Não faltam ambientalistas, nutrólogos e celebridades afirmando que os alimentos cultivados sem agroquímicos são mais sustentáveis, mais nutritivos e até “previnem câncer”. Grande parte dos consumidores concorda com essa crença, mas ela não faz o menor sentido.
Os orgânicos nunca foram um consenso na comunidade científica. Nos últimos anos, inúmeros estudos já comprovaram que esses alimentos não são mais saudáveis nem mais gostosos. Também está claro que eles não vão ajudar a salvar o planeta, já que necessitam de áreas muito maiores para serem cultivados. À luz da ciência, os produtos orgânicos nada mais são do que o resultado de uma agricultura rudimentar, que já se provou muito pouco eficiente em termos de produtividade. Até a década de 1950, quando a população mundial era de apenas 2,6 bilhões de habitantes, ainda podíamos nos dar ao luxo de produzir em pequenas quantidades. Atualmente, com uma população quase três vezes maior, não existe mais espaço para esse tipo de discussão. E nem precisaria.
Em 2012, um grupo de pesquisadores da prestigiosa Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, divulgou uma revisão detalhada de 237 estudos comparativos entre alimentos orgânicos e convencionais publicados em todo o mundo nas últimas quatro décadas. A conclusão foi que, apesar de mais caros, os orgânicos não eram mais nutritivos nem mais seguros do que seus similares produzidos de forma convencional. “Quando iniciamos este projeto, nós imaginávamos que encontraríamos alguns resultados que confirmassem a superioridade dos produtos orgânicos sobre o alimento convencional”, disse Dena Bravata, pesquisador responsável pelo trabalho, em entrevista ao jornal The New York Times. “Nós ficamos totalmente surpresos com os resultados.”
Outra pesquisa reveladora, realizada pela Universidade de Oxford e publicada na revista médica British Journal of Cancer, em 2014, concluiu que a ingestão de alimentos orgânicos também não reduz as chances de se contrair um câncer — muito pelo contrário. O estudo monitorou a saúde de 600 mil mulheres com mais de 50 anos ao longo de nove anos, período em que cerca de 50 mil delas desenvolveram pelo menos um dos dezesseis tipos mais comuns de câncer no Reino Unido. No entanto, quando comparados os resultados das 180 mil mulheres que nunca comiam orgânicos com as 45 mil que normalmente consumiam esse tipo de produto, não foi possível identificar nenhuma diferença significativa nos riscos. Na realidade, os cientistas descobriram que a chance de se desenvolver um câncer de mama era até ligeiramente maior nas pessoas que se alimentavam majoritariamente de orgânicos.
No Brasil não é diferente. Apesar da avalanche de notícias exaltando os benefícios dos orgânicos, quando submetidos a testes laboratoriais sérios, esses alimentos quase nunca conseguem comprovar suas vantagens, sejam elas nutricionais ou sensoriais. Em 2016, o Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital), entidade vinculada à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, fez uma revisão de milhares de trabalhos científicos comparativos publicados em todo o mundo desde os anos 1950. O resultado? Mais uma vez os produtos orgânicos e os convencionais foram considerados tecnicamente iguais.
Você já reparou que, por mais que os orgânicos se vendam como alimentos mais saudáveis e com maior teor de nutrientes, eles nunca destacam esses benefícios em suas embalagens? Seria este um ato de humildade? É óbvio que não. Isso só acontece porque tais vantagens não são cientificamente comprovadas. Para não correrem o risco de serem desmascarados pelas entidades de defesa do consumidor nem acusados de fazerem propaganda enganosa, os produtores orgânicos simplesmente omitem essas informações. Sem embasamento científico, a única forma de promoverem seus produtos é atacando os similares convencionais, na maioria das vezes por meio de reportagens recheadas de declarações de “especialistas”, como artistas e políticos, que não entendem absolutamente nada de toxicologia, apenas surfam a onda da sustentabilidade.
Trecho do livro “Agradeça aos agrotóxicos por estar vivo”, que será publicado este mês pelo jornalista Nicholas Vital.