Isaac Newton fundou a física moderna ao afirmar que a atração entre dois corpos é proporcional à massa e à proximidade entre eles. Quanto mais massa tem um corpo, maior a força gravitacional. Os objetos atraídos tornam a massa e a gravidade ainda maiores, e assim um astro imenso se forma.
A ideia de força gravitacional ajuda a explicar um fenômeno bem distante da física – a alta do preço do bitcoin, que bateu R$ 30 mil ontem e já valorizou mais de 700% este ano.
Quanto mais gente entra no mercado de criptomoedas, maior se torna a massa desse planeta e, assim, sua força de atração. Mais sites de notícia, fundos de investimento, bancos e corretoras se interessam e se habituam com o novo mercado. Esse movimento de investidores institucionais diminui a estranheza do bitcoin – e aproxima ainda mais investidores da nova órbita.
Isso já está acontecendo no Brasil. A Empiricus, consultoria de análise econômica, já tem sua seção sobre o tema. A XP, maior corretora do país, deve começar a negociar bitcoins nos próximos meses – já contratou Fernando Ulrich como economista-chefe de criptomoedas.
A comparação com a física de Newton faz sentido pelo seguinte motivo: moedas e metais preciosos só têm valor porque as pessoas acreditam que eles têm valor. Pagamos R$ 130 por um simples grama de ouro porque acreditamos poder vendê-lo por um preço similar no futuro. Trocamos pedaços retangulares de papel colorido por um prato de picanha porque o dono do restaurante sabe que pode negociar os mesmos papeis coloridos com o açougue.
Isso também vale para o bitcoin. Quanto mais gente acredita que ele é uma reserva de valor, mais valor ele de fato adquire. Não corre risco de ser desvalorizado como as moedas de papel porque, como o ouro, tem a oferta naturalmente limitada.
Ou seja: bitcoin é o ouro digital, mas pouca gente percebeu isso. Todo o ouro já coletado no mundo vale hoje por volta de US$ 7 trilhões. Mesmo com toda a alta deste ano, o bitcoin ainda não chega a 2% desse valor. Se atingir meros 5% do “market cap” do ouro, valerá mais de R$ 70 mil.
Mas por que parar nos 5%? Imagine quando os investidores institucionais e os bancos centrais perceberem que as criptomoedas estão esvaziando o mercado de ouro. Quem diria: o “vil metal”, por milênios o investimento seguro, a reserva de valor por excelência, se tornará um ativo de risco. Essa constatação pode desencadear um movimento brusco em direção ao bitcoin.
Já há sinais desse movimento, segundo a Bloomberg. O Bullionvault, maior serviço de comércio e armazenamento de ouro do mundo, informou num relatório que a baixíssima movimentação do metal em outubro (um terço da média anual) ocorreu em parte por causa do “barulho ao redor do bitcoin”.
No Universo, a força gravitacional costuma causar colisões de asteroides, planetas e estrelas. Também faz astros jovens roubarem massa de outros astros, ou galáxias se apropriarem de estrelas de galáxias vizinhas. É este o caso do bitcoin: uma estrela em crescimento prestes a roubar massa do imenso e reluzente mercado de ouro.
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