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Se não me falha a memória e o Google, foi em dezembro de 2016 que o então poderosíssimo juiz da Lava Jato, Sergio Moro, ironizou as estratégias da defesa de Lula. Ou seja, do causídico Cristiano Zanin. O episódio ganhou destaque no Jornal Nacional. As pessoas celebraram aquele momento simbólico da vitória da Justiça sobre a corrupção. Naquela época, parecia que o Brasil tinha, finalmente, depois de cinco intermináveis séculos, tomado prumo. Lula parecia derrotado. Os mais entusiasmados previam que Moro se tornaria presidente.
Seis anos. É pouco tempo. Quem comprou um carro em 72 prestações deve ter pagado a última parcela ontem mesmo. Quem celebrava não só a queda de Lula, mas também a aprovação num vestibular de Medicina, está se formando. Quem nasceu naquela época conturbada está começando a aprender a ler. Em seis anos, tivemos o privilégio indiscutível de testemunhar 2190 alvoradas – embora a maioria tenha passado despercebida. E, se não me falha agora a matemática, a biologia e a calculadora, foram 252.288.000 batidas desse seu coraçãozinho verde-amarelo aí.
Nesses seis anos, Lula foi preso. Bolsonaro levou uma facada – e depois foi eleito. Um hacker produziu provas ilícitas que o STF (outrora considerado pelo próprio Lula uma corte acovardada só por seguir a lei) considerou lícitas. Moro saiu do governo e, logo depois, caiu em desgraça. A Lava Jato, na prática, acabou. O Brasil ganhou um novo dono, que tratou de dar seus pulinhos para impor um novo presidente. Lula foi alçado ao poder por misteriosos guindastes eleitorais. E Zanin, com aquele seu visual rockabilly e o notório saber jurídico de um Toffoli, se tornou ministro do Supremo Tribunal Federal. Salvo algum imprevisto, até 2051.
Possibilidades
Mas fiz questão de botar no título que toda essa reviravolta em apenas seis anos é uma boa notícia. E não estava sendo irônico, não. É boa notícia sobretudo para aqueles que acreditam na perenidade desse lamaçal em que nos encontramos hoje. Claro que entendo que é difícil engolir não só Lula presidente pela terceira vez, como também ver Zanin ocupar um trono que deveria sustentar glúteos mais dignos. Mais sábios. Mas insisto: é boa notícia. É boa notícia porque a caótica política brasileira mostra que, com um pouco de sorte (ou azar), em seis anos se vai do inferno ao Palácio do Planalto.
Quem sabe o que acontecerá daqui a seis anos? A briga de Alexandre de Moraes contra as redes sociais, por exemplo, pode irritar um hacker militante. Autoridades importantes podem morrer. Algum peão fundamental no tal do xadrez 4D pode ter uma epifania e mudar de lado. Guerras podem eclodir. Novas alianças podem ser feitas; velhas alianças, desfeitas. Líderes improváveis podem surgir. Um meteoro pode cair na Terra.
Se bem que, falando assim, fica parecendo que a vida se resume apenas à política. Uma tese preguiçosa que estou até cansado de refutar. Então corrijamos esse equívoco começando a imaginar que, daqui a seis anos, você que hoje chora por mulher inalcançável poderá estar casado e com filhos. Poderá estar de férias num país que nunca nem sonhou em visitar (Nauru, talvez?). Poderá estar num outro emprego. Poderá estar devidamente convertido e de joelhos diante de Cristo (rezo por isso). Poderá, inclusive, estar rindo de toda a raiva que você aí deve estar sentindo hoje. Enfim, a vida é cheia de possibilidades. A vida política também.