Alexandre de Moraes, também conhecido como “A Lei”: arbítrio, vingança e crueldade.| Foto: Antonio Augusto/STF
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Em poucos dias, enquanto estávamos distraídos com Olimpíadas e a ditadura venezuelana, Alexandre de Moraes, individualmente ou em conluio com os demais ministros do STF, tomou uma série de decisões que passam longe da Justiça e transbordam arbítrio, vingança e crueldade.

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São decisões que, em outro tempo, um tempo que não tivesse normalizado a perversidade suprema, causariam ultraje até mesmo no mais parvo dos senadores. Decisões que, antigamente, quando a busca pela verdade era o norte da imprensa, se traduziriam em furiosos editoriais lidos pela inconfundível voz de William Bonner. Decisões que, se não estivéssemos tão viciados no conforto da indignação virtual, já teria nos levado às ruas.

Decisões como a que separou Debora Rodrigues dos Santos de seus filhos pequenos. Como a que negou a retirada da tornozeleira eletrônica para que uma mulher com câncer se tratasse. Como a que condenou a 17 anos de prisão uma senhora de 67 anos. (Três mulheres. Cadê as feministas?). E como a que impôs, na prática, prisão domiciliar a Filipe Martins – uma pena sem condenação.

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“Até quando?!”, você me pergunta e eu te respondo: se ninguém fizer nada, pelo menos até 2043 – quando, teoricamente, Alexandre de Moraes terá de se aposentar. Aliás, agradeço a pergunta indignada porque vou aproveitar para cobrar uma série de autoridades que, diante das evidentes crueldades e ilegalidades de Moraes et caterva, têm optado pela omissão, conivência e covardia.

Homem Aranha

Antes de continuar, porém, permita-me esclarecer que não estou cobrando heroísmo de todo mundo. Estou cobrando algum tipo de heroísmo de personalidades que ocupam posições de prestígio ou poder. Posições às quais essas pessoas chegaram voluntariamente, sabendo que, ao menos em teoria, teriam que cumprir certos deveres em troca dos rapapés e privilégios. Como é que dizia o tio do Homem Aranha mesmo? Pois é.

Ninguém. Faz. Nada.

Pensemos, por exemplo, nos advogados e magistrados das instâncias inferiores. Será que não existe um único causídico ou juiz que não se sinta cotidianamente aviltado pelas decisões de Moraes? E, sim, sei que a OAB e o CNJ se tornaram órgãos auxiliares do Estado repressor. Assim como sei que uma andorinha só não faz verão. Mas aí é que está: onde estão os homens dispostos ao martírio, ao sofrimento, aos obstáculos, à luta renhida que é a marca dos grandes homens?

Cadê a turma dos direitos humanos? E, antes que você ria da minha cara por causa da pergunta ingênua, vou confessar aqui que fui daqueles que defendeu esse pessoal, porque me recusava a acreditar que fossem todos farinha do mesmo saco. Será que não há um só militante dos direitos humanos disposto a provar que seus detratores estão errados quando dizem que eles só querem proteger bandido e terrorista de esquerda?

Por falar em direitos humanos, onde estão os sacerdotes – que, independentemente de sua posição política, deveriam zelar pela dignidade humana? Deveriam proteger os fracos e oprimidos. Ou será que uma idosa de 67 anos não é fraca e oprimida o bastante? Que tal a mulher com câncer? E a mãe separada dos filhos? Será que não há um único sacerdote disposto a um sacrifício piedoso ou um enfrentamento sincero?

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Cadê o líder da direita?

Por fim, onde está “o maior líder da direita de todos os tempos” e, sejamos honestíssimos, o motivo para essas pessoas estarem sendo presas e torturadas? Ele está se articulando politicamente para eleger um prefeito “conservador” em Piraporinha do Oeste? Está mais preocupado em cuidar da própria pele e da dos filhos? Ou está usando seu imenso e inegável capital político junto a deputados e senadores para enfrentar, aqui e agora, o poder infinito daquele que um dia Bolsonaro já chamou de “canalha” na Avenida Paulista?

Pergunta retórica, claro. Porque, desde o dia em que divulgou a Declaração à Nação intermediada pelo ex-presidente Michel Temer, ficou claro que Jair Bolsonaro se recusa a enfrentar de peito aberto a guerra que começou. Pior: ficou claro que Bolsonaro não está nem aí para aquelas pessoas que foram presas por acreditarem nele e no que ele representava – o que quer que seja.