A imprensa tem um novo clichê. Não há reportagem sobre bitcoin que fuja do modelo “moeda subiu X% este ano; especialistas alertam para o risco de bolha”.
Apesar do risco tão anunciado o bitcoin segue em disparada. Ultrapassou R$ 50 mil reais nas “casas de câmbio” brasileiras nesta madrugada. Subiu mais de 20% nas últimas 24 horas, 61% na última semana, 1900% no último ano.
Até os mais otimistas estão boquiabertos. “Estou aparvalhado” disse no Facebook o amigo Helio Beltrão, entusiasta do bitcoin e na minha opinião um dos economistas que mais entendem de investimentos no país. “Nunca presenciei e provavelmente ninguém vivo presenciou igual.”
Já presenciamos isso, sim. O valor do Facebook saiu de US$ 5 milhões em 2004 para US$ 15 bilhões em 2007. Multiplicou-se 3000 vezes – e nenhum especialista “alertou para o risco de bolha”. Hoje passa de US$ 500 bilhões.
Esse é o meu ponto. Se compararmos o bitcoin a um ativo tradicional, claramente percebemos uma euforia especulativa. Mas bitcoin é um “cisne negro”, é a prensa de Gutemberg; seu nascimento é um evento grandioso que tivemos a sorte de presenciar.
Assim como o Facebook, a moeda está estourando porque atingiu a “mass adoption”: ganhou a preferência e a confiança da massa. Commodities (metálicas ou eletrônicas) têm valor principalmente porque as pessoas concordam que elas têm valor. Desse ponto de vista, talvez o bitcoin ainda esteja barato. Sua capitalização ainda não chega a 5% do mercado de ouro.
O ensaísta Nicholas Nassim Taleb chama de “cisne negro” os eventos imprevisíveis e improváveis que surpreendem o nosso pensamento indutivo. Até o século 18, ingleses acreditavam que só existiam cisnes brancos. Quando chegaram à Austrália, perceberam que estavam errados: havia cisnes negros por lá.
O mesmo vale para o bitcoin. Até este ano, investidores consideravam bolha um investimento que valorizasse mais de 1000% em poucos meses. Então o bitcoin nos lembrou que padrões que se repetiram no passado nem sempre valem para o futuro.
É claro que em algum momento não haverá mais gente disposta a comprar bitcoins, e o preço deve se corrigir. Mas as previsões sobre a chegada deste momento, pelo menos até agora, se revelaram equívocos.