O Nobel da Paz de 2017 foi para uma instituição – a Campanha Internacional para Abolir as Armas Nucleares (ICAN, na sigla em inglês). Ninguém duvida das boas intenções dos ganhadores, mas há um problema: talvez as armas nucleares sejam as melhores ferramentas em prol da paz que o homem já criou.
Muitos cientistas políticos e estudiosos de relações internacionais defendem essa teoria. A tese é simples: a bomba atômica introduz no jogo político a certeza de destruição mútua. Quem atacar primeiro sabe que também está se destruindo, pois a retaliação será devastadora. Adversários ganham bons motivos para evitar ataques – e assim a paz impera.
O principal defensor da teoria da paz nuclear foi o americano Kenneth Waltz. Para ele, o poder de intimidação da bomba não só evitou uma grande guerra entre os Estados Unidos e a União Soviética como também algumas disputas locais, como entre a Índia e o Paquistão, que construíram suas armas nucleares respectivamente em 1974 e 1998. “As armas nucleares fazem o custo de uma guerra parecer assustadoramente alto e, assim, desencorajam os estados de começar qualquer conflito que possa envolver esses armamentos.”
Se o resultado de um ataque é difuso, incerto e distante, fica mais fácil praticá-lo. Foi o que ocorreu na Primeira Guerra Mundial. Tanto os generais franceses quanto alemães imaginavam vencer o adversário em poucos meses – mas acabaram se matando durante 4 anos. Se soubessem que a Primeira Guerra terminaria com 16 milhões de mortos e 20 milhões de feridos, é provável que teriam se esforçado para evitá-la.
Já as bombas nucleares têm um poder informativo: todos sabem o que acontece quando uma delas explode. A bomba evita assim que líderes políticos e generais calculem errado a força do inimigo e subestimem a duração de um conflito.
Waltz, que morreu em 2013, acreditava que a bomba ainda facilitava a aproximação de antigos adversários. A aquisição da bomba pela China de Mao Tsé-tung em 1964, por exemplo, não impediu que os chineses anos depois se aproximassem dos Estados Unidos e na prática abandonassem o comunismo. “Governantes querem ter um país onde eles possam seguir governando”, escreveu ele. “Especialmente em estados fracos, as armas nucleares inspiram cautela.”
Um bom argumento contra a teoria da paz nuclear é que ela se baseia na crença de que os líderes políticos são racionais e nunca levarão o país a um destino suicida. Mas basta olhar ao redor para constatarmos que nem sempre isso é verdade.
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