O (complete com o episódio lamentável da semana) mostra que a sociedade está em declínio. A causa desse episódio lamentável é (complete com a ideologia que você rejeita), portanto a solução é (complete com sua bandeira política).
Não importa o caso – um estupro coletivo, uma rebelião em presídios, o naufrágio de uma lancha – as opiniões que ele motiva costumam seguir o modelo acima. Nesta semana o padrão se repetiu na polêmica sobre a professora cruelmente agredida por um aluno em Santa Catarina.
Como sempre acontece, a evidência anedótica (e não uma evidência estatística) nos deixa aterrorizados com o rumo que a sociedade está tomando. “Os alunos estão mais violentos”, “os professores perderam autoridade”, “a sociedade está cada vez mais polarizada”, disseram por aí.
Mas o fato em si, por mais triste e brutal que tenha sido, não nos diz nada sobre a evolução da relações entre professores e alunos. Será mesmo que há uma violência crescente na sala de aula? Sabemos a frequência de episódios como esse no passado? Homens jovens, como o garoto de 15 anos que agrediu a professora, tendem por natureza à violência; é fácil encontrar notícias semelhantes há 20 ou 60 anos.
Depois de tomar por garantido que a situação se deteriora, partimos para enquadrar o episódio na nossa visão de mundo. “Se isso aconteceu, é porque as pessoas não seguiram o que eu há muito tempo recomendo”, pensamos.
A professora agredida, que pelo jeito pertence à ultraesquerda, acredita que a causa da violência é o neoliberalismo. “Há anos, estamos sendo colocados em condição de desamparo pelos governos. A sociedade nos desamparou”, diz ela.
Já direitistas culpam a falta de maioridade penal, a influência de Paulo Freire e do marxismo na educação, e a ruína das instituições tradicionais. Isso tudo teria removido a autoridade do professor sobre os alunos.
Mas se já é difícil mostrar que problema está aumentando, é impossível provar a relação entre o episódio e as causas que cada lado atribui.
Apesar da inconsistência, arremata-se a opinião com a receita individual para um mundo melhor: a solução é “mais investimento em educação”, “políticas públicas”, “a redução da maioridade penal”, “a volta dos valores conservadores”, “a luta contra o neonazismo”.
E assim usamos as notícias da semana para repetir nossos clichês e empacotar preferências políticas.