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Polzonoff

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"Ensina-me, Senhor, a ser ninguém./ Que minha pequenez nem seja minha". João Filho.

Constatação empírica

Acabou a pandemia! E a gente nem para celebrar…

comemoração fim da pandemia
Para evocar o poeta, é assim que a pandemia terminou: não com um pronunciamento do dr. Tedros, mas com um silêncio burocrático. (Foto: Pixabay)

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Estamos tão imersos na campanha política que às vezes nos esquecemos do mundo concreto que nos rodeia. Vocês viram que tem ameaça de cogumelo atômico na Europa? Viram que os criativíssimos economistas argentinos criaram não um, e sim 14 taxas de câmbio diferentes, incluindo o “dólar Coldplay” e o “dólar soja”? E o mais importante: vocês repararam que a pandemia de Covid-19 acabou?

Para evocar o poeta, é assim que a pandemia terminou: não com um pronunciamento estrondoso do dr. Tedros, mas com um gemido. Um sussurro. Um silêncio. É, é isso: um silêncio burocrático. De um dia para o outro, simplesmente os famigerados mortômetros deixaram de ser publicados, as máscaras e o álcool em gel voltaram para o inferno sanitário de onde jamais deveriam ter saído e a exigência de vacinação virou piada. À exceção de um ou outro neurótico que se nota nas ruas, o medo desapareceu.

Eu me dei conta disso há poucos dias, ao ir ao mercado e, ainda na entrada, me lembrar de quando tínhamos que nos besuntar em álcool em gel e medir a temperatura antes de fazer as compras. Que estavam limitadas ao que os burocratas especialistas em idiocracia diziam ser essencial. Num supermercado aqui de Curitiba, instalaram até um “túnel de descontaminação” para os carrinhos. E pensar que tinha gente que acreditava na siença por trás disso tudo!

Ai de quem dissesse que tudo foi, é e, numa pandemia semelhante, continuará sendo ridículo. Logo recebia às costas a marca de “anticientífico” e era obrigado a errar pela terra arrasada do bom senso. “Como assim você não tem empatia?!”, me perguntou certa vez um pandeminion, aproveitando o embalo para dizer que eu era bobo, feio e cara-de-mamão e que o Cristianismo dele era maior do que o meu, entre outras sandices.

Maravilhado ao constatar o fim da pandemia, dei continuidade às compras. Já tem panetone nas gôndolas, sabia? Ao pegar na prateleira uma simples embalagem de pilhas, quase chorei. E me lembrei de uma amiga que, em pleno inverno curitibano, quando as temperaturas chegam perto do zero absoluto (-273,15 °C), foi impedida pelo segurança do mercado de comprar uma resistência para o chuveiro elétrico. Terminadas as compras, fui até o caixa e constatei com esses próprios olhos que a terra um dia há de comer: tiraram o acrílico de proteção que (segure o riso!) criava uma barreira sanitária entre mim e o atendente.

Como é que não tem ninguém celebrando esse evento que entrará para a história como “A Queda da Barreira de Acrílico”? Como é que os jornais não estamparam assim bem grandão nas capas que A PANDEMIA CHEGOU AO FIM? Em minha imaginação, no dia em que a pandemia acabasse também acabariam os estoques de espumante. E acenderíamos gigantescas fogueiras com as máscaras, ao redor das quais dançaríamos até o dia raiar. E rezaríamos pelas almas dos mortos. E nos abraçaríamos destemidamente. E o som de alguém tossindo ao longe daria início a um surto de gargalhadas. E isso. E aquilo. E tal.

Agora que acabou, vale aqui um registro traquinas: já repararam que tudo o que era considerado “conspiração de extrema-direita” está se revelando ao menos parcialmente verdadeiro? Da origem laboratorial do vírus aos questionamentos quanto à eficácia da vacina, uma a uma vão caindo catedraizinhas de areia que os sacerdotes da siença construíram. Só espero que desses escombros se tire alguma lição.

A OMS ainda não carimbou as três vias do comunicado oficial, mas que se dane! Digo eu a quem quiser ouvir: a pandemia de Covid-19 acabou. A vida voltou ao normal. Já se pode sair por aí lambendo os corrimãos. Os perdigotos são novamente livres para cruzar os céus em animadas conversas de botequim. Até os torcedores do Coxa podem se abraçar nos raríssimos gols do alviverde. De novo estamos livres para planejar e imaginar o futuro – pelo menos até outro pânico nos colocar todos a bordo uma nova nau de insensatos.

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