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Polzonoff

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"Ensina-me, Senhor, a ser ninguém./ Que minha pequenez nem seja minha". João Filho.

Venho do futuro

40 gramas: por que sou contra o impeachment de Dilma Rousseff

DILMA
Dilma: de impichada a presidente de banco; Lula, de presidiário a presidente do Brasil. (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

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Meus amigos ficam brabos quando digo que sou contra o impeachment de Dilma Rousseff. E sou mesmo! Alguns ameaçam deixar de falar comigo. Outros me xingam de comunista e até petista. Mas não me aborreço. Porque venho do Brasil do futuro, onde os 40 gramas são permitidos. E por isso posso prever tudo de ruim que vai acontecer nos próximos anos, se Dilma Rousseff sofrer mesmo impeachment. Ora, quer argumento melhor do que a realidade?

A começar pelo efeito mais imediato e danoso: Dilma Rousseff será imediatamente substituída por Michel Temer. Sim, aquele da verba volant scripta manent. Digo, o governo Temer até será bonzinho, levando em conta as circunstâncias. Mas para sempre estará marcado por um único gesto que, em menos de uma década, terá destruído a democracia brasileira como a conhecemos até então: a indicação de Alexandre de Moraes para compor o STF.

— O que é que você tá falando, cara? O Alexandre de Moraes é tucano e antipetista! É a favor da liberdade de expressão! É contra a liberação das drogas! É um constitucionalista respeitadíssimo que nunca, jamais, em hipótese alguma faria algo que fosse contra a nossa estimada Carta Magna — diz um deles. Ah, se ele soubesse...

Continuo com minhas previsões. O Lula vai ser preso - anuncio e os amigos fazem festa. Um deles diz que é óbvio que isso vai acontecer. Nem precisa ser vidente! Até que meus lábios se fecham no prenúncio de um inequívoco “mas”. Que não tarda: mas será primeiro solto, depois “descondenado” e, por fim, acabará eleito presidente em 2022. Faço uma pausa dramática. Mas nem precisava, por que os amigos já estão dramaticamente revoltados comigo. Uns me chamando de louco, outros também. Como ninguém resiste a um Nostradamus de botequim, porém, continuo com a sucessão de desgraças.

Aquele do SuperPop?

A Lava Jato não só vai acabar como também juízes e procuradores serão punidos, as empreiteiras envolvidas terão as multas bilionárias anuladas e, para todos os efeitos, os corruptos confessos serão inocentados. O Moro? Ah, o Moro será ministro da Justiça do presidente Bolsonaro [a plateia faz cara de espanto], daí sairá do governo, trabalhará na iniciativa privada por um tempo, será pré-candidato à Presidência e acabará eleito senador pelo Paraná. É a vez de os amigos trocarem a revolta pela gargalhada.

— Bolsonaro presidente? Aquele do SuperPop? Aí você já tá viajando demais, Paulo. Até para mentir tem que manter alguma verossimilhança. Pô, todo mundo sabe que em 2018 o presidente será o Aécio! – diz outro e um terceiro se empolga: — É 45 na cabeça, cara!

Não falo nada porque não há nada o que falar além de “eu sei disso tudo porque venho do futuro”. Mas ninguém vai acreditar. Faz-se silêncio e os amigos parecem refletir sobre a remotíssima possibilidade de minhas previsões estarem certas.

— Fale mais sobre esse tal terceiro governo Lula aí. Quem é o ministro da Fazenda?

Com naturalidade, digo que o ministro da Fazenda é o Fernando Haddad. Mas aí acho que exagero um pouco ao contar a eles que o vice-presidente é Geraldo Alckmin. Será que também devo contar que o advogado de Lula hoje ocupa uma cadeira no Supremo? E que a Dilma – meu Deus, tinha me esquecido da Dilma! – virou presidente de banco? Que Sérgio Cabral está solto e virou influencer? Que a censura virou corriqueira? Que o Brasil tem presos políticos? Que que que.

Fora, Dilma!

Que se dane! Conto tudo isso e os amigos, como não poderia deixar de ser, riem até perder o fôlego. De petista, comunista e louco passo a ser chamado de “um pândego mesmo!”, “que figura!” e “só você para imaginar essas coisas todas!”. Eis então que consultamos todos o relógio. Tá na hora. Vestimos nossas camisetas do Brasil, descemos para a rua e nos reunimos a outros milhares que, na praça Santos Andrade, exigem o impeachment de Dilma Rousseff.

Só então me dou conta de que não contei para eles o melhor dessa história toda que, evidentemente, não é feita só de desgraças políticas: virei colunista da Gazeta do Povo.

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