É impressionante como as fanfarronices de Rodrigo Janot, que se despede hoje da Procuradoria-Geral da República, prejudicaram o Brasil.
Até o dia 17 de maio, estávamos confiantes que a reforma da Previdência seria aprovada e uma luz surgiria no fim do túnel das contas públicas. Com a melhora dos índices de emprego e do consumo, parecia que a economia brasileira viveria um gráfico em “V” – depois de uma forte queda, uma alta com a mesma intensidade.
Mas Janot decidiu se apressar e denunciar Temer mesmo antes das investigações contra o presidente terminarem. Construiu uma acusação exagerada e frágil, que foi facilmente derrubada pelo Congresso e que provavelmente resultará em absolvição de Temer quando ele for julgado, depois do término de seu mandato.
A indefinição causada pela denúncia nos jogou num gráfico em “L” – depois de uma forte queda da economia, a estagnação.
Por que – estou há meses perguntando – por que Rodrigo Janot não esperou a mala de Rocha Loures chegar ao destino?
Se tivesse esperado a mala chegar a Temer, como Janot acredita que chegaria, teria em mãos uma denúncia consistente e irrefutável. Temer cairia em poucos dias; Rodrigo Maia assumiria e a democracia seguiria seu rumo.
Mas Janot meteu os pés pelas mãos. Fez de Temer ainda mais refém dos deputados, que cobraram um belo quinhão para livrar o presidente. Pior, a denúncia deve inviabilizar a reforma da Previdência – só com muita sorte ela será votada antes da eleição de 2018.
Janot ainda manchou a reputação da Lava Jato ao fechar um vergonhoso acordo de delação premiada com os Batista. A divulgação da delação pelo jornalista Lauro Jardim lembrou o sensacionalismo da Operação Carne Fraca. Como uma pequena redenção, Janot revelou a fraude do acordo ao divulgar conversas entre Joesley Batista e Ricardo Saud na semana passada.
A liberação dessas conversas enfraqueceu ainda mais a acusação contra Temer, mas Janot não se deixou abalar. Interessado em posar por aí como guerreiro incansável contra a corrupção, denunciou Temer novamente. Mais uma vez, uma denúncia exagerada e frágil que terá vida curta.
Talvez a única vantagem de toda história foi a eliminação de Aécio Neves da corrida presidencial. As gravações das conversas do tucano revelaram sua postura não muito nobre – e seu desespero – em relação às investigações da Lava Jato. Fora esse benefício, o episódio da delação de Joesley foi um desastre para o país.
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