O escritor e crítico britânico D.J. Taylor é editor de uma revista de humor da Inglaterra, mas há muito o que se levar a sério em seu The New Book of Snobs (“O Novo Livro dos Esnobes”), publicado no mês passado. O livro é uma defesa ou pelo menos uma tentativa de explicar, sem pedras na mão, a tentação humana por luxo, ostentação e esnobismo.
Estamos hoje tão influenciados por ideias igualitárias (socialistas ou cristãs) que consideramos os pobres heróis da virtude enquanto os ricos se escondem como perseguidos pela Inquisição. Mostrar a própria riqueza parece causar hoje tanta indignação pública quanto a pedofilia e o racismo.
Não deveria ser assim, diz Taylor, pois a vontade de se mostrar mais rico, moderno ou sofisticado é um dos motores da criatividade humana. “Sem o esnobismo o romance inglês mais ou menos deixaria de existir, assim como o humor britânico, e, não muito atrás, as artes visuais. A música popular foi guiada pelo esnobismo desde o momento em que os Beatles a intelectualizaram ao gravar Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”, diz o autor. Sem o esnobismo, a arte seria um mero relatório sem encanto ou elegância.
Quem se exibe com porsches e pradas representa só o tipo mais conhecido de esnobe. Mas existem muitas outras marcas de superioridade. “A reivindicação de distinção moral ou social pode ser transmitida por sinais tão sutis como um botão aberto, um gesto, um olhar, uma entonação, a pronúncia de uma certa palavra – pequenos sinais muito bem decifrados por qualquer um.”
O esnobe intelectual faz questão de mostrar quantos livros já leu. O esnobe da alimentação saudável está sempre atento ao novo cereal exótico: chia, linhaça, quinoa vermelha. O dono de uma sala de estar luxuosamente decorada já perdeu o páreo para o esnobe que desenha e constrói os próprios móveis. O esnobe Zona Sul deixa você saber que ele passou o domingo no Posto 9 com amigos celebridades. O mais esnobe de todos é aquele que jura não ser esnobe.
Uma acusação frequente contra o esnobe é que ele é um novo rico, um “wannabe” – não um aristocrata de raiz, e sim alguém que copia os sinais criados pela verdadeira aristocracia. Mas isso faz dele um personagem ainda mais interessante. Mostra que o esnobe não está contente com si próprio, que quer crescer e ingressar num grupo para o qual não foi convidado. Não pertence a uma elite pela sorte de ter nascido nela, mas porque conseguiu entrar por esforço e mérito próprios.
O antídoto para o igualitarismo careta dos nossos dias é o que Nietzsche chamava de “moral dos senhores”, aquela que se guia pela força, vitória e prosperidade. Não há nada de errado em ostentar as próprias conquistas, o sucesso e a riqueza obtida de forma honesta. A admiração a conquistas e ao sucesso alheio é ainda mais louvável. Em vez de nos ressentirmos com os ricos, deveríamos admirá-los como companheiros do nosso próprio time.