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Sérgio Cabral prova que transporte coletivo é importante demais para ficar na mão dos políticos

Até quando vamos acreditar no monopólio público do transporte coletivo?

Segundo os agentes da Operação Ponto Final, que ontem prenderam Jacob Barata Filho, o magnata do transporte coletivo do Rio de Janeiro, as empresas davam prêmios ao governador Sérgio Cabral quando ele aumentava a passagem do ônibus. Cabral teria recebido 122 milhões de reais em propinas.

O caso assombra, mas não é nada que os brasileiros não conheçam há um bom tempo. Como disse um procurador, esse tipo de corrupção é um dos mais antigos do Brasil. Também não é nada que economistas e cientistas políticos já não tenho previsto. A teoria da “captura regulatória” explica que empresas costumam influenciar os órgãos que deveriam regulá-las para eles agirem conforme os interesses delas e contra o público.

No entanto, apesar de tantos casos como esse se repetirem, especialistas continuam acreditando no transporte urbano centralizado e planejado por políticos e burocratas. Então pode apostar: daqui dois ou dez anos, veremos a mesma notícia desta semana nos jornais.

É interessante imaginar a explosão de criatividade que poderia existir no transporte urbano se empreendedores pudessem operar livremente, sem licenças ou tabelamento de preços.

Ônibus-lanchonetes levariam estudantes do trabalho à faculdade a um preço baixíssimo. Shoppings móveis transportariam passageiros de graça, enquanto eles fazem compras e assistem propagandas. Haveria ônibus especiais para os jovens entre os bares. A tarifa livre tornaria possível que ônibus de luxo atraíssem quem se preocupa mais com conforto. Vans operariam sem linhas específicas, calculando a rota por aplicativo, com base na origem e destino dos passageiros pelo caminho (como já fazem o Uber Pool). E o principal: haveria ônibus com cinto de segurança.

Mas recusamos tudo isso por medo do argumento do “vai virar bagunça”. “Se liberar, a cidade ficará repleta de vans irregulares”, diz o argumento mais comum.

Não: as peruas decrépitas que operam em diversas cidades não têm segurança jurídica. Clandestino, temendo ver seus veículos apreendidos pelos fiscais, o proprietário não investe em carros mais novos, não pode atrair investidores, abrir a empresa na bolsa de valores ou anunciar na TV. E repare: se mesmo velhas e insalubres as peruas atraem clientes, é porque facilitam a vida dos passageiros mais do que os ônibus regularizados.

Outro argumento contra o livre mercado no transporte é que áreas distantes, menos lucrativas, ficariam esquecidas. Não tenho certeza que isso aconteceria, mas se for verdade, nessas linhas o governo pode operar. Aliás, o transporte público precisa deixar de existir. Bastaria dar opção para o cidadão escolher: o sistema centralizado, dirigido por políticos movidos a propinas, ou o transporte descentralizado operado por empreendedores.

Por muito tempo acreditamos que o Estado era necessário para vigiar as empresas de transporte e coibir abusos. O Uber já deixou mais do que claro que a avaliação do mercado funciona melhor, pois cada passageiro é um fiscal do serviço. Já passou da hora de deixarmos de acreditar no monopólio público do transporte coletivo.

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