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Polzonoff

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"Para nós, há apenas o tentar. O resto não é da nossa conta". TS Eliot.

A sanção presidenciau-au e a orientação política dos animais de estimação

Especialistas dizem que a ausência dos gatos na cerimônia tem uma motivação simples: nos governos anteriores, os ratos eram mais abundantes nas cercanias. (Foto: Reprodução/ Instagram Grumpy Cat)

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O presidente Jair Bolsonaro, numa cerimônia destinada a virar meme, sancionou a Lei 1.095/19, que aumenta a pena para quem comete maus-tratos contra os animais. Longe de mim querer ver os bichinhos sofrendo ou abandonados, mas a sanção da lei torna o Brasil um país sui generis, onde maltratar um cão é considerado jurídica e simbolicamente mais danoso do que maltratar uma criança.

Mas não vou entrar na discussão moral da lei de autoria do deputado Fred Costa (Patriotas), que também esteve presente à cerimônia e, segundo fontes ouvidas pela reportagem, se comportou direitinho. Acredito que o psiquiatra Theodore Dalrymple já tenha escrito exaustivamente sobre o sentimentalismo, a antropomorfização dos animais e suas consequências.

E, antes que venham me acusar de ser insensível ou um monstro que odeia animais, gostaria de deixar claro que a Catota, a gatinha que ronrona no meu colo enquanto escrevo este texto, discorda veementemente.

Gatos e ratos

Aliás, na cerimônia de sanção da Lei Sansão, muitos analistas políticos repararam numa ausência política importante: os gatos. Enquanto um vira-latas caramelo (Caramelo brasiliensis) se exibia todo para as câmeras, merecendo até mesmo um cumprimento presidenciau-au, os gatos preferiram se ausentar. Mais do que um racha no governo, os tais analistas políticos viram isso como um alinhamento claro dos gatos à esquerda.

“Gato é tudo comunista”, declarou um deputado que preferiu se manter anônimo para não gerar antipatia das gateiras. “Gato é arrogante. Acha que sabe tudo, que sempre está com a razão. E acha que tudo lhe pertence. Gatos são obviamente de extrema-esquerda”, observou o sociólogo Dóguila Aumarino. Perguntando sobre a ausência de felinos na cerimônia presidencial, um gato que andava ali por perto do Palácio do Planalto olhou, pensou, revirou os olhos, deu as costas e foi embora com seu passo tranquilo.

Especialistas, contudo, especulam que a ausência dos gatos na cerimônia tenha uma motivação muito mais simples: nos governos anteriores, os ratos eram mais abundantes nas cercanias palacianas.

Cãomissão Parlamentar de Inquérito

Nem todos os cães, cãotudo, ficaram felizes com o uso político do Camarelo brasiliensis por Jair Bolsonaro. Rex Totó, presidente do Sindicanis e do Clube dos Cínicos do Brasil, disse, babando, que O Vira-latas Mais Querido do País não representa o posicionamento de toda a categoria. “Vamos inclusive entrar com uma ação no Superior Tribunal Canino para que o Caramelo revele quantos ossos recebeu por essa ação de marketing”, disse.

Desafetos do deputado Fred Costa sugerem também que seja aberta uma Cãomissão Parlamentar de Inquérito para investigar os privilégios concedidos aos vira-latas durante o ato de sanção da lei. “Não havia nenhum Lulu-da-Pomerânia. Nenhum Golden Retriever. Se isso não é racismo, não sei o que é”, provocou um tucano – que justificou a própria ausência na cerimônia dizendo que é animal silvestre, não um petizinho qualquer.

Outros animais também reclamaram que a lei não é clara para casos específicos de suas espécies. “Jogar um peixinho-dourado falecido no vaso sanitário configura ocultação de cadáver?”, questiona o sr. Cágado, que saiu diretamente de uma fábula de Esopo só para encerrar este texto.

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