disse que começava ali a verdadeira era de ouro da economia brasileira.
“O Brasil está voltando a se comportar como nação independente ao perceber o equívoco do neoliberalismo”, afirmou o ex-ministro na Folha de S.Paulo. Ele acreditava que se o programa fosse adotado com firmeza o país cresceria “a taxas mais elevadas, com maior estabilidade financeira, e com a inflação sob controle”.
Firmeza não faltou, mas o que aconteceu, como sabemos, foi o contrário. Quase perdemos o controle da inflação; investidores fugiram com medo da instabilidade e da crise fiscal.
Um ano depois, Bresser-Pereira disse ao Valor Econômico que o problema da economia era a excessiva valorização do real e que o país cresceria 5% ao ano se o dólar ultrapassasse R$ 2,70. Bem, o que aconteceu foi o contrário. Com o dólar passando de R$ 4, chegamos à pior recessão da história.
Mas quem disse que esses equívocos calam ou ruborizam o intelectual? Nada: com a pose e a empáfia costumeiras, ele dá de ombros aos fatos e até organiza abaixo-assinados com artistas e colegas.
No manifesto de semana passada, assinado também por Chico Buarque, Wagner Moura, João Pedro Stédile, o ex-prefeito Fernando Haddad e outras 37 pessoas, Bresser-Pereira mais uma vez disparou contra a “elite financeiro-rentista” que estimularia a “apreciação cambial de longo prazo e a perda de competitividade de nossas empresas” e “a ocupação de nosso mercado interno pelas multinacionais”. É sua velha opinião de sempre.
Costuma ser difícil estabelecer relações de causa e feito na economia. Mas é preciso uma bela acrobacia intelectual para negar que Dilma preparou a crise atual. Adiou o ajuste fiscal até depois da eleição de 2014; depois, para lidar com a inflação, a presidente teve que dar um repique na taxa de juros e cortar gastos – o contrário de uma política anticíclica.
Mas a pior crise da história do país não fez o economista e seus colegas mudarem ou questionarem suas posições. Tantas previsões erradas e receitas desastrosas não os abalaram.
Talvez a análise dos custos da opinião política explique esse fenômeno. Admitir um erro tem um custo psicológico alto demais. É muito mais barato fincar o pé numa opinião, como se os fatos estivessem todos a seu favor.