O leitor deve achar que troquei a ordem das palavras, mas é isso mesmo: sem a Revolução Russa, que completa 100 anos este mês, Karl Marx seria um filósofo de pouca relevância histórica. Se Lenin não tivesse voltado a Petrogrado em fevereiro de 1917, o marxismo não teria seduzido multidões no século 20.
Quem diz isso é o filósofo Alan Ryan, da Universidade de Oxford, no livro “On Politics”, seu monumental compêndio sobre a história da filosofia política. “Se o governo alemão não tivesse mandado Lenin embora de seu território e de volta à Rússia num trem lacrado em 1917, nós consideraríamos Marx um filósofo, sociólogo, economista e teórico político não muito importante.” O marxismo deve mais a Lenin que ao próprio Marx.
O autor do “Manifesto Comunista” seria um pensador de segundo escalão, de influência menor que a de Hegel na filosofia ou a de David Ricardo na economia. “Teóricos políticos reclamariam que a teoria política de Marx é imprecisa e inacabada”, escreve Ryan.
Lenin se enxergava como um intelectual revolucionário que tornaria realidade os planos de Marx e Engels. A partir de 1914, encampou a ideia de que a Primeira Guerra Mundial deveria ser uma revolução proletária internacional contra o capitalismo. Depois de conquistar o poder, fez da União Soviética um centro de difusão do marxismo que encantou acadêmicos antiamericanos e financiou revolucionários em todo o mundo.
O mundo sem Lenin e Marx: é interessante pensar nisso. É quase como a música de John Lennon: “imagine all the people living life in peace”. A ideia de luta de classes não jogaria povos inteiros contra si próprios, as pessoas não veriam o trabalho como uma exploração, o capital financeiro não seria o bode expiatório preferido pelos intelectuais brasileiros.
Por fomentar conflito, o marxismo é a ideologia preferida de sociopatas e populistas que tomam o poder fingindo representar a maioria oprimida. Hugo Chávez, Mengitsu, Kim Il-sung, Mao Zedong, Fidel Castro: todos esses assassinos utilizaram o marxismo como estratégia de poder.
Pessoas de esquerda argumentam que, não fosse o marxismo, não haveria direitos trabalhistas hoje em dia e os ricos explorariam os pobres sem limites ou constrangimento. Bobagem. Não é por causa de ideologias que os trabalhadores vivem melhor, mas pelo aumento da produtividade e da riqueza. Só ganhamos mais porque produzimos mais com menos recursos.
Não à toa, onde o marxismo impera, a prosperidade e a produtividade desabam; a fome é o destino. Se o marxismo garantisse direitos, veríamos venezuelanos, moçambicanos e chineses entre os trabalhadores mais bem-remunerados do planeta. O marxismo não só matou 85 milhões de pessoas – também espalhou miséria e opressão sobre os seus sobreviventes.