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[GALVÃO]
Bem amigos da Rede Globo. Estamos aqui hoje para celebrar este momento especial. A milésima crônica de Paulo Polzonoff Jr. Coube ao destino nos escolher como tema e personagens. E a mim só me resta agradecer por esse plus a mais na vida de quem já cobriu tantos eventos importantes, como Copa do Mundo, Olimpíadas e corridas de Fórmula 1. Mas as emoções do esporte, confesso, não são nada em comparação a este momento mágico. Ao meu lado, meu grande companheiro de tantos anos, o inconfundível Walter Casagrande. Diz aí, Casão, o que você está sentindo?
[CASÃO]É um privilégio, Galvão. E o legal é que a gente sente que a história está sendo escrita neste exato momento.
[GALVÃO]E está mesmo, Casão. Sabe que o Paulo me contou que nem sempre ele sabe como a crônica vai terminar? Talvez seja um desses momentos. Talvez agora mesmo ele tenha escrito “talvez seja um desses momentos”. Talvez tenha começado uma frase. Talvez ele me obrigue a chamar alguém lá no campo.
[TINO MARCOS]Galvão!
[GALVÃO]Eu não disse?! Diga, Tino.
[TINO MARCOS]Vale lembrar que esta milésima crônica não é assim uma [pausa dramática] unanimidade entre os especialistas. Tem gente que diz que esse número está [pausa dramática] inflado. Tem muito artigo, entrevista e até [pausa dramática] reportagem no meio. E não é só isso, Galvão. Tem gente que diz que, em números absolutos, ele não está nem perto de chegar à [pausa dramática] milésima crônica.
[GALVÃO]É realmente complicado, Tino. Estou há 40 anos neste ramo e nunca vi uma gestão competente da cartolagem literária. E o resultado é que a gente chega a este dia especial sem saber se esta é ou não de fato a milésima crônica. Pode isso, Arnaldo? [silêncio] Ah, sempre esqueço que o Arnaldo se aposentou antes de ter a oportunidade de comentar os lances mais importantes dela, a milésima crônica de Paulo Polzonoff Jr. Que saudade do Arnaldo, Casão!
[CASÃO]E faz falta, né, Galvão?
[GALVÃO]Ô, se faz. Ele poderia estar discutindo aquela vírgula mais violenta ali. Aquele pronome oblíquo no começo da frase. Aquela frase que começa com pronome relativo... Mas espera aí que agora eu tenho que chamar ele. A grande estrela do dia. O homem das mil crônicas. O mito. Desde os bancos escolares. Desde o sofá imundo no Centro Acadêmico da UFPR. Ele que... Mas quem é que está com ele, hein?
[RÉGIS RÖSING]Galvão! Sou eu, Galvão.
[GALVÃO] Ah, é o Régis Rösing. Diz aí, Régis. O que o cronista tem a dizer neste dia tão especial?
[RÉGIS RÖSING]
É, Galvão. Eu estou aqui com Paulo Polzonoff Jr., que hoje está escrevendo a milésima crônica na Gazeta do Povo. Ele está muito emocionado aqui, Galvão. Paulinho, já vou começar com uma provocação. Afinal de contas, esta é ou não é a sua milésima crônica? [O entrevistado cobre o rosto e chora de soluçar] Pois é, Galvão. Como você pode ver, ele está muito emocionado. Paulinho, Paulinho. Olha aqui para a câmera. Diz para a gente. Essa é a sua milésima coluna mesmo? A quem você dedica este texto tão especial? [O entrevistado está quase tendo um ataque epilético de tanto chorar] Galvão, acho que não vai dar. Ele não consegue nem falar.
[GALVÃO]Alguém dá um calmante pro homem! Bom, enquanto o cronista se acalma, a gente continua aqui com a nossa cobertura exclusiva da milésima crônica de Paulo Polzonoff Jr. Você entende a emoção do cronista, né, Casão?
[CASÃO]Claro!
[GALVÃO]
Mas o público quer ouvir o que ele tem a dizer, Casão. É em respeito ao público que ele tem que falar com o Régis. Vamos fazer um intervalo e já voltamos. [A transmissão não vai para o intervalo e Galvão esquece o microfone aberto]. Alguém tem que fazer alguma coisa com o brancão. Pô, Régis, dá uma cutucada nele aí. Tem que engolir o choro. Tem que falar alguma coisa séria. Tem que responder. Pergunta para ele se... [Alguém avisa a Galvão que o microfone está aberto] Bem amigos, voltamos com a transmissão da milésima crônica de Paulo Polzonoff Jr. A expectativa é altíssima e o mistério também. Qual será o assunto desse texto que é um marco na história do jornalismo e, por que não?, da literatura brasileira. Não, mundial!
[CASÃO]Aposto que ele vai falar sobre política. É só ver a mais recente estripulia do Alexandre de Moraes, Galvão.
[GALVÃO]Não sei, não, Casão. O homem tá todo emocionado lá. Não acho que ele vá conseguir falar de política, não. Está mais com cara de sátira mesmo.
[CASÃO]Ou, ou, ou... Ou então uma paródia.
[GALVÃO]O mais provável é que... Mas tem alguém me chamando aqui no ponto, Casão. Régis? Ele finalmente vai conseguir falar? Parece que o cronista vai falar, gente. Quanta emoção!
[REGIS RÖSING]Não, Galvão. Inclusive ele já tirou as chuteiras e está voltando para o vestiário...
[GALVÃO]Mas não é possível!
[TINO MARCOS]Galvão!
[GALVÃO]Diga, Tino.
[TINO MARCOS]Sentiu. O cronista realmente sentiu o peso da [pausa dramática] milésima coluna e pediu para sair de campo. É oficial: não dá mais para ele.
[GALVÃO]Realmente é lamentável o estado a que chegou a crônica literária e jornalística brasileira. É vergonhoso. Isso jamais aconteceria na Europa. Lá, se o cara faz uma dessas, vai preso! Ou nunca mais joga! Bom, estão me falando aqui que é para encerrar. Se não vai ter, não vai ter. Não adianta insistir. E assim encerramos a transmissão da milésima crônica de Paulo Polzonoff Jr. Fique agora com a Sessão da Tarde e o filme “Curtindo a Vida Adoidado”.
* O colunista sai de férias e volta em maio.