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Polzonoff

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"Ensina-me, Senhor, a ser ninguém./ Que minha pequenez nem seja minha". João Filho.

Carta ao Leitor #3

Agora, um rim: Faustão e o persistente dilema da confiança

Faustão
Faustão está de rim novo. E a gente continua com a velha desconfiança de sempre. (Foto: Reprodução)

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Caro leitor,

Aconteceu de novo. O ex-apresentador Fausto Silva, o Faustão, precisou de um transplante de órgão. Desta vez foi um rim. E em pouquíssimo tempo, coisa de 48 horas, conseguiu doador.  O caso novamente expõe a desconfiança com que os brasileiros veem os endinheirados, e não só os políticos. Escrevi sobre isso há alguns meses, quando Faustão se submeteu a um transplante de coração. E aqui entre nós vou confessar que, desta vez, minha ingenuidade intencional sofreu um ligeiro abalo. Não adianta. A corrupção está entranhada em nós. É a nossa sina.

Mudando rapidamente de assunto, quero agradecer às dezenas de milhares de mensagens que recebi por conta da carta passada, na qual eu me dizia assim meio borocoxô. É uma fase. Vai passar. Aliás, já está passando, como puderam comprovar aqueles que leram meu relato da luta de boxe entre Popó e um Bambam transformado em ministro do STF. Enquanto não passa, porém, vou pedir aos leitores de fé que rezem por mim. É, de vez em quando eu também preciso.

De volta ao Brasil da desconfiança, do medo e da indignação permanentes, um de vocês me pede para falar sobre a Polícia Federal. Como ela deixou de ser aquilo que foi um dia, isto é, uma instituição ocupada em prender traficantes & corruptos, para se transformar nisso que anda sendo, isto é, uma versão tupiniquim da Stasi, ocupada em prender opositores do regime e atender as ordens de Alexandre de Moraes.

Pensei um pouco e cheguei a uma resposta para essa questão. O problema é que agora estou com outra dúvida: devo ou não escrever a minha versão desse processo que não é exatamente de decadência, e sim de, digamos, reafirmação da identidade por parte da PF? Pense mais um pouco, Paulo – dirá alguém. E é o que farei. Mas antes quero adiantar que nessas horas a leitura de Chesterton cai bem. Muito bem. “O que há de errado com o mundo sou eu”, diz ele no livro homônimo.

Não convém se esquecer, embora essa seja uma daquelas verdades incômodas. Talvez a mais incômoda de todas. Uma verdade da qual heróis e vilões fogem como o diabo da Cruz e o escritor do clichê. Imagine que maravilha se fosse o contrário. Se Lula chegasse à conclusão (sábia) de que o que há de errado com o Brasil é ele. E é. Se Alexandre de Moraes chegasse à conclusão (óbvia) de que o que há de errado com a democracia é... ele. E é. Se cada um de nós chegássemos à conclusão (necessária) de que somos os responsáveis por um mundo tão confuso e caótico. E somos.

(Neste momento, eis que alguém invade o campo das digressões filosóficas para perguntar: “Foi aqui que pediram uma piada de português?” Viu, eu disse que a fase borocoxô estava passando).

O que há de errado com o mundo sou eu. Aí está uma reflexão que faço todos os dias. Porque embora nossos atos e palavras possam ter as melhores das intenções, o fato é que erramos no atacado e acertamos no varejo. E estes somos nós, que paramos para fazer um exame de consciência, que nos confessamos, que pedimos perdão a Deus e aos nossos semelhantes. Imagine como erram os que erram certos de que são perfeitos! O que se acham investidos do dever de curar o mundo da “doença” que é o próximo. Só porque ele pensa diferente. Ou errado.

Um abraço apertado,

Imagem do corpo da matéria

P.S.: Carta sem post scriptum é estranha. Então aqui vai. Sinto falta de falar de cultura e por isso meu plano, daqui por diante, é fugir do noticiário político ao menos uma vez por semana e usar filmes, livros e músicas como mote de conversa. Neste primeiro exercício, falo do filme “A Sociedade da Neve” e de como Nelson Rodrigues reagiu às primeiras notícias sobre os “antropófagos dos Andes” – palavras dele. Espero que você goste.

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