Irã lança mísseis contra Israel, mas felizmente não foi desta vez que eclodiu a Terceira Guerra Mundial.| Foto: EFE/IRNA
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Sábado, 13 de abril de 2024. Estava todo feliz assistindo a “Largados e Pelados” quando peguei o celular para anotar a ideia: “Largados e Pelados é o melhor antídoto que existe contra o feminismo e a ideologia de gênero”. E, já que estava com o aparelho na mão, por que não dar uma olhadinha no que está acontecendo, não é mesmo? Foi o que fiz. Para descobrir: estourou a Terceira Guerra Mundial.

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“Vish”, disse para a minha mulher, que na hora achou que meu espanto era reflexo de um novo movimento no xadrez 4D da briga entre Elon Musk e Alexandre de Moraes. “Não, não. Aliás, parece que nem vai dar para continuar discutindo isso”, expliquei, acrescentando que o Irã, dos amiguinhos do Lula, havia lançado um enorme ataque com drones e mísseis contra Israel – país e povo que os petistas odeiam. “Vish”, disse ela, acrescentando que eu deveria escrever “vixe”. Talvez no futuro.

Como as armas aladas demorariam um bocado para atingir o alvo, tínhamos tempo de sobra para discutir os efeitos daquele ataque. “A gasolina vai subir”, disse ela, pragmática. Mas confesso que estava pensando em consequências mais espetaculosas – e de longo prazo. Em fome e rompimento das cadeias de produção. Talvez racionamentos. Em mortos, milhões deles, a maioria inocente e jovem. Até em cogumelos atômicos pensei, porque aquela é a hora em que minha imaginação está mais assanhadinha.

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Na tela do celular, imagens mostravam a esquadra mortífera cruzando os céus do Iraque. Alguém disse que hackers tinham invadido o sistema de defesa antiaérea de Israel. “Vai ser um massacre”, previu alguma dessas arrobas especializadas em tudo. Na confusão, acreditei e temi. Aos poucos começaram a chegar também análises que, para um analfabeto em geopolítica como eu, soavam todas catastrofistíssimas e acertadíssimas. Irã ataca Israel, Israel retalia com a ajuda dos Estados Unidos, Rússia entra no jogo pra defender os aiatolás, OTAN reforça o time do Ocidente, China no aquecimento. E, no meio dessa briga de cachorro grande, o pinscher Brasil, presidido pelo fã de ditadores Lula. Aquele que, por falar em cachorrinho chato e irritante, faz cocô nas calçadas do mundo sem que seu dono se dê ao trabalho de limpar.

Fetiche da guerra

Por falar nisso, que azar, o do Brasil e dos brasileiros. Bem na hora em que Alexandre de Moraes parecia estar nas cordas, levando certeiros jabs curtos no fígado, estoura uma guerra. Ou melhor, a Terceira Guerra Mundial, como eu acreditava até as 19 horas de sábado. Mas é uma questão de prioridades. O que é a censura alexandrina em comparação com um conflito em escala global? Eis que corri para atestar com aquela certeza típica dos idiotas emocionados e apressados: acabou Musk x Xandão.

Logo depois, porém, ah, porém! As imagens que eu assistia pelas redes sociais já mostravam o sistema de defesa antiaérea de Israel abatendo os drones e mísseis iranianos. Um a um. Parecia o jogo “Asteroids” da minha infância. Quer dizer que a Terceira Guerra Mundial vai ser assim, asséptica? Está explicado por que não fabricam mais soldadinhos de chumbo. Ou seria por causa do chumbo? Sei lá. Só sei que deixei o celular de lado e anunciei a chegada do sono. “Como você consegue dormir com uma guerra acontecendo?”, me perguntou minha mulher, os olhos grudados na telinha. Não sei o que respondi.

Porque naquele delicioso devaneio que antecede o sono eu pensava no que vou chamar aqui de “fetiche da guerra”. Essa ideia sem muita base real de que a qualquer momento o mundo inteiro entrará em guerra e aí, sim! Aí, sim, os meninos se tornarão homens, o mundo entrará nos eixos (sem trocadilho, por favor) e será possível distinguir com clareza o bem e o mal. Aí, sim, haverá uma espécie de purificação da Humanidade. Exatamente como aconteceu com o “fetiche da peste” de alguns anos atrás. É uma ideia que seduz muitos homens, essa de que uma guerra com gê maiúsculo será capaz de dar sentido a vidas que hoje se resumem a consumir, jogar videogame e tretar pelas redes sociais.

No domingo, acordei sem me lembrar que a Terceira Guerra Mundial tinha estourado. O que era um sinal claro de que não havia Terceira Guerra Mundial coisa nenhuma. Só me dei conta ao passar manteiga no pão e mergulhá-lo no café-com-leite. Fui conferir e realmente. A Terceira Guerra Mundial durou apenas um dia. Ou nem isso. Não será, pois, desta vez que teremos o questionável privilégio de assistirmos a um cogumelo atômico. Ainda bem, né? Ah, não vai me dizer que você é desses que acha que uma guerra mundial neste momento seria didática ou coisa do gênero! Ufa. Por um instante achei que você fosse desses.

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