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Para os ambientalistas, Salles não pode ver uma plantinha viva que já sai correndo para destruir tudo.
Para os ambientalistas, Salles não pode ver uma plantinha viva que já sai correndo para destruir tudo.| Foto: Pixabay

Não conheço o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. E, no entanto, parece que o conheço há muito, muito tempo, desde que ele figurava nas histórias dos irmãos Grimm. Aparentemente, não existe figura mais detestável e mais abjeta na já detestável e abjeta administração de Jair Bolsonaro. A julgar pelo noticiário, Salles quer transformar o Brasil ou num Saara ou num imenso depósito de lixo tóxico.

Ontem (28), por exemplo, o ministro que, sozinho ou com a ajuda de maldosos agricultores, a depender da narrativa, está conseguindo acabar com a Amazônia e o Pantanal, cometeu mais um pecado imperdoável para os ecofundamentalistas. Com apenas uma canetada destruidora e cruel, Salles extinguiu duas resoluções que delimitam as áreas de proteção permanente de manguezais e de restingas do litoral brasileiro. Uau!

A notícia foi dada com o estardalhaço catastrofista de sempre, como se Salles fosse um arqui-inimigo da natureza que odiasse manguezais e restingas (além da Amazônia e do Pantanal). Como se ele fosse dormir e acordasse pensando uma única pergunta, que faz olhando para a câmera, de tapa-olho e tudo, enquanto acaricia um gato branco: o que posso fazer para destruir o pouco de verde que resta neste meu Brasil varonil?

Li as notícias, escritas naquele tom desesperado de quem antropomorfiza até os deliciosos caranguejos dos manguezais antes de colocá-los na água fervente e consumi-los acompanhados de uma cerveja bem gelada, com a desconfiança de sempre. E não me decepcionei. Elas continham tudo o que se espera de uma notícia dada por pessoas que não veem nada de bom das outras, isto é, "denúncia" que mais parece birra e especulação anticapitalista.

As notícias davam a entender que Salles, o Réprobo, extinguiu a regulamentação ambiental porque quer passar o correntão nas áreas de restinga e transformar tudo num grande empreendimento imobiliário para ricaços desfrutarem do camarão-pistola produzido nos mangues. Imagine assim uma Jurerê Internacional que vá do Chuí ao Oiapoque, com banqueiros de cartola acendendo charutos com notas de R$200 e servidos por escravizados membros do Greenpeace. Imaginou? Para os ecocatastrofistas, é exatamente este o projeto do ministro caranguejófobo.

Aí você vai dar uma olhada melhor no que de fato aconteceu e descobre que as resoluções foram eliminadas porque faziam parte de uma legislação que ficou obsoleta com o Código Florestal de 2012, aprovado quando a ministra do Meio Ambiente era a bióloga Izabella Teixeira e a presidente era Dilma Rousseff. Teixeira, aliás, hoje é copresidente do Painel de Recursos Naturais da ONU e uma crítica das políticas de Salles. Agora basta unir os pontos.

É muito próprio de uma geração formada por filmes da Marvel ver o mundo sob a ótica maniqueísta e infantilóide do super-herói contra o supervilão. Mas o mundo não é um filme da Marvel e as pessoas não são encarnações do Bem ou do Mal absolutos. Elas tampouco querem transformar a Amazônia num grande estacionamento nem destruir toda a Humanidade com um míssil ultra-atômico instalado dentro de um vulcão, numa ilha remota do Pacífico.

Ou, falando uma linguagem mais apropriada para a petizada (não confundir com petezada) da Geração Raudério, Ricardo Salles não é o lobo-guará mau desta história. Ele é, no máximo, o porquinho da casa mais frágil e preguiçosa, lutando um tanto quanto erraticamente para impedir que os ambientalistas transformem o Brasil num território de florestas intocadas, rios transparentes, praias imaculadas, com onças ronronando e predadores e presas vivendo em harmonia perfeita. E pobre - insuperável e irremediavelmente pobre.

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