Não conheço o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. E, no entanto, parece que o conheço há muito, muito tempo, desde que ele figurava nas histórias dos irmãos Grimm. Aparentemente, não existe figura mais detestável e mais abjeta na já detestável e abjeta administração de Jair Bolsonaro. A julgar pelo noticiário, Salles quer transformar o Brasil ou num Saara ou num imenso depósito de lixo tóxico.
Ontem (28), por exemplo, o ministro que, sozinho ou com a ajuda de maldosos agricultores, a depender da narrativa, está conseguindo acabar com a Amazônia e o Pantanal, cometeu mais um pecado imperdoável para os ecofundamentalistas. Com apenas uma canetada destruidora e cruel, Salles extinguiu duas resoluções que delimitam as áreas de proteção permanente de manguezais e de restingas do litoral brasileiro. Uau!
A notícia foi dada com o estardalhaço catastrofista de sempre, como se Salles fosse um arqui-inimigo da natureza que odiasse manguezais e restingas (além da Amazônia e do Pantanal). Como se ele fosse dormir e acordasse pensando uma única pergunta, que faz olhando para a câmera, de tapa-olho e tudo, enquanto acaricia um gato branco: o que posso fazer para destruir o pouco de verde que resta neste meu Brasil varonil?
Li as notícias, escritas naquele tom desesperado de quem antropomorfiza até os deliciosos caranguejos dos manguezais antes de colocá-los na água fervente e consumi-los acompanhados de uma cerveja bem gelada, com a desconfiança de sempre. E não me decepcionei. Elas continham tudo o que se espera de uma notícia dada por pessoas que não veem nada de bom das outras, isto é, "denúncia" que mais parece birra e especulação anticapitalista.
As notícias davam a entender que Salles, o Réprobo, extinguiu a regulamentação ambiental porque quer passar o correntão nas áreas de restinga e transformar tudo num grande empreendimento imobiliário para ricaços desfrutarem do camarão-pistola produzido nos mangues. Imagine assim uma Jurerê Internacional que vá do Chuí ao Oiapoque, com banqueiros de cartola acendendo charutos com notas de R$200 e servidos por escravizados membros do Greenpeace. Imaginou? Para os ecocatastrofistas, é exatamente este o projeto do ministro caranguejófobo.
Aí você vai dar uma olhada melhor no que de fato aconteceu e descobre que as resoluções foram eliminadas porque faziam parte de uma legislação que ficou obsoleta com o Código Florestal de 2012, aprovado quando a ministra do Meio Ambiente era a bióloga Izabella Teixeira e a presidente era Dilma Rousseff. Teixeira, aliás, hoje é copresidente do Painel de Recursos Naturais da ONU e uma crítica das políticas de Salles. Agora basta unir os pontos.
É muito próprio de uma geração formada por filmes da Marvel ver o mundo sob a ótica maniqueísta e infantilóide do super-herói contra o supervilão. Mas o mundo não é um filme da Marvel e as pessoas não são encarnações do Bem ou do Mal absolutos. Elas tampouco querem transformar a Amazônia num grande estacionamento nem destruir toda a Humanidade com um míssil ultra-atômico instalado dentro de um vulcão, numa ilha remota do Pacífico.
Ou, falando uma linguagem mais apropriada para a petizada (não confundir com petezada) da Geração Raudério, Ricardo Salles não é o lobo-guará mau desta história. Ele é, no máximo, o porquinho da casa mais frágil e preguiçosa, lutando um tanto quanto erraticamente para impedir que os ambientalistas transformem o Brasil num território de florestas intocadas, rios transparentes, praias imaculadas, com onças ronronando e predadores e presas vivendo em harmonia perfeita. E pobre - insuperável e irremediavelmente pobre.
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