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Enquanto escrevo este texto, circulam pelas redes sociais vídeos de supostos trabalhadores sem-terra vandalizando a sede da Aprosoja (Associação dos Produtores de Soja) em Brasília. Além de invadirem a propriedade privada (sem que Alexandre de Moraes se escandalizasse com isso, como lhe convém), os terroristas picharam o lugar com slogans contra o presidente Jair Bolsonaro e contra o agronegócio.
“Agro é morte”, lê-se numa das pichações. O slogan macabro é uma tentativa de se contrapor a uma bem-sucedida campanha de marketing que mostra a pujança do agronegócio no Brasil. Por consequência, é também uma tentativa de se contrapor à realidade, reforçando a imagem cheia de teias de aranha de um agricultor malvadão e dominado pela ganância que nos condenaria todos à fome. Nada mais distante da verdade.
Me causa espanto, aliás, que essa imagem feudal perdure no imaginário da esquerda oportunista. Quem me lê com frequência sabe que procuro sempre encontrar uma explicação outra que não a má-fé para esse tipo de equívoco. Mas, neste caso, não há outra explicação que não a má-fé teimosa em ver no grande produtor um bicho-papão do capitalismo, quando não um inimigo da vida.
Se há comida em abundância do mundo hoje é por causa do agronegócio. E, sim, os preços dos alimentos estão altos, mas estariam muito mais altos se não fosse a produção em escala de grãos e carne. Bill Bryson, citando o historiador Christian Petersen em seu ótimo “Em Casa”, diz que na Inglaterra do século XIX as famílias comprometiam até 80% da renda com alimentos. “Até mesmo a classe média gastava até 2/3 da sua renda em comida (enquanto hoje uma família gasta 1/4 da renda em comida)”.
Isso sem falar na disponibilidade e variedade de alimentos propiciada por um capitalismo mundialmente conectado. Vá a qualquer supermercado em bairro de classe média e, se tiver dinheiro, você poderá comprar facilmente alimentos do mundo inteiro. A fome por falta de renda ainda é um problema, lógico. Mas a fome por falta de comida (como a que ocorreu na Irlanda do século XIX, depois que uma praga atingiu todas as plantações de batata do país) é impensável hoje em dia.
Graças, vale enfatizar, ao agronegócio – atualmente o vilão preferido da esquerda, até porque os industriais hoje em dia parecem aderir de bom grado às pautas progressistas. Adicione-se ao mito do agricultor malvadão (que, do alto de sua colheitadeira milionária, quer plantar mais e mais para, de alguma forma, disseminar a fome pelo mundo) a histeria malthusiana do ambientalismo e pronto. A esquerda tem, de novo, um inimigo para chamar de seu.
“Soja não enche o prato”
Outro slogan pichado na Aprosoja pregava desonestamente que “soja não enche o prato”. Mais do que a falta de talento publicitário dos terroristas do MST, a frase mostra como a esquerda se utiliza da ignorância dos miseráveis para torná-los ainda mais miseráveis. Tudo em nome da causa maior, do bem comum, do triunfo dos destituídos. Ou qualquer outra abstração do gênero.
Soja obviamente enche o prato. E não só de shoyu ou tofu, como podem pensar os apressadinhos. Soja enche o prato ao forrar o estômago dos deliciosos porcos e frangos. Soja enche o prato ao gerar renda direta no campo. Soja pode encher o prato até mesmo de quem jamais viu um grãozinho disso, mas que está envolvido na cadeia de produção de, digamos, tintas ou colchões.
Soja enche o prato inclusive do publicitário trans de cabelo azul que promove pautas ultraprogressistas para um banco no qual o sojicultor tem conta. Será que ele não se dá conta disso ou faz questão de não ver mesmo?
Por fim, permeia o discurso estúpido da esquerda a luta de classes entre o grande e o pequeno produtor. Como se todos os pequenos produtores plantassem hoje a mandioca que consumirão amanhã e fossem donos de uns três ou quatros pés de milho para dar de comer às galinhas no fundo da casa de taipa. Porque lhe convém, a esquerda ignora a prosperidade do agronegócio como um todo, que inclui não só os produtores em escala industrial, mas também os pequenos produtores dos cinturões verdes das metrópoles.
Antinatural
É uma relação de pura perversidade ilógica, a da esquerda com a agricultura e, por extensão, a fome. Não à toa, as grandes fomes do século XX assolaram sobretudo países comunistas. E justamente porque os comunistas viam nos produtores de alimentos os grandes inimigos de suas revoluções. A visão de mundo do MST, essa que a esquerda antirruralista adora promover, matou 10 milhões de pessoas na Ucrânia da década de 1930. Dez milhões. Isso num dos países que tem um dos solos mais férteis da Europa.
Acredito que uma explicação para o ódio que a esquerda nutre por tudo o que esteja ligado à agricultura possa estar no fato de o comunismo ser essencialmente antinatural. As ideias coletivistas são fruto de um intelectualismo urbano que se apoia na arrogância antropocêntrica de ver o homem como um ente capaz de controlar todos os aspectos da atividade humana. Ao passo que a própria atividade agrícola, por mais tecnologia que ela absorva, não tem como fugir de certos aspectos inerentemente naturais.
Não há nada mais natural do que depositar uma semente no solo para, dali a alguns meses, colhê-la. E poucas coisas são mais nobres do que saciar a fome alheia. O fato de haver lucro envolvido nessa atividade não a torna menos nobre. Isso é algo que os terroristas e ideólogos da esquerda são incapazes de perceber.