Rodrigo Constantino, meu vizinho aqui na Gazeta do Povo, é um amigo por quem torço e com quem compartilho convicções e visões de mundo. Mas até mesmo os melhores amigos – e talvez principalmente eles – merecem críticas.
Ontem um eclipse solar foi visível nos Estados Unidos. Milhares de americanos deixaram o trabalho, se reuniram em praças e parques, viajaram com a família aos locais onde o fenômeno poderia ser observado por completo. Daqui alguns anos, adultos lembrarão de quando eram crianças e viram o eclipse com o pai. Foi um belo dia de verão para pessoas pacatas e prósperas desfrutarem a vida.
Mas Constantino não entrou na onda. Viu na festa ao redor do eclipse um motivo para reclamar. Se a “histeria com ‘Game of Thrones’ já não é fácil de entender”, disse ele no Facebook, pior ainda é a febre dos americanos ao redor eclipse solar. “Ok, o Sol será totalmente tapado pela Lua. Legal. Mas precisa de tanta animação, de tanta empolgação? É só um eclipse.”
Constantino, meu caro, por que você é tão chato?
Movimentos do Sistema Solar não motivam textões contra a esquerda. Até onde se sabe, os astros são politicamente neutros. Mas nem por isso perdem o encanto. Às vezes faz bem sair da trincheira ideológica, lembrar que existe vida lá fora e se empolgar com o que não é anticomunista.
Não é a primeira vez que meu colega do podcast Ideias extrapola os limites da aporrinhação. Durante a Copa de 2014, ele percebeu o “2014” grafado em vermelho e num instante concluiu: é comunismo! Infiltração comunista na logomarca da Copa do Mundo!
Calma, Constantino. Menos, Constantino!
É crescente no Brasil uma geração favorável à legalização das drogas e do casamento gay que também defende princípios liberais na economia. São jovens desiludidos com o Estado e abertamente favoráveis a privatizações e ao livre mercado. Para um liberal como Rodrigo Constantino, existe aí um belo motivo para comemorar. As ideias que ele por tanto tempo defendeu estão cruzando fronteiras partidárias e conquistando terras até mesmo entre jovens de esquerda.
Mas Constantino não entra na onda: esbraveja. Montou o curso “Civilização em declínio: Salvando o liberalismo dos liberais”, no qual explica porque se afastou um tento do liberalismo e se aproximou do conservadorismo. “A civilização ocidental está em risco. Está em perigo. Está em xeque. Infelizmente boa parte disso é feita em nome do liberalismo”, diz.
Sem os valores tradicionais cristãos, acredita ele, teremos uma ‘ladeira escorregadia’: as pessoas deixarão de diferenciar o que é certo ou errado, homens serão punidos por serem heterossexuais, a família perecerá.
Calma, Constantino. A moral e as diferenças de comportamento entre homens e mulheres são traços evolutivos: surgiram muito antes do cristianismo ou das instituições tradicionais. É provável que as pessoas continuem sendo homens e mulheres por mais alguns milênios.
Tenho a impressão que meu colega é movido mais por um ressentimento pessoal contra a esquerda (em todas as suas manifestações) do que por um desejo de ver toda a sociedade, naturalmente diversa, defender a seu modo as ideias de liberdade. Ele não dará folga a sua verborragia enquanto não convencer todos os cidadãos do planeta a aderirem ao seu exato estilo de vida, a seu modo de vestir, a suas convicções.
Calma, Constantino. Menos, Constantino!
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